sábado, 11 de janeiro de 2014

Metade dos oncologistas deixa o cargo na Policlínica de Sorocaba

Dos 6 médicos, 3 não concordaram em ter de fazer apenas o diagnóstico
"Estamos passando por algo que chamo de caos oncológico", diz Brondi - ERICK PINHEIRO


     André Moraes
andre.moraes@jcruzeiro.com.br

Metade dos médicos que fazem parte do setor de oncologia e mastologia da Policlínica de Sorocaba deixaram seus cargos, desde outubro do ano passado. Isso aconteceu por conta de uma decisão da Secretaria de Saúde, de não permitir que os médicos incluam em suas cargas horárias de atendimento no local a marcação de cirurgias, que geralmente são feitas na Santa Casa. De acordo com o cirurgião oncológico e mastologista Luiz Antonio Guimarães Brondi, que fazia parte da equipe, os profissionais não concordaram com essa medida, por acreditarem que eles precisam fazer todo o acompanhamento dos pacientes que possuem algum câncer, como o de mama, que é o mais frequente, não podendo apenas fazer o diagnóstico e entregá-lo a outro médico. "O paciente oncológico possui uma doença crônica, que tem que ser acompanhada pelo resto da vida, porque é uma doença que pode retornar", opina. Anteriormente, o setor de oncologia possuía seis médicos, porém três deles decidiram não continuar no atendimento dos pacientes daquela unidade de saúde.

Segundo Brondi, tudo começou em outubro de 2013, quando houve a revogação do decreto nº 8.376 de junho de 2010, do ex-prefeito Vitor Lippi (PSDB), que permitia o pagamento extra aos médicos que atendem nas unidades de saúde do município, pela realização de cirurgias. Antes disso acontecer, o mastologista conta que os médicos do setor da Policlínica faziam o diagnóstico dos pacientes e, como o local não possui estrutura adequada para a realização de procedimento cirúrgicos, eles mesmos marcavam um horário na Santa Casa, por conta do convênio feito entre aquela instituição e a Prefeitura. "Hoje, na Policlínica, atendemos os pacientes e depois mandamos para uma Central de Cirurgia. Para pacientes com câncer, não é possível fazer isso, como nas cirurgias de rotina, em que fazemos o procedimento, damos alta e não precisa mais ter um acompanhamento do paciente. Existe um grupo na Santa Casa, de médicos oncológicos, aos quais podemos encaminhar os pacientes, mas não é o mesmo grupo de cirurgiões que está atendendo ao paciente. É um outro cirurgião, que vai ter que fazer tudo outra vez, toda a ficha e avaliação do paciente. É um problema", relata.

O médico ainda informa que a equipe de oncologistas da Policlínica precisa cumprir uma carga horária de 15 horas semanais na unidade, que antes era revezada entre atendimentos clínicos e cirurgias, algo que não é mais possível. "Não há necessidade de ficarmos três horas por dia na Policlínica. Antes eu ia três vezes por semana na Policlínica e nos outros dois dias estava na Santa Casa operando. Agora foi retirado de nós esse horário cirúrgico. Isso dificulta muito nosso trabalho", diz.

Diante de toda essa situação, a maioria dos médicos do setor de oncologia e mastologia decidiu deixar seu cargo na Policlínica, fazendo com que a equipe fique desfalcada. Antes eram seis médicos, porém três já saíram da unidade e uma outra médica, que encontra-se sob licença maternidade, ainda não tem certeza se irá retornar à atividade, segundo Brondi. "Existem ainda dois colegas lá, que não sei se vão continuar atendendo, porque eles não podem fazer suas próprias cirurgias. As nossas pacientes atuais estão completamente perdidas. Tínhamos muitos colegas especializados na Policlínica, que faziam direitinho o atendimento, não tinham filas para pacientes oncológicos fazerem cirurgias. Estamos passando aqui em Sorocaba por algo que chamo de caos oncológico", afirma.


Atendimentos na Santa Casa


O secretário de Saúde, Armando Raggio, relata que não há possibilidade de encerrar as atividades do setor de oncologia e mastologia da Policlínica, mesmo com essas dificuldades apresentadas, por conta da saída de metade dos médicos. "Desejamos que os oncologistas continuem na Policlínica. Eles são importantes para nós, não tenho dúvidas de que eles vão contribuir para o serviço de triagem e encaminhamento", ressalta.

Porém, ele alega que o fato dos médicos não poderem realizar as cirurgias dos pacientes que atendem na Policlínica faz parte do processo de contratualização realizada pela Prefeitura, em que as instituições que firmam esses contratos com o Poder Público ficam totalmente responsáveis pelos procedimentos encaminhados pelas unidades de saúde municipais. "A Policlínica é estratégica, mas não é uma unidade de tratamento oncológico completa. As unidades chamadas Unacom (Unidades de Assistência de Alta Complexidade), autorizadas pelo Ministério da Saúde, são contratadas por instituições prestadoras. No caso de Sorocaba é a Santa Casa. Discutimos com a Santa Casa e eles disseram estar preparados para dar todo o atendimento necessário naquela unidade de oncologia", afirma.

Apesar de toda a dificuldade que a Santa Casa passa hoje, por conta de problemas financeiros que acabaram fazendo com que alguns médicos saíssem da instituição, e outros funcionários entrassem em estado de greve, pela falta de pagamentos, Raggio diz que espera que a Santa Casa consiga cumprir com todas as obrigações contidas no processo de contratualização.

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