sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Modelo lança livro que desmistifica o glamour da profissão

Com 12 anos de passarela, Michelli Provensi revela, com muito bom humor, as agruras da cobiçada carreira fashion

Raquel Carneiro
A modelo Michelli Provensi
A modelo Michelli Provensi  (Bruno Torturra/ Divulgação)
Depois de muitos altos e baixos, Michelli Provensi pode dizer que encontrou o equilíbrio profissional – e emocinal. Sem ter chegado a top model, apenas a modelo “real”, como ela mesmo diz, a garota de 28 anos, 1,77 de altura e 52 quilos, não se importa mais se será ou não escolhida para um trabalho, garante que está longe de ser milionária e resignadamente admite que “Gisele só existe uma”.
Natural do pequeno município de Maravilha, em Santa Catarina, Michelli se tornou modelo por acaso. Sua mãe morreu na mesma época em que ela participou do concurso que a levaria a trabalhar em São Paulo, cidade em que vive até hoje. A profissão abraçada na mudança foi tanto uma fuga para as dores do luto como uma via para realizar o sonho de viajar o mundo.
As histórias acumuladas em sua bagagem desde então deram origem ao livro Preciso Rodar o Mundo, editado pela Da Boa Prosa e lançado na última terça-feira durante a São Paulo Fashion Week (SPFW). Habitué da semana de moda paulistana, a modelo desfilou em todas as edições desde que entrou para a profissão, aos 16 anos.

Apesar da aura de glamour que envolve a carreira mais chamativa do mundo da moda, Michelli garante que a vida de modelo não é fácil e que a autoestima das garotas nem sempre é tão elevada quanto indicam os rostos sisudos sobre a passarela. “Meu ideal de beleza na infância era a Carla Perez. Eu queria ter curvas”, diz a catarinense em tom bem-humorado, o mesmo usado nas páginas de seu livro e na entrevista concedida ao site de VEJA.

O que a motivou a escrever Preciso Rodar o Mundo? Sempre gostei de escrever. Quero fazer um livro de ficção, mas antes quis relatar os bastidores da vida de uma modelo. Não sou e nunca fui top model, sou uma modelo real. Não cheguei ao patamar de uma Gisele Bündchen, não abri desfile da Chanel ou pousei para a capa de grandes revistas de moda europeia. As pessoas têm a mania de jogar todo mundo no mesmo pacote. Essa vida de glamour acontece para poucas. E mesmo as que chegam lá ralaram muito para isso. Sem desmerecer ninguém, minha intenção era levar as pessoas a ter uma visão mais humana da profissão. Somos humanas e não apenas “cabides”.
A ideia de ser cabide a incomoda? Não mais, pois aprendi que nessa carreira você não deve levar nada para o lado pessoal. Porque você é julgada pelo que é por fora e não pelo que pensa. Ponto final. Sempre gostei de ter opinião, de ser escutada, de participar, mas ser modelo, na maioria das vezes, é viver de imagem.
Existe um preconceito de que modelos são burras. Isso atrapalhou quando você decidiu fazer um livro? Não, pelo contrário, serviu como incentivo. Queria provar o contrário. Conheço muitas modelos inteligentes e interessantes. Como jogadores de futebol. No livro, até comparo as duas carreiras, no capítulo “Gisele Bündchen e Pelé só tem um”, frase que meu pai costuma dizer quando perguntam se eu estou milionária. Porque a maioria das crianças quer ser ou modelo ou jogador, e engraçado que são as profissões em que as pessoas são mais apontadas como ignorantes. No entanto, uma modelo precisa ser esperta para durar na profissão.

Começar a carreira tão cedo não dificulta a rotina de estudos? Sim, principalmente pela agenda de viagens. Então, a maioria tem que abandonar os estudos. Como sou filha de professores, meu pai sempre pegou no meu pé para que eu terminasse o colégio. Ele também me ensinou a aproveitar as viagens pelo mundo como maneira de aprender. Quando viajo, tento ao máximo absorver a cultura local. Aprendi inglês e francês sozinha. Por causa da agenda corrida, tento fazer cursos curtos. Recentemente, fiz um de roteiro, um de jornalismo esportivo e outro de escrita criativa.

Qual a maior dificuldade da vida de modelo? Tive que aprender a não viver a personagem da modelo 24 horas por dia. E a lidar com as frustações. Quando um cliente não gostava de mim, eu ficava arrasada. Mais tarde, compreendi que uma modelo nunca vai agradar a todo mundo. As pessoas têm gostos diferentes e a moda muda muito, exigindo corpos distintos de uma estação para a outra. Para um cliente, você é perfeita. Para outro, não.​
Apesar de ser referência de beleza, uma modelo pode ter problemas de autoestima?Sim, até porque a maioria de nós não costuma ser referência de beleza na infância. Meu apelido na escola era Olívia Palito. Quando cheguei a São Paulo, ouvia que eu era exótica. E pensava: “Então, as pessoas gostam de mim por que sou esquisita?”. Eu me sentia bem em frente à câmera. Mas com os meninos eu era péssima. Minha psicóloga teve que me ensinar a flertar. Ela me levou até a avenida Paulista um dia para me mostrar como fazer isso. As pessoas me olhavam e ela dizia: “Viu só? Os garotos olham para você”. E eu respondia: “Porque sou esquisita, por isso eles me olham” (risos). A dificuldade era tão grande que só dei meu primeiro beijo aos 18 anos.
Hoje se sente melhor em relação a si mesma? Sim, minha autoestima melhorou. Quando você se aceita, se sente mais bonita. O problema é que, para ser modelo, você tem que ter o corpo que agrade aos estilistas. Porém, você é mulher e também quer agradar o namorado. Quer ser admirada pelos homens. Quando eu era criança, meu padrão de beleza era a Carla Perez (risos). Queria ter o corpo dela, com muitas curvas. Hoje a mulher mais bonita para mim é a Fernanda Tavarez, que é magra, mas tem um corpo, digamos, normal.
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