sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Desvio de cotas dos amistosos da seleção continua, indicam contratos

Documentos mostram que Teixeira renovou acordo com a ISE por 10 anos antes de renunciar

Jamil Chade - Enviado especial - O Estado de S. Paulo
BASILEIA - O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, teria blindado o esquema de desvio de renda dos jogos amistosos do Brasil pelo mundo antes de deixar o comando da entidade, em março de 2012. É o que demonstram documentos obtidos pelo Estado. Eles revelam que o esquema para garantir a continuação dos pagamentos realizados no exterior foi até ampliado. E a renda dos amistosos chegou a ser usada entre os próprios cartolas envolvidos no esquema para comprar empresas.

Ricardo Teixeira voltou ao Brasil nesta quinta-feira - Fábio Motta/Estadão - 2011
Fábio Motta/Estadão - 2011
Ricardo Teixeira voltou ao Brasil nesta quinta-feira
Em sua edição desta quinta-feira, o Estadorevelou com exclusividade que um contrato de 2006 entre a empresa que detém os direitos sobre a seleção brasileira, a ISE, e outra com registro nos EUA garantia que mais de 8 milhões seriam transferidos para a americana Uptrend por um pacote de 24 jogos da seleção. A companhia estava registrada em nome de Sandro Rosell, presidente do Barcelona, mas também ex-diretor da Nike no Brasil e amigo pessoal de Teixeira.
Ex-funcionários de empresas que eram responsáveis por operar mais de 40 jogos da seleção afirmaram que jamais ouviram falar na Uptrend e que não saberiam dizer qual serviço prestaria.
Nesta quinta, ainda na Basileia, onde na quarta-feira a seleção enfrentou a Suíça, a assessoria de imprensa da CBF não desmentiu as informações. O atual presidente, José Maria Marin, insistiu que "desconhecia" o assunto.
Novos documentos, porém, revelam que o esquema não acabou com a queda de Teixeira. Antes de renunciar, o dirigente renovou os contratos que tinha com a ISE por mais dez anos, por um valor que seria US$ 100 mil inferior ao acordo anterior.
Mas a parcela que era desviada para outras contas aumentou de cerca de US$ 450 mil para quase US$ 800 mil, também em contas em locais fora do Brasil, principalmente nos EUA.
Diferentes contratos consultados pelo Estado, seguindo sempre o padrão daquele revelado nesta quinta pela reportagem, acabaram sendo assinados para justificar os pagamentos dessas comissões. De um lado, a ISE, com sede nas Ilhas Cayman. De outro, empresas que prestariam supostos serviços.
É a ISE que escolhe os adversários do Brasil nos amistosos. Após o jogo na Basileia o técnico Luiz Felipe Scolari deixou claro que nem ele tinha como opinar sobre as seleções que sua equipe enfrentará na preparação para a Copa. "Não tenho condições de sugerir nada. Quem monta é a empresa que detém os direitos", disse. Até 2014, o Brasil terá sete jogos amistosos para sua preparação.
Quem também se queixou foi Daniel Alves. "Sinceramente, não sei para quem serve esses amistosos", disse. "Não sei quem ganha com isso. Só sei que nós (jogadores) perdemos."
CAIXA 2 
A renda dos amistosos da seleção também foi usada para quitar dívidas e mesmo para comprar empresas, de acordo com fontes que trabalharam na CBF. Uma dessas companhias seria do próprio Rosell.
Antes de assumir a presidência do Barcelona, em julho de 2010, ele teve de se desfazer de suas empresas de marketing, exigência dos estatutos do clube. O obstáculo foi resolvido com a ajuda da seleção brasileira. A ISE enviou recomendação aos organizadores das partidas para que transferissem diretamente ao dirigente o dinheiro que teriam de enviar à empresa - e que seria destinado à CBF. A ISE, em troca, ficou com a companhia de Rosell. O dinheiro foi enviado: cerca de 3 milhões.
A relação entre Teixeira e Rosell ia bem além dos negócios. Fontes que tinham relações com a CBF durante a gestão de Teixeira revelam que o espanhol tinha participação ativa até na agenda do dirigente brasileiro. Chegava a interromper suas atividades como presidente do Barça - às vezes até durante jogos do time - e ligar aos organizadores de amistosos da seleção para pedir que voos de Teixeira, reservas de hotel ou conexões fossem modificadas.
Segundo a imprensa espanhola, Rosell mantém uma disputa com as autoridades fiscais do país por causa de 3 milhões não quitados. A assessoria de imprensa do Barcelona não respondeu aos e-mails do Estado.
O conteúdo é do ESTADÃO

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