sábado, 22 de junho de 2013

Dise fecha refinaria de drogas que abastecia várias regiões

Estrutura dos traficantes impressionou a polícia. Seis pessoas estão presas
Policiais ficaram impressionados com a estrutura e equipamentos do laboratório onde as drogas eram produzidas - Por: Aldo V. Silva


       Adriane Mendes
adriane.mendes@jcruzeiro.com.br
Um grande esquema de tráfico de drogas no interior do Estado, denominado "Operação Alquimia", foi desmantelado essa semana por policiais da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Sorocaba, resultando na identificação de 15 pessoas, das quais seis já estão presas, e no fechamento de uma refinaria no município de Elias Fausto, região de Campinas. De acordo com as investigações iniciadas há quatro meses por meio de denúncias, a produção de 600 quilos mensais de cocaína era destinada a abastecer as classes média e alta das cidades de Sorocaba e Votorantim, além da região de Campinas.

Devido à importância da ocorrência, em virtude da abrangência que atingirá no decorrer das investigações que continuam, o acesso à Dise ontem, para a apresentação de dois presos, foi limitado à imprensa e moradores locais. Os presos apresentados ontem, detidos entre a madrugada de quinta-feira e ontem, são o escriturário Renato Anselmo dos Santos, 32 anos, vulgo Presa, apontado como o líder da quadrilha e responsável pelo laboratório, e o soldador Anderson Fogaça, 37, vulgo Du, acusado de vender a droga entre Sorocaba e Votorantim por meio de "Disk-Droga". De acordo com o delegado titular da Dise, Alexandre Cassola, a organização pode ter abrangência até mesmo interestadual, uma vez que entre os seis integrantes da organização já presos há pessoas oriundas de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

Entretanto, por estratégia visando não atrapalhar as investigações que ainda prosseguem, o delegado se limitou a apresentar parcialmente o que já foi obtido pelas investigações. E foi exatamente para não atrapalhar as apurações que apenas três nomes de presos foram divulgados ontem. O terceiro nome é do químico José Rodrigues Vieira, 26 anos, preso temporariamente em sua casa em Itu, enquanto a entrevista coletiva era concedida. Por estar ferido após um acidente na refinaria, ele não foi trazido para Sorocaba e está escoltado no Hospital São Camilo, naquela cidade.

Conforme o que foi investigado, Renato Anselmo seria o líder da quadrilha e também o responsável e dono do laboratório de refinaria, que funcionava numa chácara em Elias Fausto. As instalações, compostas por seis estufas para secar a cocaína, além de maquinários para prensar a droga em forma de tijolos - que tinham até logotipos das marcas "100%" e "cavalinho" -, bem como todos utensílios, impressionaram os policiais civis. 

O delegado Basílio César de Sá Cassar, assistente da Dise, também classificou a refinaria como grande, tanto que sua capacidade de produção era de 150 quilos semanais, gerando também grande movimentação financeira. Cada tijolo, no atacado, custaria R$ 12 mil em média. No laboratório, o procedimento da quadrilha consistia em receber a pasta base de cocaína e misturá-la com diversos componentes químicos a fim de aumentar a quantidade da droga. Com a mistura já preparada, a droga era colocada na estufa para secar, seguindo depois para as máquinas de prensa, saindo então em forma de tijolo.






Já a venda entre Sorocaba e Votorantim, segundo as investigações, eram feitas pelo soldador Anderson Fogaça, o Du, que compraria os tijolos e os transformaria em dezenas de porções, que segundo o delegado Cassola, eram também mais uma vez alteradas em suas composições. Mas as vendas aconteceriam apenas para as pessoas mais abastadas, motivo pelo qual a comercialização era feita mediante o sistema Disk-Drogas. Porém, a venda para as pessoas com menor poder aquisitivo também acontecia, mas com entorpecente de menor qualidade também. Para isso, as drogas eram divididas em embalagens de cores diferentes.

A descoberta da refinaria em Elias Fausto aconteceu na madrugada de quarta para quinta-feira, e a prisão do Anderson Fogaça aconteceu também na quarta-feira, no bairro Elton Ville, em Sorocaba. Na ocasião ele dirigia um Honda Civic cujo porta-luvas tinha fundo falso para esconder a droga. Ontem, em Votorantim, foi preso Renato dos Santos, sendo apreendido 150 gramas de cocaína. E enquanto transcorria a coletiva de imprensa, investugadores da Dise foram até Itu prender o químico José Rodrigues Vieira, que havia recebido alta hospitalar pelas queimaduras adquiridas num acidente da refinaria, mas que, por não apresentar nesse momento condições físicas para ficar numa prisão, está escoltado em hospital. Durante as prisões, três carros, um Space Fox, um Celta e um Civic, foram apreendidos.

O profissionalismo com que a droga era refinada no laboratório, chamou a atenção dos policiais civis. O cuidado no preparo era tanto que até mesmo equipamento hospitalar para aplicação de soro era utilizado para misturar as demais substâncias, que normalmente são cal, éter, acetona, fermento, entre outros. Bexigas usadas em festas também foram apreendidas. Elas eram úteis para acondicionar a droga e ainda ser enterrada, pois seu material de látex impede passagem de umidade.


As informações são do Jornal Cruzeiro do Sul

Sorocaba - Atendimento demorado gera queixas de pacientes em UPH

Problema concentrou-se no horário de almoço, das 11h às 13h


       Leandro Nogueira
leandro.nogueira@jcruzeiro.com.br
Atendimento pré-hospitalar paralisado na hora do almoço. Essa foi a queixa de pacientes e acompanhantes que estavam no início da tarde de ontem na Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da Zona Norte. Disseram que vários deles que chegaram às 8h ou 9h foram atendidos apenas às 13h porque das 11h às 13h ninguém foi chamado. Reclamaram que sequer dava para saber se havia médicos presentes, já que o quadro em que deveriam constar os nomes dos profissionais presentes, como previsto em lei, estava em branco. 

A Secretaria da Saúde de Sorocaba (SES) alegou que na troca das placas entre um plantão e outro, que é feita manualmente, é necessário esperar todos os profissionais escalados efetivamente chegarem às unidades e, neste espaço de tempo, a placa fica sem os nomes dos profissionais. Às 14h30, quando a reportagem deixou o local a placa continuava sem nomes. "Uns profissionais entram às 19h e saem à 1h; outros entram às 19h e saem às 7h", divulgou a SES, deixando de informar quais foram os exatos horários das trocas durante a manhã de ontem, mas seguindo a lógica da carga horária dos médicos pode-se prever que as substituições deveriam ter sido feitas às 7h e às 13h.

Evandro Rodrigures Barbosa, 25 anos, disse que chegou com a noiva de 33 anos às 9h da manhã. Ela ficou aguardando com fortes dores no estômago às 13h, quando foi atendida pelo médico. "Ela estava muito mal e então ao meio-dia eu abri a porta e entramos. Falaram que ela tinha que esperar e ela ficou tomando soro no corredor enquanto aguardava", declarou Barbosa. Jhonys Willian da Silva, 26 anos, disse que quando chegou havia uma senhora que reclamava de dor de cabeça e estava esperando desde às 8h e apenas foi chamada às 13h. "De quando cheguei, às 10h45 até às 13h não chamaram ninguém", reclamou. 

Por volta das 14h, o vendedor autônomo Paulo Moura, 54 anos, a aposentada Maria Inês Queiroz, 60 anos e Jhonys da Silva, 26 anos, queixavam-se da espera desde às 11h. Enquanto a reportagem estava na unidade, várias pessoas passaram a ser chamadas. "Quando o jornal chega parece que agilizam", comentou Maiara Núbia Lancia Anhaia, que acompanhava o namorado. "A gente espera três horas e o médico nos atende em um minuto", afirmou Maria Queiroz. Na parte da pediatria, segundo as mães consultadas, a espera estava sendo de cerca de uma a duas horas, o que consideraram muito, devido ao estado febril. "Chegamos ao meio-dia, passou pela triagem e falaram para esperar", disse a artesã mãe da pacientes de quatro anos de idade, Joelma Gonçalves da Silva, 42 anos. Inês Miranda, 46 anos reclamava que há uma hora estava aguardando o médico atender o sobrinho dela de dez anos de idade, que estava com 39,1º de febre, mesmo após ter sido medicado em casa. 

A SES informou que todos os casos de urgência e emergência são prontamente atendidos nas UPHs. Sobre o atendimento aos adultos, divulgou que a média do tempo de espera na manhã e início de tarde de ontem dos casos não urgentes foi de três horas, devido ao elevado número de urgências e também pelas transferências hospitalares que precisam ser realizadas. Explicou que os pacientes são avaliados conforme a classificação de risco e os não são urgentes, esperam mais pelo atendimento. "Nas UPHs o atendimento é feito por ordem de gravidade através de classificação de risco, não importando a ordem de chegada, portanto os casos menos graves podem ter um tempo de espera maior", respondeu em nota.

Em relação aos atendimentos infantis, a SES informou que todas as crianças que chegam são acolhidas pela equipe de enfermagem (acolhimento), que faz uma avaliação do estado geral de saúde, não considerando apenas um único sintoma, como a febre. Dados da Secretaria apontam que cerca de 70% das crianças que chegam às UPHs apresentam febre e o atendimento é priorizado conforme a classificação de risco. A SES informou ainda que havia cinco médios clínicos e quatro médicos pediatras de plantão. 

Divulgação obrigatória 
A divulgação dos nomes dos profissionais de saúde para os pacientes que aguardam é obrigatória em Sorocaba pela lei 8.288/2007. Além de nomes ela prevê que conste os horários e especialidades desses profissionais. Tal exigência deve ser cumprida nos Postos de Saúde, unidades de Pronto-Atendimento, unidade de Saúde Mental, Santa Casa de Misericórdia, ou qualquer outro órgão direto ou indiretamente administrado pela Prefeitura. Os quadros com tais informações devem ser colocados em local de fácil visualização e livre acesso ao público.

As informações são do Jornal Cruzeiro do Sul

Sorocaba - Não retirada de totem gera processo contra Pannunzio

Promotor alega que placa fere o princípio constitucional do Estado laico
O totem com os dizeres religiosos fica na entrada da cidade - Por: Aldo V. Silva



       Wilson Gonçalves Júnior
wilson.junior@jcruzeiro.com.br
O prefeito Antonio Carlos Pannunzio (PSDB) vai responder uma ação civil pública protocolada ontem pelo promotor Jorge Alberto Marum, na Vara da Fazenda Pública, por não retirar o totem com os dizeres "Sorocaba é do Senhor Jesus Cristo", marco religioso existente na entrada da cidade, na ligação da rodovia Senador José Ermírio de Moraes (Castelinho) com a avenida Dom Aguirre. Para o Ministério Público, a placa fere o princípio constitucional do Estado laico - Estado que não adota uma religião oficial -, além ainda de questões urbanísticas, já que não existe autorização municipal para instalação do totem na praça pública. 

Curiosamente nesta semana, o vereador Pastor Apolo (PSB), protocolou na Câmara de Sorocaba um projeto de lei para denominar a mesma praça com os dizeres do marco religioso, "Sorocaba é do Senhor Jesus Cristo". Caso a liminar seja acatada pela Justiça, a Prefeitura de Sorocaba precisará retirar o totem em 24 horas - após dada decisão do juiz -, com multa de R$ 1 mil por dia pelo descumprimento. A ação tem valor simbólico de R$ 10 mil, multa que será aplicada no chefe do Executivo, se houver condenação. 

Durante o inquérito civil, aberto após representação, o promotor Jorge Alberto Marum tentou fazer uma acordo com a Prefeitura de Sorocaba, ao propor que os dizeres do marco religioso fossem substituídos por uma saudação às pessoas que chegam e saem de Sorocaba. Depois de 60 dias, dois prazos de 30 dias dados pelo MP, a Prefeitura de Sorocaba comunicou a promotoria que a frase contida no totem seria mantida integralmente. Além disso, o município ainda confirmou que a placa está instalada em local público e sem a devida permissão, bem como não informou ao MP sobre quem instalou o monumento no local e se houve utilização de verba pública para sua instalação e manutenção. 

De acordo com Marum, os dizeres afrontam a liberdade de consciência e crença (inciso VI do artigo 5º da Constituição Federal), além ainda da proibição da União, Estados e Municípios da subvenção de cultos religiosos e igrejas (inciso I do artigo 19, da Constituição Federal) -princípio do Estado laico. "É evidente que o endosso estatal de qualquer expressão religiosa implica, necessariamente, em injustificado tratamento desfavorecido em relação àqueles que não abraçam o credo privilegiado, rebaixados que são à condição de cidadãos de segunda categoria, a exemplo do que ocorria, com judeus e protestantes em tempos que não deixaram saudades", lembrou o promotor.

Segundo o representante do MP, os dizeres da placa não traduzem as mensagens de boas-vindas, comuns nas cidades brasileiras e tampouco homenagens a ícones religiosos, como por exemplo Estado do Espírito Santo ou avenida São João. Para Marum, a frase é uma afirmação triunfante de que a cidade de Sorocaba pertence a Jesus Cristo. "Ora, por mais respeito e devoção, repita-se, que mereça a figura de Jesus, a cidade de Sorocaba não lhe pertence e sim à República Federativa do Brasil...Uma igreja ou conjunto de igrejas não pode ocupar espaço público para afirmar que a cidade pertence a Jesus, pois este não lhe pertence, e sim a todo o povo. E isso, sem autorização do pode competente, como se a expressão da fé religiosa não precisasse respeitar o espaço público."
 
Mérito 
No mérito da ação, quando é dada a sentença, a Prefeitura precisará retirar a placa - caso a liminar não tenha sido acatada - e está proibida de dar autorização ou instalar em qualquer espaço público totem ou placa semelhante ao existente - afirmando ter posse da cidade -, de religião, entidade, divindade ou ícone religioso.
 
Apenas para dar nome 
O vereador Pastor Apolo (PSB) informou ontem, por meio de nota, que o local é uma área verde pertencente ao município e não possui nome e que sua proposta não teve intenção de tentar regularizar a manutenção do totem no local, após ação proposta pelo MP. Sobre quem pagou ou instalou a placa no local, o parlamentar, que pertencente à Igreja Quadrangular, disse que esta informação não lhe compete, tendo em vista que seu mandato teve inicio em janeiro deste ano, data em que o totem já estava instalado.

A Secretaria de Governo e Relações Institucionais (SGRI) informa que a Prefeitura ainda não foi notificada sobre a ação. Entretanto, afirma que o prefeito Antonio Carlos Pannunzio não vê qualquer razão para a retirada do totem daquele local. Em sua opinião, e com o devido respeito à diversidade de crenças, o totem não representa ofensa ou se traduz em infração a uma regra legal.
As informações são do Jornal Cruzeiro do Sul.

Atendimento a pacientes com aids em SP precisa do dobro de infectologistas

GIOVANA GIRARDI - O Estado de S.Paulo
O serviço municipal de atendimento a pacientes com DST/Aids precisa do dobro de infectologistas que tem hoje para conseguir suprir a demanda de novos casos e oferecer um serviço mais próximo do que já foi considerado modelo para o resto do mundo. Essa é a conclusão de um levantamento feito pela Comissão Municipal de Aids nas 15 unidades paulistanas que oferecem esse tratamento.
O órgão, que reúne poder público, sociedade civil e sindicatos de saúde, é um braço do Conselho Municipal de Saúde. Ele analisou os Serviços de Assistência Especializada (SAE) e Centros de Referência em DST/Aids (CR) em relação a questões como oferta de médicos e outros especialistas e infraestrutura das unidades.
Os dados foram obtidos em entrevistas com os gerentes de cada serviço. E foi com base na percepção deles sobre o que seria preciso para oferecer um atendimento humanizado, de qualidade, que se chegou aos números de quantos profissionais são necessários a mais na rede.
De acordo com o levantamento, é preciso ter pelo menos 43 novos infectologistas. As 15 unidades têm hoje 41 desses profissionais. Além dessa especialidade, eles relatam falta também de ginecologistas, sanitaristas, nutricionistas, pediatras, psiquiatras, clínicos, fora assistentes sociais, psicólogos e os chamados AGPP (agentes de políticas públicas), que fazem toda a recepção dos pacientes. Só nessa categoria foi relatada uma falta de 72 profissionais.
"O problema vem dos últimos anos. Não houve investimento adequado e temos um grande número de profissionais se aposentando. Não há reposição", diz Sérgio Rodrigues, coordenador da comissão.
Segundo ele e outros ativistas, com essa precarização do serviço tem ocorrido uma demora de três a cinco meses para o início do tratamento de pessoas recém diagnosticadas.
A percepção foi corroborada pelos gerentes. Ao Estado, uma deles contou que em dois anos sua unidade teve uma redução pela metade no número de infectologistas. "Não tenho condições mais de receber novos casos. Toda semana fecho a porta para 3, 4. Justo quando a pessoa acabou de saber que tem HIV e está mais fragilizada", diz. "As pessoas sentaram em cima do conceito de que o Brasil era modelo no tratamento e esqueceram de evoluir. Só que o modelo está defasado."
O próprio secretário de Saúde do Município, José de Filippi Junior, admitiu em maio, em encontro com ONGs ligadas à questão, essa demora.
Já Eliana Gutierrez, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids, afirmou que o início do atendimento pode chegar a esse tempo, mas que nos casos em que a pessoa já chega com o sistema imunológico muito abalado o tratamento começa imediatamente. "Três meses é só nos casos menos graves", afirma. Mas ela admite que faltam médicos e diz que no segundo semestre haverá um concurso para contratar 58 infectologistas.
As informações são do Jornal O Estado de São Paulo

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Na TV, Dilma se curva à voz das ruas, mas defende 'primado da lei e da ordem'

Em pronunciamento de dez minutos em cadeia de rádio e televisão, presidente demonstrou grande preocupação com a segurança e prometeu pacto nacional pela melhoria dos serviços

Gabriel Castro e Laryssa Borges, de Brasília
Presidente Dilma Rousseff faz pronunciamento em rede nacional, sobre os protestos do país
Presidente Dilma Rousseff faz pronunciamento em rede nacional sobre os protestos do país (Reprodução)
Depois de uma quinta-feira de extrema tensão em que a presidente Dilma Rousseff viu chegar à sua porta a onda de protestos que varre o Brasil com dezenas de demandas e forte sentimento de rejeição à classe política, uma rede nacional de rádio e televisão foi convocada, às 21h desta quinta-feira, para que ela se dirigisse ao país. A fala de dez minutos teve dois eixos: Dilma afirmou reiteradas vezes que seu governo está "ouvindo as vozes democráticas que pedem mudanças", mas também demonstrou grande preocupação com a segurança e com o "primado da lei e da ordem".
"Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia", afirmou.
Uma terceira parte do seu discurso foi dedicada às promessas - algumas bem requentadas. Ela afirmou que convidará governadores e prefeitos das grandes cidades para "um grande pacto em torno melhoria dos serviços públicos". As prioridades seriam a formulação de um plano nacional de mobilidade urbana em conjunto com estados e municípios, a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação e a despropositada contratação de milhares de médicos estrangeiros para atender a demanda dos rincões do Brasil.
Chamou a atenção a ênfase dada pela presidente ao "barulho e a truculência de alguns arruaceiros". De fato, a opção por fazer o pronunciamento começou a ser tomada na noite de ontem enquanto Dilma, no Palácio do Planalto, acompanhada por alguns assessores mais próximos, assistia aos protestos que se desenrolavam a 700 metros do seu gabiente e em uma centena de outras cidades pelo país. A violência que se desdobrou no Rio de Janeiro foi decisiva. Dilma conversou com o governador do Rio de Janeiro, Sério Cabral (PMDB), que lhe transmitiu um relato alarmante sobre a depredação nas ruas da capital fluminense - acontecimentos muito mais chocantes do que as televisões exibiam ao país. Não por outro motivo, a reunião na manhã desta sexta-feira foi com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Ao longo do di, o discurso foi esculpido pelas mãos do marqueteiro João Santana e mostrado a diversos ministros antes de uma gravação feita em estilo "ao vivo". 
A violência também parece ter alarmado o governo pelo efeito que pode ter sobre a imagem do país - jornais internacionais de todo o mundo têm dado cobertura ampla aos protestos e ressaltado que estilhaçam a imagem de um Brasil em que tudo vai bem. "Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil", disse Dilma. Em referência à Copa das Confederações e à Copa do Mundo de 2014, ela pediu uma "acolhida generosa aos povos irmãos" e que sejam tratados "com respeito os nossos hóspedes".
O repúdio manifestado nas ruas aos políticos e partidos - em especial ao PT, partido da presidente, que por décadas se arvorou no papel de porta-voz dos anseios populares - também ensejou uma menção da presidente: "É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático".
Este foi o quarto pronunciamento em rede nacional de Dilma neste ano. O primeiro deles foi marcado pelo tom agressivo e pela retórica do "nós contra eles", ou seja, direcionado a atacar a oposição ao seu governo, chamados por ela de "do contra". Nas duas falas seguintes, Dilma baixou o tom e se limitou a exaltar feitos de sua gestão e a anunciar medidas de forte impacto no eleitorado, como a desoneração de produtos da cesta básica. Às vésperas do início das passeatas no país, Dilma ostentava índice próximo de 60% de aprovação nas pesquisas de opinião, ainda que com viés de queda. Foi um caminho surpreendente o que levou Dilma Rousseff do seu primeiro pronunciamento, em janeiro, à fala desta sexta-feira, concluída com um enfático "Eu estou ouvindo vocês!" 
As informações são da Veja

Rio de Janeiro - PM vai usar bomba de efeito moral com dobro da potência

Por falta de granadas em estoque, fabricante entregou hoje à polícia fluminense 2.000 artefatos produzidos para Angola, onde a concentração de lacrimogêneo é de 20% - no Brasil, o máximo permitido é de 10%

Leslie Leitão, do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Manifestantes entram em confronto com a polícia durante protesto, na capital carioca
Rio de Janeiro - Manifestantes entram em confronto com a polícia durante protesto, na capital carioca (Sergio Moraes/Reuters)
“Perto desse lote que estava indo para Angola, a bomba do Brasil é um acarajé”, compara um oficial da PM, em entrevista ao site de VEJA.
A Polícia Militar do Rio passará a usar bombas de efeito moral duas vezes mais potentes do que as lançadas nas últimas manifestações na cidade. Uma obra do acaso fez com que a corporação adquirisse esse tipo de artefato: por absoluta falta de material no fornecedor desse produto, os policiais adquiriram bombas produzidas para serem exportadas para Angola – e fora das especificações brasileiras. Na verdade, as bombas não foram obtidas como manda o figurino. Ao fazer um novo pedido de emergência ao fabricante, a PM recebeu a informação de que não havia estoque disponível. Na base da pressão, os oficiais fluminenses arremataram, e carregaram, 2.000 bombas extra fortes.
“Perto desse lote que estava indo para Angola, a bomba do Brasil é um acarajé”, compara um oficial da PM, em entrevista ao site de VEJA.
Tecnicamente, a diferença é a seguinte: no Brasil, a concentração máxima de ortoclorobenzalmalononitrilo, o lacrimogêneo (CS), é de 10%. Em Angola, as granadas têm concentração de 20% de CS. Na prática, cada estouro no Rio vai significar o dobro da irritação para quem estiver no raio de alcance da fumaça tóxica.
A PM fluminense teve um ‘gasto inesperado’ com esse tipo de granada desde a última segunda-feira, quando foi atacada a Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj). O estoque ‘foi para o vinagre’ de vez na quinta-feira. Por lei, a PM só pode comprar 2.000 bombas por vez. Mas na batalha em frente à prefeitura foram lançadas bem mais. Como? Um oficial ouvido pelo site de VEJA explicou que, oficialmente, havia um estoque de cerca de 2.000 bombas. Mas também foram lançadas as que estavam fora da validade. A estimativa de militares envolvidos na operação é de que perto de 4.000 bombas estouraram em toda a cidade desde a quinta-feira da semana passada, em três grandes conflitos – na Alerj, no centro, no Palácio Guanabara, na Lapa, no Passeio Público e nos pequenos confrontos cidade afora. “Jogamos bomba feito confete”, compara um policial do Batalhão de Choque, depois do confronto na Avenida Presidente Vargas.
Na quinta-feira, até no hospital Souza Aguiar elas foram atiradas. “Estávamos saindo para jantar e tivemos de voltar, porque jogaram aqui dentro sem necessidade”, reclamou uma enfermeira. O coronel Alberto Pinheiro Neto, chefe operacional da PM, justificou que o vento levou o gás até o hospital. Mas admitiu: “Havia a necessidade de fazer a utilização desse equipamento em larga escala para conter os distúrbios que estavam ocorrendo por todo o centro”, disse na entrevista coletiva.
Como em toda 'revolução', um lado perde, outro ganha. Até o momento quem saiu ganhando foi a Condor, fabricante que atende a PM do Rio. “Os caras estão desesperados. Estão pagando até hora extra para produzir mais bombas”, revelou um militar.
As informações são da Veja

Protestos voltam a ocupar a capa do New York Times

Imprensa internacional destaca confrontos durante as manifestações


Manifestantes seguem em direção ao Aeroporto de Cumbica durante protestos na cidade de Guarulhos, nesta sexta-feira (21)
Manifestantes seguem em direção ao Aeroporto de Cumbica durante protestos na cidade de Guarulhos, nesta sexta-feira (21) - Beto Martins/Futura Press

















Mais uma vez, o jornal americano The New York Times dedicou um grande espaço de sua primeira página aos protestos que se espalharam pelo Brasil. O artigo do correspondente Simon Romero destaca que o crescimento das manifestações surpreendeu até mesmo quem as iniciou. Citando Mayara Vivian, uma das líderes do Movimento Passe Livre, o texto diz que ela “ficou assombrada, sem conseguir explicar” a multidão que tomou as ruas esta semana. “Nunca teríamos imaginado isso. É como a tomada da Bastilha”.
O texto afima que o Brasil, um país que já foi visto como um “exemplo estelar de crescimento de um poder democrático se encontra abalado por uma revolta sem caráter definido, sem líder, com um tema unificador: uma raivosa, e às vezes violenta, rejeição à política habitual”.
As manifestações em várias cidades brasileiras são comparadas ao movimento Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, aos protestos anticorrupção que eclodiram na Índia nos últimos anos, aos movimentos por mais qualidade de vida em Israel, ou ainda à indignação com a crise financeira em nações europeias como a Grécia. “Os manifestações no Brasil estão fartos das estruturas políticas tradicionais, e cobram tanto o partido do governo quanto a oposição. E suas demandas são tão difusas que deixaram as lideranças confundidas sobre como satisfazê-las”.
Reprodução
Protestos no Brazil estamparam a  capa do jornal The New York Times desta sexta-feira
Protestos no Brazil estamparam a  capa do jornal The New York Times desta sexta-feira
Concessões específicas, afirma a reportagem, não foram suficientes para aplacar os protestos. Nem a tática da presidente Dilma de reconhecimento público da legitimidade da ira e das ambições dos manifestantes. Os ativistas afirmam que o movimento não surgiu do nada. Mas não conseguem explicar qual mudança levou uma multidão a sair às ruas em todo o país.
A rede americana CNN, que também tem dedicado espaço à cobertura dos protestos no Brasil, lembrou nesta sexta-feira que as manifestações continuaram mesmo depois do recuo de várias prefeituras em relação ao aumento das tarifas do transporte público. A reportagem questiona se a decisão “veio muito tarde”. A matéria lembra a insatisfação com a alta carga de impostos tendo em contrapartida a oferta de serviços precários na saúde e na educação, e os bilhões gastos pelo governo nas preparações para a Copa do Mundo.
Confrontos – Os episódios de violência registrados durante os protestos desta quinta-feira também chamaram a atenção da imprensa internacional. O argentino Clarín ressaltou que “das manifestações, que haviam começado de forma pacífica, se desgarraram grupos que atentaram contra os principais prédios públicos”, citando os eventos em Brasília e no Rio de Janeiro, onde dezenas ficaram feridos. O jornal também citou os protestos em São Paulo, destacando que “militantes de esquerda foram hostilizados pelos mais radicais, que levavam facas”. 
O britânico The Guardian falou em 2 milhões de manifestantes em todo o país, com confrontos registrados em Belém, Porto Alegre, Salvador, Brasília, Campinas, São Paulo e também no Rio de Janeiro, onde, relatou o jornal, “uma minoria atirou pedras, incendiou carros e destruiu postes de luz”. “E a polícia respondeu atirando spray de pimenta e balas de borracha na multidão”.
O repórter fotográfico da agência Reuters Kai Pfaffenbach escreveu um texto explicitando sua paixão por fotografar jogos de futebol e reconhecendo que, ao ser enviado ao Brasil para registrar a Copa das Confederações, não esperava ter de fazer imagens também de confrontos nas ruas. Ele contou que chegou a ficar na mira de um policial durante uma manifestação e conclui: “Para nós [fotógrafos] é hora de usar equipamento de proteção para nos mantermos seguros”. “Quando eu fiz as malas na minha casa na Alemanha há duas semanas, eu não esperava nada desse tipo, por isso estou sem equipamento de segurança e tenho que improvisar”, admitiu. “Faltando dez dias para o fim do torneio, para ser honesto, eu não espero que os protestos parem até a final. Até mesmo uma grande apresentação da seleção não vai interromper a marcha das pessoas por condições de vida melhores e mais justas”.
Kai Pfaffenbach/Reuters
Ação policial durante protesto contra a Copa das Confederações em Fortaleza
Repórter fotográfico Kai Pfaffenbach registra ação policial durante protesto contra a Copa das Confederações em Fortaleza
Pfaffenbach acrescenta que, se voltar para trabalhar na Copa do Mundo, no ano que vem, vai trazer uma segunda mala com seu equipamento de segurança, “por via das dúvidas”. “Mas espero que não vá precisar disso. Seria ótimo se os políticos fizessem alguma coisa e reagissem às demadas do povo. Se isso acontecer, podemos esperar pela maior festa do futebol, mas se não, eu acredito que os protestos que estamos vendo agora serão apenas um leve aquecimento para confrontos ainda mais pesados no ano que vem”.
Futebol – No espanhol El País, o correspondente Juan Arias dedicou-se a falar sobre adeclaração de Pelé que repercutiu negativamente em meio aos protestos. O jornalista avaliou que o ex-jogador pediu que as pessoas “esquecessem toda essa confusão” e apoiassem a seleção brasileira, “talvez sem entender a força das manifestações – que não são contra a seleção, mas contra os políticos que, segundo as pessoas acreditam, têm esbanjado milhões inflando os orçamentos da construção dos estádios”.
O texto ressalta que Pelé é “uma peça fundamental deste Mundial, mimado tanto pelo governo como pela Fifa”. E que as duas instituições agora são questionadas nas ruas. “Pelé se viu apanhado entre a fidelidade ao apoio oficial à Copa, contestado pelo movimento popular, e o medo de cair em desgraça com as pessoas que estão nas ruas. Sua angústia e sua retratação são compreensíveis”. “E talvez seu recuo signifique que o velho e astuto jogador viu que as ruas começam a triunfar, enquanto os palácios tremem”. 

As informações são da Veja