domingo, 5 de janeiro de 2014

Sorocabanos desafiam o perigo para driblar o calor

Ar abafado aumenta chance de afogamentos


Mesmo com o aviso em uma das pedras, banhistas se arriscam na cachoeira da Chave, em Votorantim (Foto: Fernando Rezende)
Há menos de um mês, a estação mais quente do ano teve início e, com ela, a tentativa de diminuir a sensação de calor, seja através de alimentos como sorvete ou se refrescando em piscinas. No entanto, as pessoas que não têm uma piscina à disposição, procuram outros meios de se refrescar como lagoas, rios e represas. E é aí onde mora o perigo. Nesta época, o número de casos de afogamentos aumenta consideravelmente em praias, rios, lagoas, cachoeiras ou em piscinas. Pais e responsáveis devem ficar atentos ao levar crianças aos locais, pois todo cuidado é pouco. 

No Brasil, o afogamento é a segunda causa de morte dos menores, como mostra um levantamento realizado pela ONG Criança Segura. Segundo os dados, 36% das ocorrências envolvem adolescentes entre 9 e 14 anos. Em seguida aparecem crianças de 1 a 4 anos, em 35% dos casos, seguidos de pequenos entre 5 e 9 anos, em 26% dos afogamentos. Os dados ainda apontam que a maioria das vítimas é de meninos, presentes em 67% dos registros. 

Entretanto, adultos também são vitimas de afogamentos e a recomendação é para que evitem ingerir bebida alcoólica antes do nado, pois pode prejudicar o equilíbrio e o reflexo. Em um dos locais mais frequentados na região, a cachoeira da Chave, em Votorantim, não é difícil avistar garrafas de cerveja à beira da água, o que mostra que muitos banhistas consomem o produto no local. Embalagens de alimentos e roupas também se acumulam ao redor da cachoeira, que, na manhã de ontem, recebeu dezenas de visitantes. Entre eles, muitas crianças e até bebês de colo, acompanharam o passeio das famílias. A frase pintada em uma pedra, “Perigo de morte, não pule”, não intimida os mais ousados, diz o comerciante Airton Pereira Nunes, conhecido como Japão, que há pelo menos 18 anos vende churrasquinho próximo à cachoeira. 

“Já vi muitos afogamentos e ajudei a salvar bastante gente”, conta. Para ele, o ano de 2013 foi o mais tranquilo e não se lembra de nenhuma morte no local. O comerciante afirma que os pontos mais perigosos ficam na chamada ‘ilha’, onde há um buraco profundo e a pedra de onde muitos visitantes saltam, quando podem chocar-se com pedras à beira da água. No momento em que Nunes mostrava a pedra à equipe do DIÁRIO, um homem aparentando estar embriagado, saltou do local. O comerciante diz que, por conhecer a região, alerta e dá dicas aos visitantes de fora, e comenta sobre um caso recente. “Um homem embriagado apareceu com dois meninos pequenos, que começaram a nadar, e ele não cuidava. Quando vi os dois estavam se afogando e gritei para salvarem. Logo depois foram embora, mas um dos meninos virou e disse: ‘Valeu por salvar nossa vida’”, conta emocionado.    
No Éden, a represa do reservatório da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) é procurada por vários banhistas. Placas instaladas na grade que cerca parte da água indicam que é proibido o nado. Pessoas também vão pescar no local, na avenida Conde Zeppelin, onde já foram registradas mortes por afogamento. O jovem Jhonis Santana da Silva, 15 anos, morreu após se afogar no local quando foi nadar com familiares, no dia 8 de setembro do ano passado. Os Bombeiros iniciaram a busca poucas horas depois do ocorrido, mas o corpo foi encontrado dois dias após o afogamento. O desempregado Leandro Evangelista da Silva morava no Éden e conta que nadava com frequência na lagoa. Na manhã de ontem, ele levou a filha Maria Estela da Silva, 6 anos, e o sobrinho Marcelo Júnior da Silva Chaves, de 13, para se refrescarem na parte considerada rasa da represa. “A água é traiçoeira, dá medo, por isso sempre fico por perto”, diz. 

A comerciante Alzira Sorio estaciona há cerca de cinco meses, ao lado da lagoa, um veículo onde vende lanches aos visitantes. Ela conta que nas últimas semanas o movimento aumentou, mas que nunca presenciou afogamentos. No espaço ainda há aparelhos de ginástica e um chafariz, que, se fosse ligado, Alzira acredita que diminuiria o número de pessoas dentro da lagoa. “Muita gente também diz que seria bom pra refrescar.” 

Na época em que o jovem Jhonis morreu afogado no local, os bombeiros informaram que a área é irregular, ou seja, a profundidade varia muito e pode chegar a oito metros. Em 2013, mais óbitos por afogamentos foram registrados na cidade e região. No dia 29 de dezembro, um homem de 33 anos morreu afogado na represa de Itupararanga, em Votorantim, conhecida como Light. Na ocasião, o Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 15h30 e encontraram o corpo horas depois. Em 15 de setembro, outro homem de 40 anos veio a óbito após se afogar numa lagoa localizada na estrada do Varejão, em Aparecidinha. 

PREVISÃO - Para hoje, de acordo com a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a máxima é de 28°C e mínima de 21°C, mas a sensação térmica pode ser maior. Nesta segunda-feira (6), a temperatura deve cair pouco, com máxima de 27°C e mínima de 20°C, enquanto na terça-feira (7) a previsão é de máxima de 28°C e mínima de 20°C; já na quarta-feira (8), os termômetros voltam a subir e podem atingir máxima de 31°C e mínima de 21°C. 


Orientações ajudam a evitar afogamentos

• Adultos devem permanecer próximos às crianças, mesmo que essas saibam nadar; os menores também devem usar boias e seguir a frase “água no umbigo, sinal de perigo”;

• Banhistas devem evitar locais isolados e preferir espaços onde há guarda-vidas;

• Em caso de cachoeiras, tome cuidado em épocas de chuva, que podem mudar o ritmo das águas; 

• Não tome bebida alcoólica e faça refeições antes de entrar na água;

• Não salte de locais elevados;

• Não tente salvar pessoas em afogamento sem estar devidamente habilitado;

• Prefira lançar objetos flutuantes (bolas, boias, isopores, madeiras, pranchas e outros) ou, então, corda para salvar pessoas ao invés da ação corpo a corpo;

• Observe a sinalização do local e respeite-as; 

• Preste atenção na água; muitas vezes a observação é suficiente para perceber alterações que levam a concluir que está poluída ou é perigosa para banho;

• Tome cuidado ao caminhar sobre as superfícies rochosas, pois podem estar escorregadias e você pode cair ou se cortar;

• Somente conduza embarcações se for habilitado e longe dos banhistas;

• Instrua a criança do perigo existente em entrar em águas mais profundas ou ficar só;

• Evite brincadeiras fingindo que está se afogando, pois, além de perturbar a paz pública, havendo um afogamento verdadeiro as pessoas podem não dar importância pensando tratar-se de outra brincadeira de mau gosto;

• A qualquer problema, ligue imediatamente para o Corpo de Bombeiros para orientações e auxílio à vítima.

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