quarta-feira, 13 de março de 2013

Corte de imposto da cesta básica leva mercado a reduzir projeção de inflação


Enquanto consultorias dizem que desoneração abre espaço para alta do preço da gasolina, governo tenta evitar elevação dos juros 
BRASÍLIA - Quatro dias depois de o governo ter anunciado desoneração de PIS/Cofins de oito itens da cesta básica, consultorias privadas cortaram em até 0,3 ponto porcentual a previsão de inflação para este ano. A possibilidade de um novo reajuste no preço da gasolina para o segundo semestre também ganhou força, dizem os consultores.
A concessão de um novo reajuste para a gasolina está em estudo no governo, e o espaço aberto no IPCA deu força aos integrantes da equipe econômica que defendem a ação como forma de fortalecer a Petrobrás. O reajuste que baliza os trabalhos do governo é de 6%, mas não há decisão quanto ao porcentual e o momento da elevação. Segundo apurou o Estado, o cenário mais provável é de um reajuste na gasolina no segundo semestre.Já o governo federal estima a redução em 0,6 ponto porcentual e quer usar a trégua na inflação para evitar uma elevação na taxa de juros. Os técnicos do governo avaliam que a economia está próxima de acelerar, e uma alta nos juros pelo Banco Central poderia desarmar as expectativas otimistas.
Previsões. Nesta terça-feira, três consultorias apresentaram suas novas previsões para a inflação. A LCA reduziu de 5,44% para 5,30% a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2013. A Tendências revisou de 5,8% para 5,6% e a Rosenberg, de 5,8% para 5,5%.
Os cálculos levam em conta um repasse parcial para o consumidor do corte de impostos nos oito itens da cesta básica. Entre carnes, açúcar, café, óleo de soja, manteiga, creme dental, papel higiênico e sabonete, o governo espera uma redução de 0,6 ponto porcentual na inflação de 2013.
Fábio Romão, economista da LCA, calcula que, desse total, dois terços serão repassados aos preços. Com isso, a desoneração da cesta deve retirar 0,41 ponto porcentual da inflação. "Esperávamos um IPCA de 0,47% para este mês e agora projetamos 0,35%." A expectativa menor de inflação para março reduziu o risco de estouro do teto da meta de 6,5% em 12 meses. "Talvez, por isso, a medida provisória de desoneração tenha sido antecipada de maio para março."
Até fevereiro, o IPCA em 12 meses acumula 6,31%. Com o IPCA esperado de 0,47% para este mês, o acumulado em 12 meses seria de 6,59% até março. Agora, com a nova projeção para março de 0,35%, o IPCA deve ser um pouco menor: 6,46%.
Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências, projeta impacto negativo da desoneração no IPCA de 0,45 ponto porcentual e considera nas suas novas projeções um dado importante: o custo das usinas termoelétricas não será repassado para o consumidor. Segundo Alessandra, o cenário da inflação em 12 meses ficou ligeiramente melhor depois da MP. Antes, ela projetava uma inflação acumulada em 12 meses de 6,79% para este mês. Agora prevê 6,49%.
Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores, projeta redução entre 0,3 e 0,4 ponto porcentual no IPCA por causa da renúncia fiscal. Porém, ela não acredita que o pior já tenha passado. Para Thaís, junho será o mês com maior possibilidade de o teto da meta de inflação ser ultrapassado em 12 meses. "É verdade que esse risco diminuiu por causa da redução dos impostos, mas persiste porque estão previstos reajustes das tarifas de transportes em São Paulo e no Rio."
É consenso entre os economistas que a decisão do governo de retirar impostos de itens básicos abriu espaço a um novo reajuste da gasolina. "A situação da Petrobrás é muito complicada", diz Thaís. "Deve ocorrer um novo aumento da gasolina, da ordem de 5%, no segundo semestre", prevê Romão. Nas sua contas, o impacto seria de 0,23 ponto porcentual, somado a 0,06 ponto do etanol, que vai de carona por causa da mistura na gasolina.
"Além disso, tem o impacto do reajuste do diesel, que já ocorreu", diz o economista. Entre diesel, gasolina e etanol, ele projeta alta de 0,4 ponto na inflação do ano, quase a mesma variação da queda na cesta básica. A diferença viria do câmbio desvalorizado e do reflexo negativo de 0,1 ponto porcentual no IPCA.
Márcia De Chiara e João Villaverde, de O Estado de S. Paulo

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