domingo, 17 de março de 2013

Inflação dos alimentos preocupa analistas


Governo está preocupado porque a inflação de alimentos tem rodado na casa de 12%

Importantes economistas consultados um dia antes da divulgação da ata da reunião do Copom que manteve a taxa básica de juros em 7,25% ao ano, concordam que a trajetória inflacionária no País é preocupante, mas discordam no que diz respeito à necessidade de o Banco Central elevar a Selic já em abril. No mercado de juro futuro, a percepção dos analistas de que o aumento da Selic será em abril ganhou mais força depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, suprimiu de seu discurso feito no BC da Polônia a parte em que vinha demonstrando confiança de que a inflação desaceleraria a partir do segundo semestre.

Até então, a autoridade monetária vinha dizendo que confiava na desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e na sua convergência para a meta na segunda metade de 2013, estimulada pela queda dos preços dos alimentos em resposta a uma safra recorde de grãos e manutenção da taxa de câmbio ao redor de R$ 2,00. O discurso foi mudado em concordância com a supressão do comunicado que se seguiu ao término da reunião do Copom, na última quarta-feira, da expressão "por período de tempo suficientemente prolongado".

Para o ex-diretor de Política Monetária do BC e atual presidente da Fator Seguradora, Luís Eduardo Assis, Tombini mudou o discurso porque o mundo mudou e o cenário que existia em meados do ano passado não mais existe. "Ao mesmo tempo, eles (BC) promoveram uma forte redução de juros e desvalorização cambial de 20% e a inflação continua subindo", diz Assis. O fato, de acordo com ele, é que a inflação hoje é a maior preocupação do governo e o raio de manobra para tomar medidas é pequeno. "Essas desonerações tributárias têm efeito pequeno e temporário", critica.

De acordo com o presidente da Fator Seguradora, o governo tem razão de estar preocupado porque a inflação de alimentos tem rodado na casa de 12%, bem acima da inflação média. "Esse é o tipo de inflação que pega em cheio na faixa de renda baixa, que é a base política do governo". 
Segundo Assis, o BC terá que elevar a taxa de juros de 0,25 ponto porcentual a 0,50 ponto já no Copom de abril. "Eles vão fazer o máximo para subir o mínimo, mas a subida é inevitável porque o timing é perverso. Se estivéssemos a pouco tempo da eleição, talvez eles não subissem a taxa de juros. Mas a combinação é muito ruim", diagnostica o ex-BC, acrescentando que daqui a pouco chegarão os aumentos de combustíveis e ônibus.

Sócio-diretor da Rosenberg & Associados, o economista José Augusto Arantes Savasini diz que não vai ter jeito. "O Copom vai ter que elevar a taxa de juros já em abril. Se não fizerem isso agora vai estourar em 2014, ano de eleição. Se eles não aumentarem a Selic em abril me ligue de volta e me cobre", desafia o economista, de 70 anos, que também já foi diretor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e funcionário do Ministério da Fazenda na área de acompanhamento de preços.

A avaliação de Savasini é a de que, no curto prazo, a desoneração da cesta básica surtirá algum efeito na inflação. A Rosenberg trabalha com o IPCA fechando este ano em 5,8%. "Mas os preços dos fretes para o transporte da safra de grãos sofreram fortes altas. De umas cidades para outras chegaram a subir mais de 50%. Isso vai afetar todos os preços dos alimentos", prevê o diretor da Rosenberg & Associados. "E agora vem vocês do Estadão dizendo que o preço da gasolina poderá subir mais 5%", diz, numa referência à reportagem de O Estado de S. Paulo, segundo a qual o preço do combustível poderá voltar a ser reajustado.

Já para o primeiro vice-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Fernando de Castro, o BC deverá aumentar a Selic em 0,50 ponto porcentual para 7,75% ao ano, mas só a partir do segundo semestre. Para ele, no curto prazo o governo continuará preferindo frear a inflação de forma não monetária. "Por isso estão mexendo com cesta básica, com coisas assim. Não vejo uma razão sólida para eles aumentarem a Selic porque, normalmente, a política de juros é para controlar a inflação. E eles estão atacando a inflação com outras medidas", diz. "Eu acho que a postura de curto prazo do BC vai ser mais de expectativa para verificar se estas medidas de fato surtem efeito", avalia Castro.
 
Estável 
O economista-chefe da Siemens do Brasil e professor de economia da PUC-SP, Antônio Correa de Lacerda, discorda que o BC elevará a Selic em abril. Ele trabalha com a taxa estável em 7,25% ao ano ao longo de 2013. "A origem da pressão inflacionária tem endereço certo. Ela é de alimentos, especialmente da parte agrícola, e serviços. E para corrigir isso com juros, teria que dar uma paulada na Selic porque, na verdade, os juros não atingem diretamente estes preços. Teria que dar uma pancada para atingir os comercializáveis. E com isso derrubar via câmbio", explica.

Aumentar juros, para Lacerda, seria repetir uma política adotada por um certo tempo e que o governo já tinha alterado recentemente. "Aliás, eu continuo convicto que esta política mudou e que o governo não vai usar estes instrumentos para combater a inflação. Nem câmbio e nem juros. Claro que não vai ser um câmbio de R$ 2,50, mas não vai ser de R$ 1,50. Deve ficar por volta de R$ 2,00", prevê o economista da Siemens.

De acordo com Lacerda, não há como a inflação chegar ao centro da meta (4,5%), mas que 5,5% de inflação neste ano é plenamente factível. "Não seria o ideal, mas também não seria nenhum desastre. A média dos países em desenvolvimento está em 5%. Então estaríamos um pouco acima da média dos países que tem problemas semelhantes aos do Brasil. São países que estão tendo mudança no perfil da população, com emergência da classe C, com aumento do consumo de produtos agrícolas e serviços", diz o economista.

"O que eu acho que o governo deveria fazer, avançando na agenda de redução do custo Brasil, era avançar também no processo de desindexação, porque é ainda um perpetuador da inflação. Nós temos este vício da indexação, ainda mais porque é uma indexação pelo IGP-M, um indicador que traz um componente de preço de atacado muito alto e que acaba sendo repassado para tarifas e contratos", afirma. "Por isso, insisto que a solução do problema não deveria ser por medidas monetárias e cambiais, mas por solução de problemas estruturais, redução do custo Brasil, recuperação da competitividade e desindexação." (Francisco Carlos de Assis/AE)
As informações são do Jornal Cruzeiro do Sul.

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