sábado, 31 de agosto de 2013

Economista que previu crise nos EUA suspeita de bolha no Brasil

O economista e professor da Universidade Yale, Robert Shiller, ficou conhecido por ter previsto a crise no setor imobiliário dos EUA. Em entrevista ao site de VEJA, ele comenta que há indícios de formação artificial de preços também no Brasil

Talita Fernandes
Robert Shiller, economista e professor da Universidade de Yale
Robert Shiller, economista e professor da Universidade de Yale (Moritz Hager/World Economic Forum)
Cerca de três anos antes de o banco de investimentos Lehman Brothers anunciar a falência, em setembro de 2008, o renomado economista Robert Shiller, professor da Universidade Yale, já previa que a economia dos Estados Unidos poderia entrar em colapso. A crise prevista por Shiller, no entanto, não se referia à quebra do banco em si, mas à formação de uma "bolha" no mercado imobiliário dos EUA. Mas a queda do Lehman foi a agulha que estourou a crise financeira americana, que deixou consequências até os dias de hoje.
O termo "bolha" tem sido usado amplamente para designar uma situação em que os preços de determinado setor inflam fortemente sem qualquer sustentação. Esse valor artificial só é percebido quando os preços caem. É, literalmente, como uma bolha de sabão, sensível a qualquer movimento mais forte.
Em entrevista ao site de VEJA, Shiller explica que o termo "bolha" é uma metáfora infeliz por parecer algo que se rompe repentinamente. Para ele, uma "bolha" é, na verdade, algo cíclico que pode inflar e desinflar ao longo do tempo - algo mais parecido com uma bexiga.
reconhecimento ao trabalho de Shiller está no índice Standard and Poor's Case/Shiller, que serve de referência para os preços do mercado imobiliário dos EUA. Sobre a situação brasileira, o economista explica que "há indícios" da formação de uma "bolha" no mercado de imóveis. Ele diz que o Banco Central poderia atuar, ainda que tardiamente, para evitar consequências mais graves de uma forte alta dos preços dos imóveis. Neste sábado, Shiller estará no Brasil, onde participa do 6º Congresso Internacional de Mercado Financeiro e de Capitais, organizado pela BM&FBovespa, em Campos do Jordão. Confira trechos da entrevista:
Desde a crise imobiliária dos EUA, o termo “bolha” tem sido usado para designar inúmeros males econômicos. Como o senhor define esse conceito? 
Eu acho que a metáfora “bolha” vem de 1720, do mercado europeu, de um episódio que ficou conhecido como a “bolha de Mississipi”. A metáfora sugere que se trata de uma explosão repentina. As bolhas de sabão vão crescendo até estourarem de forma catastrófica. É uma metáfora infeliz porque, na economia, as bolhas geralmente não estouram de repente. Na verdade, elas podem encolher durante um longo período de tempo. A bolha dos preços dos imóveis no Japão, que se formou nos anos 1980 e que teve seu pico no começo de 1999 está desinflando até hoje, por exemplo. Ela está perdendo tamanho há vinte anos. Eu acredito que as bolhas sejam formadas por fenômenos sociológicos, elas são criadas pelos pensamentos das pessoas. E o pensamento não muda da noite do para o dia. Os movimentos repentinos no mercado financeiro acontecem tanto para cima quanto para baixo. Por exemplo, o mercado financeiro dos Estados Unidos teve uma tendência de queda entre 1929 e 1932, foram quase três anos de queda. Mas isso não quer dizer que de repente ele estourou.
É possível prever o momento da contração da bolha?
Nos Estados Unidos, por exemplo, isso aconteceu em 2005, ou seja, três anos antes da crise do Lehman Brothers. A crise do Lehman Brothers foi um efeito colateral da crise imobiliária. Eu tentei voltar para 2005 para analisar o que mudou de lá para cá. O que eu vejo que mudou é que as pessoas aprenderam a palavra “bolha”. Elas nem sabiam o que significava até então. Eu sei disso porque eu fiz pesquisas com perguntas diretas às pessoas. Por volta de 2003, por exemplo, ninguém havia mencionado a palavra “bolha”. O que todos diziam é que “imóvel era o melhor investimento”. Depois da crise dos anos 2000 ficou a impressão de que os imóveis não são bons investimentos, mas eles são, porque as pessoas sempre vão querer moradia. O que as pessoas não percebem é que se os preços sobem um dia eles caem.

No Brasil, o senhor acredita que exista uma bolha no mercado imobiliário causada pelos estímulos ao crédito?
Analisando os indicadores de preços de imóveis do Brasil pode-se perceber que os preços vêm dobrando. Eu suspeito que haja a formação de uma bolha.  Uma boa evidência é comparar sempre os preços do imóvel com o do aluguel. Nos Estados Unidos, por exemplo, os imóveis tiveram alta a um ritmo mais avançado do que o dos aluguéis. Eu não pude ver os preços dos aluguéis no Brasil, mas acredito que isso esteja acontecendo também. Isso é crítico porque não é que de repente as pessoas queiram consumir mais casas, mas esse apetite pelas compras é motivado pelo investimento. Isso é um problema. Meu temor é porque as pessoas agora estão tomando empréstimos para comprar imóveis. Se os preços entrarem em colapso, vai incorrer no mesmo tipo de problema que tivemos nos Estados Unidos. Isso pode ser convertido em uma recessão. 
O que pode ser feito para evitar esse cenário? O governo tem poder para impedir?
O governo deveria se manifestar contra a formação de bolha, eles precisam acreditar que trata-se de uma bolha. E ele deveria fazer um aperto na oferta de crédito. Também pode-se fazer uma legislação que puna a oferta irresponsável de crédito. Uma outra medida interessante é contratar mais reguladores. A regulação é custosa, você não pode fazê-la de uma forma crua. É preciso saber quem é o emprestador responsável e quem não é. Isso se descobre com investigação e isso é custoso.
Esta semana o Fundo Monetário Internacional emitiu um relatório que recomenda que os bancos públicos brasileiros diminuam o ritmo de concessão de crédito. Qual sua opinião sobre isso, pensando no impacto no mercado imobiliário?
O banco de Israel fez isso. Eles estavam criando uma bolha imobiliária. Na China, as autoridades criaram barreiras para evitar a compra do segundo imóvel, por exemplo.
O que acontece para que se forme uma bolha é o fato de as pessoas se apressarem para comprar até cinco casas, elas querem comprar quanto for possível. Foi isso o que aconteceu nos Estados Unidos, a compra do segundo imóvel cresceu substancialmente. Isso é um problema, se muitos compram mais de um imóvel, os preços sobem.
Nossa situação é também um pouco diferente, há um déficit de moradias...
É difícil explicar isso porque eu teria que analisar a situação do Brasil.
Uma regulação mais rígida pode evitar que uma bolha seja criada?
É difícil evitar isso completamente. O problema é que sempre tem alguém que nega a existência de uma bolha. Eu estava muito atento a isso na formação da bolha norte-americana. Eu tentei debater com as pessoas a existência de uma bolha em 2005 e 2006. Algumas dessas discussões foram televisionadas em um programa da CNBC. Isso foi em 2005. Eu discuti com economistas que escreveram longos artigos que tinham tabelas e estatísticas, ridicularizando a existência de bolhas. Eu tive dificuldade para vencer os argumentos deles. Isso porque é difícil provar uma bolha. 


Como se prova que há uma bolha?
É difícil, mas se você conseguir prová-la é possível também colocar fim. As pessoas têm a impressão de que a alta dos preços é um avanço da economia, e que isso vai tornar as pessoas mais ricas, mas elas não têm noção das estatísticas. Isso não é a verdade. Pode-se observar, por exemplo, a evolução dos preços dos imóveis em comparação com a evolução dos preços dos aluguéis, que deveriam aumentar na mesma proporção. Uma diferença é um indicativo de bolha. Se for feita a correção com a inflação, os preços deveriam ficar quase que estáveis. Eu peguei dados no intervalo de 100 anos nos Estados Unidos dos preços dos aluguéis e os preços caíram em vez de aumentar. Além disso, nossa economia tornou-se mais eficiente, nossa forma de construção também, isso barateia o custo de construção e os preços deveriam ser menores.

O Brasil vive uma situação de “bolha” do consumo?
O Brasil teve um “turning point” na década de 1990 com o controle inflacionário. Mesmo hoje, a inflação no país é moderada. Sobre o crescimento, o que aconteceu com o Brasil foi o mesmo que aconteceu com a China e com todos os Brics. Houve um sentimento de “milagre”. Eu acho que essa ideia de milagre desses países como China, Brasil, Rússia e Índia se espalhou pelo mundo. Mas esse tipo de milagre não dura para sempre, ele acaba mais cedo do que se espera.  No meu livro “Espírito Animal”, eu digo que a confiança não é um fator exógeno. Mas que ela é conduzida, substancialmente, por histórias da mente humana, a capacidade do cérebro humano de armazenar as boas histórias. Eu não sei como analisar o Brasil, não faz parte da minha realidade. O que eu me lembro é da vitória do presidente Lula, cuja eleição trouxe medo para muitos, mas ele acabou se tornando pragmático na economia e isso trouxe confiança às pessoas.
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Álcool é detectado em carga de leite cru de empresa no RS

Cerca de 33,5 mil litros foram industrializados; A BRF garante que 'nenhum consumidor teve acesso a qualquer produto com padrão de qualidade alterado'


VENILSON FERREIRA - O Estado de S. Paulo
A Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor em Porto Alegre (RS) afirmou nesta sexta-feira, 30, que recebeu do Ministério da Agricultura documentação que mostra a detecção de álcool etílico em carga de leite cru refrigerado processado pela BRF S.A. De acordo com a promotoria, o produto contaminado foi recebido no dia 5 de agosto pela unidade da empresa localizada em Teutônia. A carga, de aproximadamente 33,5 mil litros, foi industrializada e os produtos, postos no mercado para consumo.
Em nota, A BRF garante que "nenhum consumidor teve acesso a qualquer produto com padrão de qualidade alterado, considerando-se a possibilidade de não conformidade na matéria-prima".
A Promotoria afirmou que a BRF S.A. comunicará, formalmente, ao Ministério da Agricultura em quais produtos usou o leite em que houve detecção de álcool. "Contudo, o órgão fiscalizador já determinou o recolhimento cautelar dos lotes industrializados a partir do referido produto, com ampla divulgação na imprensa sobre as medidas que estão sendo adotadas", diz a Promotoria.
Os promotores também pediram informações à empresa a fim de avaliar se houve ou não descumprimento do termo de ajustamento de conduta (TAC) celebrado, recentemente, com a BRF, "podendo, em caso positivo, haver a incidência das multas previstas no TAC". O promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho ressalta que, independentemente da fiscalização feita pelo Ministério da Agricultura, "é de responsabilidade das indústrias de laticínios analisar, previamente, o leite cru e, constatando a sua inconformidade, rejeitá-lo, impedindo que chegue ao mercado de consumo".
Em Brasília, o ministério ainda aguarda as informações da fiscalização feita no Rio Grande do Sul. Os fiscais federais estão em greve geral desde esta quinta-feira, 29, e neste sábado, 31, retomam a operação-padrão iniciada no dia 16, com atendimento apenas aos casos de emergência. Eles protestam contra a indicação de profissionais de fora do quadro dos servidores para comandar a Secretaria de Defesa Agropecuária.
Esclarecimento. A BRF divulgou nota de esclarecimento sobre a informação da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Porto Alegre em relação a presença de álcool etílico em carga de leite cru refrigerado, processado por unidade da empresa localizada em Teutônia (RS). Segundo a BRF, tão logo foi informada pela fiscalização federal sobre a "possibilidade de desvio na matéria-prima, a unidade destinou o produto para desidratação (leite em pó), segregando a produção para que não fosse distribuída ao mercado de consumo".
A BRF garante que "nenhum consumidor teve acesso a qualquer produto com padrão de qualidade alterado, considerando-se a possibilidade de não conformidade na matéria-prima". Segundo a empresa, o fornecedor da matéria-prima em suposta não conformidade foi imediatamente afastado do quadro de transportadores.
As informações são do ESTADÃO

Médicos cubanos sabiam de plano do Brasil há seis meses

Antes do anúncio do acordo, profissionais que vieram trabalhar no país receberam aulas em Cuba com o mesmo conteúdo que está sendo passado no curso preparatório do Mais Médicos

Médicos cubanos chegam à Recife para integrar o programa do governo federal.
Médicos cubanos ao desembarcarem em Recife no último final de semana: profissionais já sabiam há meses da possibilidade de virem ao Brasil ( Matheus Brito/ Estadão Conteúdo )
Médicos cubanos recrutados para trabalhar no Brasil recebem aulas de português e informações sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) há pelo menos seis meses. Mesmo sem a formalização de um acordo, professores brasileiros, usando material didático do Mais Médicos, viajaram para diversas localidades de Cuba para iniciar a formação dos profissionais, em uma sinalização de que o governo há tempos trabalha com a meta de trazê-los para o país. "Agora é só revisão. Boa parte do conteúdo aprendemos lá", diz o médico Alfredo Rousseaux, que desembarcou semana passada em Brasília para participar do curso preparatório de três semanas. "Um dos professores daqui conheço de vista, já deu curso lá em Cuba.”
A apostila de português, distribuída nesta semana para os alunos com o logo do Mais Médicos, também já é conhecida de Rousseaux. "Os professores exibiam projeções com o mesmo conteúdo." Os amigos Veronico Gallardo, Marisel Velasquez Hernandez e Diego Correa também se preparam para a temporada no Brasil há meses. Desde o início do ano recebem uma formação específica, voltada para o trabalho que seria feito aqui no país.
Com domínio razoável de português, Gallardo afirma ter estudado bastante sobre problemas comuns na Região Norte, onde espera atuar. "Devo trabalhar no Amazonas." Já Rousseaux conta que todos estavam convictos de que o desembarque no Brasil seria questão de tempo. "Fui informado sobre a vinda mais ou menos 15 dias antes da viagem. Disseram que era para deixar tudo pronto."
Embora os médicos cubanos soubessem da possibilidade de virem ao Brasil há seis meses, o programa do governo federal estava em curso há mais tempo — cerca de um ano e meio antes de o Ministério da Saúde anunciar a contratação dos profissionais de Cuba. Foi o que disse o senador petista Humberto Costa, ex-ministro da Saúde, durante debate no programa Entre Aspas, da GloboNews. “Esse programa já vem sendo trabalhado há um ano e meio. Boa parte desses cubanos já trabalhou em países de língua portuguesa, não tem dificuldade com a língua. E, ao longo desse um ano e meio, eles vêm tendo conhecimento sobre o sistema de saúde no Brasil, doenças que existem aqui e não existem lá”, disse. 
Discrepância — O acordo entre Brasil e Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), organismo internacional encarregado de fazer a triangulação com o governo cubano, contudo, foi formalizado somente na quarta-feira da semana passada. Três dias depois, 400 dos 4.000 médicos desembarcaram no país. A rapidez no desfecho destoou com o restante do processo. A vinda dos médicos cubanos é cogitada há meses. O primeiro anúncio foi feito em maio pelo então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Na época, ele afirmou que 6.000 profissionais viriam de Cuba ao Brasil para trabalhar em locais com carência de médicos.
Diante da polêmica criada entre entidades médicas, o formato do programa foi alterado. Quando lançado oficialmente, no início de julho, o Mais Médicos deu preferência para profissionais formados no Brasil. Numa segunda chamada, viriam profissionais formados em outros países. Na época, o governo anunciou que não havia concluído as negociações com governo cubano.

Intercâmbio — Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que as aulas de professores brasileiros integram um projeto de intercâmbio com o governo de Cuba. Em troca dos conhecimentos repassados por cubanos sobre atenção básica, os professores brasileiros deram aulas sobre funcionamento do SUS. Já as aulas de português fariam parte da cooperação triangular Haiti-Cuba-Brasil.
(Com Estadão Conteúdo)

Jade e Cacau: as heroínas de quatro patas na tragédia de São Mateus

Os cães das raças pastor belga malinois e labrador ajudaram os bombeiros a encontrar vítima soterradas no prédio que desabou na Zona Leste de São Paulo

Mariana Zylberkan

















Logo após a retirada do décimo corpo dos escombros do prédio que desabou nesta terça-feira, na Zona Leste de São Paulo, Cacau, a cadela da raça labrador de um ano e meio de idade, teve seu momento de fama. Pela coleira, o cabo do Corpo de Bombeiros Gabriel Seuma a conduziu por uma fila de moradores que fizeram questão de agradecer aos bombeiros pela dedicação nas 56 horas de trabalho ininterruptas em meio à tragédia resultante de uma obra irregular. “Para ela, isso tudo é uma grande brincadeira”, disse Seuma, enquanto Cacau recebia carinhos de todos os lados e era alvo de cliques feitos por câmeras de celular. O momento emocionante marcou, nesta quinta-feira, o encerramento das buscas do Corpo de Bombeiros por mortos e sobreviventes na tragédia que deixou dez mortos e mais de vinte pessoas feridas.
Cacau é um dos sete cães farejadores de salvamento do Corpo de Bombeiros que atuaram no desabamento. A cadela estreante trabalhou em parceria com uma veterana em missões de resgate, a pastor belga malinois Jade, de 5 anos, que já colocou o focinho apurado em ação para buscar vítimas no deslizamento de terra provocado pelas chuvas em Santa Catarina, em 2008, e no desabamento do teto da Igreja Renascer, no bairro do Cambuci, em São Paulo, em 2009, entre outras ocorrências.
Juntas, Cacau e Jade formaram com Beck, pastora belga malinois de 3 anos, o trio de cães responsável por localizar cinco das vítimas mortas no soterramento de São Mateus. Completavam o time de salvadores caninos os labradores Gugol, Milka e Hanna e o pastor belga mallinois Vasty. Com audição e faro apuradíssimos, os animais conseguiam localizar as vítimas soterradas nos locais de mais difícil acesso.
Personalidade – O status de celebridade de Cacau não lembra em nada seu passado como cão problemático. Antes de ser treinada, a cadela pertencia a um capitão do Corpo de Bombeiros de São Paulo que não aguentou sua personalidade irrequieta em casa. A energia de sobra que enlouquecia seus antigos donos é uma das principais características que fazem um cão se tornar um bom farejador. Eles precisam estar sempre prontos para a ação, o que nem sempre acontece com animais de personalidade mais preguiçosa e com mais idade. Os cães farejadores se aposentam ao completar 7 anos.
Por causa de seu passado, Cacau já chegou com um nome ao canil do Corpo de Bombeiros, localizado no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. Geralmente, são os cabos-treinadores que escolhem o nome dos cães com os quais atuam. Jade, por exemplo, faz parte de uma longa linhagem de cadelas batizadas com nome de pedras preciosas pelo cabo Laércio Lelis, que já treinou Cristal, Safira e outras.  
Durante os quase três dias de buscas feitas pelo Corpo de Bombeiros, os cães esperavam sua vez de fazer a incursão pelos escombros dentro de uma van da corporação adaptada com isolamento acústico e gavetas para transportar os animais dentro de caixas com grades. Sob a mínima desconfiança dos bombeiros de estar perto de resgatar mais um corpo, era requisitada a ajuda dos cães; os que estivessem mais agitados nesse momento eram destacados.
Resgate – Sempre em grupos de três, acompanhados de seus instrutores, os animais percorriam o local por vinte minutos e, depois, descansavam por, pelo menos, 40 minutos. O tempo é importante para não comprometer a acuidade do faro do cachorro – se o limite for ultrapassado, eles começam a se confundir com os muitos cheiros presentes no ambiente.
Latidos e agitação são os sinais emitidos pelos cães farejadores quando detectam a presença de uma vítima. É quando um segundo cão é levado ao mesmo ponto: se tiver a mesma reação, os bombeiros começam as escavações. Como recompensa, Jade, Cacau e os demais cachorros de salvamento recebem carinho de seus treinadores e seu brinquedo preferido, no caso da veterana Jade, uma bolinha laranja que imita os movimento de um pombo. “Isso aguça o instinto de caça dela por pular de forma aleatória”, diz o cabo do Corpo de Bombeiros Laércio Lelis, treinador de Jade.
Nesta quinta-feira, Jade e Cacau estavam prontas para percorrer mais uma vez os escombros para, em vez de buscar corpos como nos dias anteriores, excluir partes do terreno onde não havia mais vítimas, quando o décimo e último operário foi tirado sem vida.
Missão cumprida em São Mateus, Cacau e Jade confraternizaram com os colegas de corporação no local da tragédia, apesar das insistentes provocações de alguns cães de rua que latiam contra suas presenças; um deles chegou a avançar contra Jade que se esquivou da mordida. “Ela é forte e sabe se defender sozinha”, disse seu treinador, o cabo do Corpo de Bombeiros Laércio Lelis.

Fêmeas têm preferência

Em geral, os adestradores de cães farejadores preferem treinar fêmeas em vez de machos. “Elas dão menos trabalho por não demarcarem território, como os machos, além de serem mais focadas no trabalho”, diz o cabo do Corpo de Bombeiros Laércio Lelis, treinador da labradora Jade. As raças labrador e pastor belga malinois são mais valorizadas nesse caso por serem de fácil trato. Os animais são escolhidos ainda filhotes, são treinados e se tornam aptos para procurar vítimas em cenas de desabamento ou deslizamento de terra após um ano e meio. Os treinamentos são realizados em locais que simulam os ambientes das ocorrências, como depósitos de carros abandonados e terrenos baldios.
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Uma crítica inteligente contra o governo federal

Prefeitura admite falha de fiscalização em prédio que desabou e apura propina

Documentos destacam embargo não cumprido e denúncia anônima sobre ‘acerto’ entre proprietário do imóvel e fiscais da Prefeitura

Artur Rodrigues
A Prefeitura de São Paulo investiga se fiscais receberam propina para ignorar irregularidades na obra do prédio que desabou e matou dez pessoas na última terça-feira em São Mateus, zona leste. Documentos mostram falhas na fiscalização e uma denúncia anônima, segundo a qual o proprietário teria feito "acerto" para a construção prosseguir.

Desabamento em obra matou dez pessoas em São Mateus, zona leste da Capital - Werther Santana/AE
Werther Santana/AE
Desabamento em obra matou dez pessoas em São Mateus, zona leste da Capital
"Dados os indícios de irregularidades que foram constatados em um exame superficial ainda, com base nos documentos do processo, decidimos remeter à Controladoria-Geral do Município para apurar eventuais responsabilidades", disse o prefeito Fernando Haddad (PT). O agente vistor Valdecir Galvani de Oliveira aplicou duas multas, no total de R$ 104.659, e embargou a obra em 25 de março. Um dia depois, foi feita a denúncia anônima no Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), que relatava corrupção e cobrava as autoridades. No dia seguinte, Oliveira imprimiu a denúncia e a anexou ao processo. Em 4 de abril, pediu exoneração do cargo, "sem que as providências fossem tomadas", segundo Haddad.
Após a constatação do desrespeito ao embargo, a fiscalização deveria ter registrado boletim de ocorrência na Polícia Civil, o que não foi feito. "O que tem é um despacho do supervisor técnico (Décio Soares de Lima), chefe dele (Oliveira), dizendo que naquele período de 30 dias (o embargo da obra) foi respeitado", afirmou o secretário das Subprefeituras, Chico Macena (PT). Após o despacho, não há nos autos nenhum indício de que tenha havido fiscalização. O local não tinha alvará de execução e pavimento a mais do que na planta apresentada. "E em junho, quando a obra foi totalmente indeferida, não consta dos autos fiscalização."
Investigação. A documentação foi encaminhada à Controladoria. O subprefeito de São Mateus, Fernando Elias Alves de Melo, será um dos ouvidos. A Prefeitura quer saber se alguém substituiu o fiscal que pediu exoneração e o motivo de a obra ter continuado após o embargo. O Estado não localizou Oliveira nem o supervisor Lima.
A Prefeitura afirmou que a segurança na obra seria de responsabilidade do proprietário, Mostafá Abdallah Mustafá, ou do responsável técnico, a arquiteta Rosana Ignácio Januário.
Procurado, o advogado de Mustafá não atendeu telefonemas nesta quinta-feira. Rosana também não foi localizada. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) disse que investiga a conduta dela. As plantas assinadas por Rosana têm só o térreo, mas a obra que desabou tinha dois pavimentos.
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Funcionários do McDonald's fazem greve e vão às ruas por melhores salários

Movimento já atinge 50 cidades americanas e tem como principal demanda o aumento de 100% nos salários pagos por hora aos trabalhadores de redes de fast-food

Funcionários fazem protesto por melhores salários em frente a um restaurante da rede de fast food McDonald's na Quinta Avenida em Nova York
Funcionários fazem protesto por melhores salários em frente ao McDonald's, em Nova York (Richard Drew/AP)
Milhares de funcionários do McDonald's e de outras redes de fast-food nos Estados Unidos entraram em greve nesta quinta-feira, pedindo melhores salários. De acordo com os organizadores da paralisação, trabalhadores em 50 cidades aderiram à greve reivindicando salário de 15 dólares por hora - o dobro do que a maioria deles recebe atualmente - e o direito de formar um sindicato sem ter retaliações. Há até mesmo um site criado para estimular a adesão de mais trabalhadores ao movimento.
Em comunicado, os organizadores disseram que esta é a maior paralisação já realizada no setor. O movimento teve início em novembro, em Nova York, com a adesão de 200 empregados, mas se espalhou rapidamente pelo país. Em julho, houve greves em Chicago, Detroit, Flint, Kansas City, Milwaukee e St. Louis.
O movimento iniciado nesta quinta-feira deve atingir cerca de mil lojas de outras redes de fast-food, além do McDonald's, como Burger King, Wendy's, Taco Bell, Pizza Hut e KFC. Muitos dos 3 milhões de funcionários do setor nos EUA não trabalham em período integral e não recebem gorjetas como funcionários de bares e restaurantes. Na greve anterior, em julho, o McDonald's disse que os contratos individuais de funcionários eram responsabilidade das franqueadas que operam mais de 80% dos restaurantes da rede no mundo todo. 
Quando as manifestações começaram, o McDonald's informou que não poderia dobrar os salários porque impactaria seus resultados e os dividendos pagos aos acionistas. A Universidade do Kansas fez as contas para uma reportagem do site Huffington Post: se o McDonald's dobrar o salário de todos os funcionários, incluindo o do CEO Don Thompson, que recebe aproximadamente 8,5 milhões de dólares por ano, os Big Macs teriam de custar 68 centavos a mais, aumentando de 3,99 dólares para 4,67 dólares.
Scott DeFife, porta-voz da National Restaurant Association (NRA, a associação das redes de restaurante dos EUA), afirmou que os aumentos são inviáveis porque as empresas já têm de lidar com os aumentos dos custos dos ingredientes e gastos com seguro de saúde dos funcionários, que é obrigatório.
O salário mínimo foi reajustado pela última vez em 2009, nos Estados Unidos, para 7,5 dólares por hora. Uma das brigas do presidente Barack Obama é conseguir aprovar no Congresso um aumento de 1,5 dólar por hora.
O McDonald's, rede mais afetada pelos protestos, registrou aumento de 3,7% no lucro do segundo trimestre, para 1,4 bilhão de dólares, ou 1,38 dólar por ação, ante 1,35 bilhão de dólares, ou 1,32 dólar por ação, no mesmo período do ano passado.

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Síria: França anuncia apoio aos EUA, que buscam coalizão

Já Alemanha afirmou que qualquer participação do país em intervenção militar está descartada. Casa Branca não descarta agir sozinha, segundo jornal

O presidente da França, Francois Hollande, durante uma coletiva de imprensa no palácio presidencial do Eliseu, em Paris
O presidente da França, Francois Hollande, durante uma coletiva de imprensa no palácio presidencial do Eliseu, em Paris(Kenzo Tribouillard/AFP)
O governo francês apoiou nesta sexta-feira os esforços dos Estados Unidos para formar uma coalizão internacional para uma intervenção militar na Síria. O presidente da França, François Hollande, disse que a decisão do Parlamento britânico contra uma ação no país árabe não afeta a vontade francesa de punir o regime do ditador sírio Bashar Assad pelo uso de armas químicas contra civis. Já a Alemanha afirmou que qualquer participação em uma ação na Síria está descartada. "Isso sequer está sendo considerado", afirmou ao jornal Neue Osnabruecker Zeitung o ministro das Relações Exteriores alemão Guido Westerwelle.
Hollande disse em entrevista ao jornal Le Monde que ainda defende uma ação punitiva "firme" em resposta ao ataque químico, que, segundo ele, provocou um dano "irreparável" ao povo sírio. Hollande afirma que vai trabalhar de perto com os aliados da França em prol da intervenção.
Perguntado se a França poderia tomar alguma atitude sem a Grã-Bretanha, Hollande respondeu: "Sim. Cada país é soberano sobre participar ou não em uma operação. Isso é válido para a Grã-Bretanha da mesma forma que para a França."
Na quinta-feira, o Parlamento britânico vetou a participação do país em uma possível intervenção militar na Síria – um revés aos esforços liderados pelos Estados Unidos por uma ação em resposta ao massacre de civis com o uso de armas químicas no país árabe, na semana passada.
A decisão dos parlamentares britânicos, contudo, não fez os Estados Unidos abandonarem a ideia de formar uma coalizão internacional para um ataque conjunto, afirmou nesta sexta-feira o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel. Mesmo após os parlamentares britânicos barrarem a colaboração militar do mais tradicional aliado americano, Hagel declarou que continua sendo o objetivo da Casa Branca que qualquer decisão seja resultado de uma "colaboração internacional".
"Toda nação tem a responsabilidade de tomar suas próprias decisões, e nós respeitamos isso", disse Hagel nesta sexta-feira em Manila, nas Filipinas, ao comentar a rejeição do Parlamento britânico. Mas ele ressaltou que a surpreendente votação contra a participação da Grã-Bretanha em um ataque ao regime sírio não interfere no plano inicial do governo Obama de convencer países aliados a agir em conjunto.  
Caso o esforço para formar uma coalizão fracasse, no entanto, os Estados Unidos consideram agir sozinhos para não deixar o governo sírio sem resposta, garantem fontes oficiais ouvidas pelo jornal The New York Times e pela rede CNN. Na noite desta quinta, uma nota do Conselho Nacional de Segurança, formado por especialistas que o presidente americano consulta sobre ações militares, afirma que "a decisão do presidente Obama será guiada pelos melhores interesses dos Estados Unidos". "Países que violam as nomas internacionais sobre armas químicas precisam ser responsabilizados", declarou a porta-voz do conselho, Caitlin Hayden.
De maneira mais direta, um funcionário da Casa Branca ouvido em condição de anonimato pela CNN declarou: "Valorizamos o processo (do Parlamento britânico). Mas vamos tomar a decisão que precisamos tomar". Segundo o New York Times, o governo americano está pronto para um "ataque limitado" e, o ao enviar um quinto navio de guerra para a região nesta quinta-feira, indica que dificilmente será detido em seu propósito. Tudo indica que a ação militar, provavelmente, ocorra após os inspetores da ONU que investigam o uso de armas químicas na Síria deixarem o país neste sábado.      
Congresso – A decisão de atacar a Síria, porém, encontra resistência mesmo nos Estados Unidos, onde líderes do Congresso destacaram nesta quinta-feira que a administração Obama deve realizar mais consultas sobre como responderá à crise síria. "Está claro que o povo americano está cansado da guerra. No entanto, o que (o ditador sírio Bashar) Assad está fazendo com sua própria gente é um assunto de segurança nacional, estabilidade regional e segurança global", afirmou em nota a líder da minoria democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.
Nancy disse que tanto ela quanto o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, além de outros legisladores, insistiram durante conferência telefônica com a Casa Branca na necessidade de mais investigação e em "transparência" ao tomar as decisões, ressaltando garantias dadas pelo governo de que "haverá contínuas consultas ao Congresso" – o que não significa uma votação. Já o presidente do Comitê das Relações Exteriores do Senado, Bob Menéndez, declarou que o ataque com armas químicas requer uma "resposta decisiva" capaz de transmitir uma mensagem universal de que não se tolerado violações às normas internacionais.
O Congresso americano, em sua maioria,  insiste na nacessidade de um aval dos parlamentares para qualquer ação militar, e retomará suas sessões no próximo dia 9 de setembro após o recesso de verão. Em comunicado, a Casa Branca explicou que a ligação telefônica de 90 minutos, na qual 26 legisladores participaram, tinha o objetivo de obter "os pontos de vista" do Congresso antes de Obama tomar uma decisão em relação à Síria.
Para ver a reportagem completa acesse o link abaixo: