terça-feira, 24 de dezembro de 2013

UTI neonatal da Santa Casa de Sorocaba pode fechar

Funcionários fazem manifestação pelo atraso de parcela do 13°
 
 
 

Funcionários e familiares de pacientes interditaram, por alguns instantes, os dois sentidos da avenida São Paulo em frente à Santa Casa de Misericórdia (Foto: Fernando Rezende)
 
 
Cerca de 100 pessoas entre funcionários e familiares de pacientes internados na Santa Casa e no Pronto-Socorro Municipal (PSM) fizeram um protesto em frente ao local na manhã do dia 22, e interditaram por diversos momentos os dois sentidos da avenida São Paulo. Com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de Sorocaba e Região (Sinsaúde), o grupo contou com carro de som e cartazes para chamar a atenção da população. Eles pediram a saída do provedor da Santa Casa, José Antônio Fasiaben, e afirmaram que, se o pagamento da segunda parcela do 13° salário não fosse depositado até as 16 horas de ontem, iriam protocolar um documento alertando uma possível greve por tempo indeterminado, após 72 horas. No início da noite, o presidente do Sinsaúde, Milton Sanches, afirmou que o documento fora protocolado, mas a entidade estava em assembléia, quando receberam a informação de que os depósitos começaram a ser feitos.

Médicos que atendem no PSM estão há três meses sem receber seus salários e, por isso, segundo informações de funcionários, muitos estão pedindo demissão ou abandonando o cargo. A falta de profissionais seria o motivo do anúncio de fechamento da UTI neonatal, que não receberá mais pacientes a partir de sexta-feira (27). Em um comunicado assinado pela coordenadora da enfermaria pediátrica da UTI, Soraya N. Bastos, a equipe de funcionários informa que, diante da falta de recursos financeiros, o setor vai encerrar suas atividades em 17 de janeiro e pede a colaboração em relação às datas para que “a população não seja prejudicada”. Em resposta à informação, a Santa Casa afirmou que não há qualquer determinação sobre o fechamento dos setores de pediatria e UTI neonatal, e que somente os médicos que atendem no PSM estão sem pagamento. Quanto aos que teriam pedido demissão ou abandonado o posto, disse que os profissionais são contratados por empresas prestadoras de serviços que providenciam a substituição em caso de desligamento, mas não informou o número de trabalhadores. 

MANIFESTAÇÃO – O grupo de manifestantes reuniu-se em frente ao hospital por volta das 8h40, onde permaneceu por uma hora bloqueando parte da via. Enquanto alguns motoristas apoiavam o ato dos manifestantes, outros não gostavam do congestionamento. Agentes de trânsito da Urbes auxiliaram na fluidez do trânsito e, próximo ao final do ato, a Polícia Militar (PM) pediu para que o carro de som diminuísse o volume do microfone usado pelo sindicato. Entre os funcionários que participaram da ação, estava o médico especialista em clínica médica e cardiologia, que atua na UTI adulto, Eduardo Mattos, que há 17 anos trabalha na Santa Casa. Ele afirma que, devido à falta de pagamento, teve de emprestar dinheiro do seu pai, prática que seus colegas também estão fazendo para continuar atuando no local. “Somos contratados como autônomos e não temos férias ou 13°, mas nem o período que trabalhamos, eles estão pagando.” 

Mattos conta que, como muitos profissionais pediram demissão, os que permanecem na instituição precisam dobrar o tempo de serviço, ficando até 36 horas no hospital. O médico diz que os atrasos de salários em até um mês são comuns a pelo menos três anos, e que esta é a primeira vez que chega a tanto tempo em receber a remuneração. “Estão trocando piso no primeiro andar do Pronto-Socorro e nós ficamos sem salário”, desabafa. Segundo o anestesista Francisco Mendes, os funcionários não pararam de fazer os atendimentos pensando nos pacientes. “A população vai achar que somos mercenários, mas estamos sem salário e pedindo melhores condições de trabalho”, diz ele, que trabalha na instituição há 28 anos. Funcionários também afirmaram que o PSM atua som somente um médico. 

RESPOSTAS – A Santa Casa reconhece o atraso no pagamento dos funcionários e afirma que passa por dificuldades financeiras “que afetam, não apenas o hospital de Sorocaba, como também o resto todas as demais Santas Casas do País”. Por esse motivo, a Prefeitura adiantou o repasse que seria feito somente no dia 30, com isso, os salários poderiam ser regularizados ainda ontem. 

Sobre a reforma no primeiro andar do PSM, a instituição afirma que o trabalho é orçado em R$ 300 mil com o objetivo de melhorar as instalações propiciando maior conforto aos pacientes. De acordo com o hospital, os recursos foram conseguidos através de emenda parlamentar apresentada pelo deputado federal Jefferson de Campos. Por sua vez, a Prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, informa que o repasse mensal ao PSM é de R$ 1.500.000,00 milhão e que não pode intervir no caso de atraso dos salários, já que os trabalhadores possuem vínculo com a Santa Casa de Misericórdia. 


Pannunzio não quer intervir no hospital

Durante a inauguração do Ambulatório Médico de Especialidades (AME), o prefeito Antônio Carlos Pannunzio (PSDB) comentou a situação da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba, e afirmou que confia na direção quanto a uma recuperação e comparou uma intervenção a um remédio amargo. “Não pretendo intervir, a instituição é bicentenária, tem tradição e acredito na competência da direção.” Entre repasse do tesouro municipal e do Sistema Único de Saúde (SUS), o hospital recebe R$ 60 milhões por ano, informou o prefeito. Ele afirma que na manhã de ontem pediu o adiantamento do pagamento diretamente ao secretário da Fazenda, Aurílio Sérgio Costa Caiado, e disse que é preciso honrar com o salário dos funcionários. Sobre o possível fechamento da UTI neonatal, afirmou desconhecer o fato e que a ação prejudicaria muitos pacientes. 

“Eles têm a obrigação de atender. Neste ano, inauguramos a UPH da zona leste, aumentando em 33% a capacidade de atendimento, a UBS do Parque São Bento e outras unidades estão em construção.” Sobre a informação de que o PSM estaria com apenas um médico e sobre uma possível penalidade à Santa Casa, Pannunzio disse que multar não resolveria o problema, pelo contrário, levaria a agravar a situação. “Estamos fazendo de tudo pra ajudar. Medidas drásticas são doloridas”, disse comentando o caso do lixo na cidade. 

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que todas as instituições que atendem ao SUS passam por dificuldades, visto que a tabela de repasse não é corrigida há 10 anos. Ele diz que seria necessário desenvolver uma campanha nacional para que fosse feito reajuste da tabela. “O SUS paga 40% em caso de cirurgia, que precisa ser reajustado pelo governo federal. Quem atende ao SUS sem ser o governo, são os hospitais beneficentes e as Santas Casas.” 

Alckmin diz que não é possível diminuir o financiamento da saúde, mas ressalta que o Estado liberou R$ 535 milhões às Santas Casas do Estado, e a de Sorocaba vai receber R$ 254 mil a mais por mês, totalizando R$ 3 milhões no ano. Com as unidades de Itapeva, Capão Bonito e Itapetininga, a região receberá R$ 18,4 milhões só para atender aos pacientes. “Não é pra fazer prédio nem comprar equipamento, é para custeio. Não adianta ter prédio e ficar ocioso, é pra melhorar e atender bem.” O governador também afirmou que a partir de janeiro passam a vigorar os hospitais estratégicos, estruturantes e de apoio no Estado.

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