quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sorocaba - Número de médicos aprovados é menor que o de vagas oferecidas

Secretário da Saúde admite resultado abaixo do esperado e não descarta nova seleção
Os aprovados no concurso devem iniciar trabalhos em agosto - Arquivo JCS/Fábio Rogério




     Rosimeire Silva
rosimeire.silva@jcruzeiro.com.br
O número de médicos aprovados no concurso público realizado pela Prefeitura de Sorocaba, para suprir a carência de profissionais na rede municipal de saúde, ficou abaixo do número de vagas oferecidas. Dos 246 inscritos no processo de seleção para a preenchimento de 189 cargos, 149 foram habilitados na primeira lista de classificação divulgada pela empresa Publiconsult, responsável pela realização do concurso. Outros 41 candidatos foram reprovados e 56 deixaram de fazer a prova.
 

O secretário municipal de Saúde, Armando Raggio, reconheceu que o resultado ficou abaixo das expectativas e não descartou ter que abrir novo concurso. Ainda admitiu que a curto prazo não há como suprir a falta de médicos em algumas especialidades: "Vamos ter que continuar a administrar esse quadro". A previsão é de que os convocados no concurso sejam chamados a partir da próxima semana, de acordo com a sua classificação, para iniciar as atividades no início de agosto.

Em algumas especialidades, o número de médicos habilitados não chegou a 1% do total de vagas oferecidas. Como é o caso do cargo de médico plantonista pediatra, que tinha 33 vagas, mas dois de um total de dez inscritos foram aprovados. Ainda na área de pediatria, para as 25 vagas para atendimento em consultório, seis profissionais foram habilitados no concurso, de um total de 10 inscritos. Outra especialidade que não atingiu o número de vagas foi a de ginecologia: dos 16 profissionais inscritos, 13 realizam a prova e foram aprovados para as 29 vagas disponibilizadas.

Apenas para o cargo de médico plantonista clínico geral, o número de aprovados (63) superou o total de vagas (39). Também para a função de clínico geral, o total de aprovados (58) foi o mesmo de vagas ofertadas (59). Para as quatro vagas de clínico geral abertas pela Fundação da Seguridade Social dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba (Funserv), sete foram aprovados no concurso. O prazo para recurso contra a classificação venceu ontem.

Baixa adesão e contratação 
O secretário municipal da Saúde acredita que o fato do edital ter sido publicado antes da aprovação do adicional para a remuneração dos profissionais pela Câmara (de 41,79 para R$ 55 por hora) pode ter influenciado na baixa adesão da categoria ao processo de seleção. "Embora nós tenhamos buscado divulgar os novos valores praticados internamente para a categoria, a informação pode não ter sido potencializada ao máximo como deveria, já que a equiparação com os valores pagos na região era uma reivindicação antiga."

Quanto à possibilidade de novo concurso, disse que "primeiro teremos verificar efetivamente quanto profissionais serão contratados para redefinirmos as demandas, já que mesmo aqueles aprovados podem não assumir a vaga". Raggio adiantou, porém, que está em andamento o chamamento de mais 10 médicos plantonistas, sem concurso, para reforçar o contingenciamento de profissionais que atendem nas Unidades Pré-Hospitalares (UPH), sendo cinco na área de pediatria e cinco de clínicos gerais. Os contratos terão validade de seis meses, podendo ser prorrogados por mais seis meses. Justificou que essa medida é necessária para evitar a falta de profissionais nos plantões dessas unidades.

O secretário pretende colocar em prática também uma maior flexibilização do horário e locais de atendimentos dos médicos que atuam na rede, a promover uma conciliação entre as preferências dos profissionais e a necessidade de serviço na rede. "Queremos nutrir uma política de diálogo da categoria para que mais médicos sintam interesse em fazer parte do nosso quadro." 

Programa de residência 
Para incentivar a vinda de novos profissionais, o secretário da Saúde quer implantar na rede municipal o programa de residência médica, dirigido a recém-formados e jovens profissionais da área da saúde. Ele aguardar a publicação de edital pelo Ministério da Saúde para a abertura de adesões, o que deve ocorrer em agosto.

Inicialmente, a intenção do secretário é disponibilizar 120 vagas de residência para atuação no programa Médico da Família, sendo 20 para médicos e 100 para multiprofissionais, entre farmacêuticos, enfermeiros, fisioterapeutas e dentistas. Mas a programa de residência poderá ser estendido para o serviço de saúde mental, além das áreas de clínico geral e pediatria.

A residência seria por um período de três anos, sendo que cada ano poderiam ser aceitas novas adesões. Além da remuneração por meio de bolsas, haveria a opção pela contratação dos residentes. Se houver a aprovação do cadastramento pelo Ministério da Saúde, o programa de residência começaria em março de 2014.

Para a formação dos preceptores, que atuarão na supervisão e orientação dos residentes, o secretário disse que iniciou contato com a Faculdade de Medicina de Sorocaba (PUC/SP) e outras instituições na área da saúde, para o treinamento dos profissionais da rede.

Mais Médicos 
Outra iniciativa que vem sendo conduzida pela Prefeitura para tentar suprir a carência de médicos na rede municipal é a adesão ao programa federal Mais Médicos. Raggio explicou que embora Sorocaba tenha situação mais favorável que outras regiões consideradas prioritárias, como norte e nordeste do País, pode ser uma alternativa para atrair mais profissionais.

"Nós queríamos suprir essa demanda com os profissionais de Sorocaba e da nossa região, mas se isso não está sendo possível não podemos deixar de recorrer a todas as possibilidades." De acordo com o último balanço da Secretaria de Estado da Saúde, 139 das 645 cidades paulistas aderiram ao "Mais Médicos". O prazo de inscrição acaba amanhã.

Resultado não surpreende sindicato
O não preenchimento de vagas no concurso público da Prefeitura de Sorocaba não surpreendeu o presidente do Sindicato dos Médicos de Sorocaba e Região, Antônio Sérgio Ismael. Segundo ele, essa falta de interesse da categoria é justificada tanto pela baixa remuneração como pelas más condições de infraestrutura nas unidades de saúde. 

Embora aprovado um adicional que elevou para R$ 55 a hora paga os médicos, Ismael afirmou que na rede privada o ganho médio é de R$ 80 a R$ 100 a hora. Em relação a algumas especialidades, como a pediatria, frisou que há poucos profissionais no mercado e a remuneração na rede privada é ainda maior, o que explica a dificuldade de contratação no serviço público.

Ismael disse que as condições de trabalho também inibem. A principal deficiência, afirmou, é a falta de segurança nas unidades de saúde, o que coloca em risco os profissionais. "Os médicos que atendem nessas unidades sofrem pressão muito grande devido à falta de pessoal e ainda não contam com uma retaguarda para o encaminhamento dos pacientes em estado grave. Não adianta jogar a culpa nos profissionais, é preciso investir para que mais médicos possam ser contratados."

Sociedade Médica 
O presidente a Sociedade Médica de Sorocaba, Jefferson de Oliveira Delfino, considera que há desinformação dos próprios profissionais sobre as condições atuais da rede pública de saúde de Sorocaba e muitos mantém "ranço" em relação a fatos do passado que desgastaram essa relação com a categoria.

"Se eu estivesse no papel de gestor investiria mais na divulgação sobre o que a rede municipal pode oferecer aos médicos, não só em relação à remuneração, mas em benefícios, como acontece na rede privada." Comentou que além da falta de candidatos para preencher as vagas, o que preocupa é a reprovação na seleção. "Creio que isso está mais relacionado à falta de interesse que à capacidade de nossos profissionais."

O conteúdo é do Jornal Cruzeiro do Sul

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