sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Abelhas continuam a sumir na região de Sorocaba

Estudos indicam que problema está nos agrotóxicos; apicultores criam Frente Parlamentar
Na região, são produzidas 12.500 toneladas de mel, diz Alves - ARQUIVO JCS/ADIVAL B. PINTO


     Marcelo Roma
marcelo.roma@jcruzeiro.com.br 

As abelhas continuam a sumir das colmeias na região de Sorocaba, quando não são dizimadas totalmente de alguma propriedade. O problema tem a ver com o uso de agrotóxicos nas plantações, diz o presidente da Cooperativa de Apicultores de Sorocaba e Região (Coapis) e também da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo (Faamesp), Alcindo Alves. No dia 3 de dezembro, ele e outros representantes de apicultores estiveram em Brasília para o lançamento da Frente Parlamentar da Cadeia Apícola e da Cajucultura. Segundo Alves, faz parte da frente o deputado federal Nelson Marquezelli (PTB), representando São Paulo. Há proposta de criar também uma bancada para a cadeia da apicultura. 

De acordo com o presidente da Coapis e da Faamesp, o desaparecimento e a mortandade das abelhas será uma das pautas da frente parlamentar. O problema afeta a produção de mel e, mais grave, poderá reduzir a produção agrícola em geral, pois a abelha, assim como outros insetos, é responsável pela polinização das plantas. Também participaram do lançamento da frente parlamentar o presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), José Gumercindo Cunha, e o presidente da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc), Nésio de Medeiros. Eles querem também que seja regulamentada a profissão de apicultor. Conforme Alves, o Congresso aprovou projeto nesse sentido, mas que foi vetado pelo presidente Lula. 

Além do sumiço, na região, das abelhas das colmeias com fins comerciais, entre 8% e 10% ao ano, está ocorrendo mortandade em algumas propriedades, diz Alves. Há cerca de um mês, um apicultor de Itapetininga perdeu todas as abelhas de 70 colmeias, aproximadamente 5 milhões, conta ele. Cada colmeia tem entre 60 mil e 90 mil. Os insetos foram encontrados mortos havia alguns dias, portanto, em estado de decomposição. Por isso, não foi possível realizar análise do que causou a mortandade, diz Alves. As colmeias, em caixas de madeira, foram levadas pelo apicultor de Itapetininga para perto das plantações de laranja, para a polinização da florada. Segundo Alves, nesse caso específico não há como a mortandade não ter relação com o uso de agrotóxicos nos laranjais. Com a perda das abelhas, o apicultor deixou de colher em torno de 1,7 tonelada de mel. 

Em Gavião Peixoto, região de Araraquara, produtores de mel estimaram a mortandade das abelhas em 2 milhões nos últimos meses. A suspeita também é de uso indiscriminado de defensivos agrícolas nas plantações de laranja e de cana-de-açúcar. O presidente da Faamesp lembra que, no ano passado, colmeias também foram dizimadas em Itatinga, perto de Avaré, e em municípios de Santa Catarina. O problema começou em 2011 na região de Sorocaba e vem se intensificando, diz Alves. Tratado pelo termo científico de Desordem do Colapso das Colônias, foi detectado inicialmente nos Estados Unidos em 2006, e atingiu também países da Europa. 

Pesquisadores trabalham para confirmar as causas, mas já houve indícios que tem a ver com o uso maior de agrotóxicos, conforme o presidente da Faamesp. Já se falou em vírus e influência das redes de celular e internet sem fio. "No caso de Itapetininga, provocou a morte de todas as abelhas, perto das colmeias; em relação ao desaparecimento, os agrotóxicos parecem afetar o instinto de orientação delas, por isso, somem", diz ele. 

As grandes empresas de citricultura, que têm plantações na região, já consideram o problema como consequência do agrotóxico. Representantes das empresas avisam os apicultores para fechar as colmeias ou transferi-las para outros lugares nos dias de pulverização dos laranjais, quando a concentração do defensivo é maior, diz Alves. Segundo ele, é uma medida restrita, pois não há um cadastro geral de apicultores em cada município. A Coapis tem 12.500 associados em 47 municípios e Alves considera que existam mais 5 mil apicultores não associados. 

A citricultura depende da polinização da florada pelas abelhas, por isso os agricultores querem tê-las por perto. O presidente da Faamesp estima em cerca de 30% a queda na produção de laranjas numa propriedade, sem a presença das abelhas. Alves ressalta que o problema não é só dos apicultores, mas também da agricultura e do meio ambiente de maneira geral. 

A frente parlamentar tem o objetivo de fortalecer a cadeia da apicultura no País e apoiar projetos que incentivem o consumo de mel e derivados. Nos 47 municípios da região, abrangidos pela Coapis, são produzidas 12.500 toneladas de mel por ano, conforme Alves. "No Brasil, o mel é considerado mais remédio do que alimento. Temos que mudar isso." O produto ainda é caro para padrões brasileiros. O pote de 400 gramas custa, em média, R$ 15 nos supermercados, feiras e lojas especializadas. No atacado, porém, sai mais barato, em torno de 40%. A própria Coapis comercializa mel, no atacado. O telefone é (15) 3234-5036.

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