domingo, 28 de abril de 2013

Bola é condenado a 22 anos de prisão pela morte de Eliza


O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos recebeu a pena de 19 anos pelo homicídio e de 3 anos pela ocultação do corpo de Eliza Samúdio

Por Pâmela Oliveira, de Contagem
Clima no plenário do Fórum de Contagem esquentou durante depoimento do delegado aposentado Edson Moreira
Clima no plenário do Fórum de Contagem esquentou durante depoimento do delegado aposentado Edson Moreira - Renata Caldeira/TJMG
Encerrados seis dias de um tumultuado Tribunal do Júri, marcado por discussões acaloradas e troca de acusações entre defesa e acusação, o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi condenado a 22 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado - morte por esganadura mediante impossibilidade de defesa - e ocultação do cadáver de Eliza Samudio. A jovem foi morta em 10 de junho de 2010, na casa de seu executor, em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte.
O réu, que afirma ser inocente, foi condenado a 19 anos por homicídio e a 3 anos por ocultação de cadáver. O júri, composto por quatro homens e três mulheres, condenou Bola pelos dois crimes. A sentença foi lida às 23 horas e 45 minutos do sábado pela juíza Marixa Fabiane Rodrigues.
Na leitura da sentença, a juíza Marxixa Rodrigues afirmou que o réu agiu com plena consciencia da gravidade de seus atos e com a certeza da não culpabilidade, além de total desprezo e impiedade pela vida humana. Bola foi descrito como agressivo, impiedoso e de personalidade desviada. "Ao suprimir o corpo, privou a família de dar-lhe um sepultamento digno e de ter um lugar para preservação da memória. Ele usou do treinamento militar para instaurar o medo por onde passava. O assassinato foi com requintes de crueldade, e ele praticou o crime perfeito, pois a ocultação se perpetua até hoje."
Para o promotor Henry Castro, a sensação é de dever cumprido. "Estou satisfeitíssimo, mas não posso dizer que estou feliz pois uma pessoa foi assassinada e teve o seu corpo ocultado", afirmou ele, que completou com um balanço dos seis dias de julgamento. "De todos os anteriores, esse foi o mais difícil porque não houve nenhuma colaboração por parte do acusado, pela falta do corpo e pela capacidade da defesa." 
Derrotado, o advogado Ércio Quaresma disse que recorreria da decisão. O advogado insiste que seu cliente foi vítima de perseguição. Mas, apesar de todas as manobras e tentativas de desqualificar as investigações policiais, ele não conseguiu convencer o júri da inocência do réu, apontado pelo Ministério Público como “matador profissional”.
Último dia - A última sessão do mais longo Tribunal do Júri do chamado Caso Bruno foi marcada por insinuações e provocações entre defesa e acusação. O promotor Henry Castro foi chamado por Quaresma de “canalha” e “mentiroso” e até mesmo de “moço garboso com gomalina” – referência ao visual nerd e o cabelo bem penteado. Já cansado das provocações, Castro perdeu a habitual paciência com que vem conduzindo o júri e disparou contra o advogado de Bola, que sexta-feira bradou exigindo que o promotor fosse “homem pela primeira vez na vida”.
“Quem não é homem é você, seu crápula. Quem não é homem é você que tenta denegrir a imagem de duas honradas delegadas ao fazer Dayanne Rodrigues (ex-mulher do goleiro Bruno Fernandes) a escrever uma carta fazendo falsas acusações. Ele tem é ódio da absolvição e de Dayanne. Sabe quando eu seria justo na concepção desse crápula? Se eu pedisse a absolvição desse verme”, disse, apontando para o executor de Eliza. “Esse imundo, covarde, teve coragem de ameaçar uma mulher”, disse, referindo-se a Quaresma, que ameaçou Ingrid Calheiros, atual mulher de Bruno.
Debates - Durantes os debates, a promotoria contestou os argumentos da defesa, que relaciona a ausência de vestígios de Eliza na casa de Bola à impossibilidade de se afirmar que o crime aconteceu na residência do réu. O promotor Henry Castro lembrou que não foram encontrados sangue, cabelo, unha ou qualquer outro fragmento corporal de Eliza no sítio do goleiro Bruno. E reforçou que ninguém questiona que a jovem esteve no sítio dias antes de sua execução.
”Bruno, Macarrão e Elenilson conseguiram evitar que polícia encontrasse um fio de cabelo, uma gota de sangue que pudesse ser identificado como sendo de Eliza. Não podemos esquecer que eles são amadores. E estamos diante de um assassino covarde e profissional. De alguém experimentado na arte de matar, de um psicopata. Mais do que natural de que na casa dele nada se encontrasse de Eliza também. Como de fato nada se encontrou”, disse o promotor.
Castro lembrou ainda que o goleiro Bruno Fernandes afirmou durante julgamento em novembro do ano passado, quando foi condenado a 22 anos e três meses de prisão, que Luiz Henrique Romão, o Macarrão, revelou ter contratado Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para executar Eliza.
Já Ércio Quaresma, que lidera o grupo de onze advogados de defensa do réu, começou seu debate contando que foi viciado em crack. Durante tempo expressivo, o controverso advogado, que ao longo dos seis dias de Tribunal de Júri discutiu com testemunhas, com o promotor e até mesmo com a juíza Marixa Fabiane, pressionou os jurados argumentando que se sentiriam culpados pela condenação de um inocente. Dizendo ser um ser “desprezível”, Quaresma pediu para que os jurados não condenassem Marcos Aparecido por seus erros e destemperos durante o julgamento.
“Talvez o crack tenha matado alguns neurônios meus, mas não matou meu caráter. Minha decência. Não há provas. Ele mente, trabalha com a farsa. Ele condena um tirando a cabeça do ouro. Não sejam fantoches”, disse Quaresma, que terminou sua tréplica segurando um boneco nas mãos e afirmando que a defesa fez acordo para condenar os demais. Mesmo após ajoelhar-se diante do júri, não convenceu.

A ficha corrida do ex-policial Bola, acusado de matar Eliza

Marcos Aparecido dos Santos é acusado de asfixar a jovem até a morte, em junho de 2010.

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Carreira na polícia


Paulista de Santo André, Bola - também conhecido como Neném e Paulista - fez três tentativas de seguir carreira na polícia, entre 1984 e 1992. Em todas foi expulso da corporação por indisciplina: duas vezes em Minas e uma em São Paulo. Passou a atuar, então, como informante, integrando clandestinamente equipes de investigação do Grupamento de Resposta Especial (GRE), a tropa de elite mineira. Era reconhecido como um atirador habilidoso e, aos poucos, especializou-se em matar. Em 2008, começou a dar cursos de tiro a recrutas. As aulas eram ministradas em seu sítio, na cidade mineira de Vespasiano, conhecido como “casa da morte” - é onde o Ministério Público afirma que Eliza Samudio foi asfixiada até a morte. No local, o ex-policial também adestrava cães - os rottweilers aos quais ele teria atirado uma das mãos da ex-amante de Bruno.
As informações são da Veja.

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