segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sorocaba - Novos shoppings preocupam comerciantes

Vendas diminuíram e lojistas acreditam que clientela será dividida a partir de novos empreendimentos comerciais
Cinco lojas fecharam as portas nos últimos meses na rua da Penha 



     Marcelo Roma
marcelo.roma@jcruzeiro.com.br 

Comerciantes da região central de Sorocaba estão apreensivos quanto às inaugurações de shoppings até o fim do ano. Serão dois novos - o Shopping Cidade e Pátio Cianê - e a ampliação do Esplanada, que se chamará Iguatemi Esplanada. A preocupação é que os novos empreendimentos pulverizem as vendas no comércio, que já são consideradas baixas. Há mais um shopping em construção na cidade, o Tangará, que deve ser finalizado em 2015. 

Até o final do ano, Sorocaba terá oito empreendimentos no setor. Atualmente são seis em funcionamento: Esplanada, Granja Olga, Panorâmico, Plaza Itavuvu, Sorocaba e Villàgio. Os investimentos na construção dos três novos shoppings (Cidade, Pátio Cianê e Tangará)
e a ampliação do Esplanada com o anexo do Iguatemi dão um total de R$ 1,38 bilhão. Serão cerca de 900 lojas nos dois novos shoppings e ampliação do Esplanada, que devem ser inaugurados entre setembro e novembro. É o maior investimento em shoppings do Estado de São Paulo, considerando o biênio 2013/2014, conforme informou em julho a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). 


As boas expectativas para o setor deixam os comerciantes já instalados com um pé atrás. Eles acreditam que poderão ser prejudicados pela grande oferta de lojas na cidade. A dona de uma loja de bolsas e acessórios femininos da rua da Penha, Daniele Galli, mantinha duas lojas na mesma rua, mas teve que fechar uma devido ao pouco movimento nos últimos meses. Ela cita 2011 e 2010 como bons para o comércio. Para Daniele, 2013 não tem sido satisfatório. 

A comerciante considera que muitas lojas foram abertas, na região central e também nos bairros, impulsionadas pela melhora na renda do trabalhador e na economia de maneira geral. "Hoje em dia há muitas lojas nos bairros, muitas delas abertas há pouco tempo, que concorrem com o comércio na região central", diz Daniele. Ela acredita que com os novos shoppings, a clientela será ainda mais dividida. A comerciante pensa em mudar a loja da região central para um bairro, onde o aluguel é mais barato. O aluguel de uma loja pequena no Centro custa entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, dependendo da localização. No bulevar Braguinha e ruas de maior movimentação de pessoas é ainda maior. A valorização imobiliária em Sorocaba, de maneira geral, teria refletido nos preços dos aluguéis de pontos comerciais, que agora não estão acompanhando o ritmo da economia de um ou dois anos atrás. 

Segundo o fotógrafo Teófilo Negrão, que tem um estúdio na rua da Penha, cinco lojas fecharam as portas nos últimos meses, apenas no trecho entre os cruzamentos das ruas Professor Toledo e Miranda de Azevedo. Negrão cita como motivos o valor alto do aluguel, a redução das vendas e o grande número de lojas, muitas de um mesmo tipo de mercadorias e próximas uma da outra. "Só de óticas são umas quinze na parte alta do Centro". O fotógrafo acredita que a oferta está sendo maior que a procura, por isso alguns comerciantes estão fechando as lojas ou reduzindo custos, o que resulta em demissões. Para Negrão, a cidade não está uma "maravilha" para o comércio, como se imagina. 

A comerciante Eliane Andrade, dona de uma loja de roupas, calçados e acessórios, não vê a instalação de novos shoppings como prejudiciais ao restante do comércio. Para ela isso é relativo, "pois as lojas da região central têm seu público". Eliane pensa que não haverá grande mudança. "Há pessoas que não gostam de shoppings, comentam comigo. Preferem lojas nas ruas em que é mais fácil chegar." A comerciante ressalta que a maioria dos clientes da sua loja moram ou trabalham perto. Ela lembra que assim como em sua loja, há muitas da região central que mantêm convênio com estacionamentos, a fim de facilitar o acesso. 

Experiências 

O hoje manobrista Daniel Pacheco desistiu de continuar com uma loja de roupas que montou na Galeria Ipanema no ano passado. Foram seis meses tentando fazer o negócio ir para frente, mas não conseguiu. Antes, trabalhava como operador de empilhadeira. Para ele, o lugar não foi uma boa escolha. "Não apareciam clientes e as vendas eram fracas. Além disso tinham os impostos, o aluguel". Pacheco conta que, junto com uma sócia, somou prejuízo de cerca de R$ 50 mil. Sem perspectivas e com despesas que aumentavam, Pacheco entregou o ponto e conseguiu o emprego de manobrista num estacionamento no centro da cidade, onde começou a trabalhar há alguns dias. 

Ricardo Rozendo descreve como péssima a experiência de ter aberto uma loja de roupas no Villàgio Shopping, que já não tem mais. Ele diz que viveu uma ilusão ao acreditar que seria um bom negócio. Investiu grande quantia em estoque, mobiliário, aluguel e decoração da loja, mas não obteve retorno nem para cobrir os custos, segundo Rozendo. Os prejuízos iam se avolumando mês a mês e resolveu deixar o ramo depois de oito meses. Hoje, ele não supõe abrir loja de roupas nem fora de shoppings. 

A empresa de terraplenagem, que Rozendo manteve, serviu como garantia para a família, para a qual ele voltou a dar total atenção. Rozendo conta que para tirar parte do prejuízo com a loja, ele e a mulher vendiam as roupas do estoque em domicílio, oferecendo a amigos e conhecidos por um preço abaixo do custo. Ele ressalta a importância de se avaliar muitos fatores antes de montar uma loja, principalmente em shoppings. "Deve-se analisar a localização, a que público (em termos de poder aquisitivo) se destina, o tipo de comércio, a circulação de pessoas, etc.", aconselha Rozendo.

O conteúdo é do Jornal Cruzeiro do Sul

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