sábado, 14 de setembro de 2013

Defasagem de preços penaliza Petrobras e quebra indústria do etanol

Ao vender gasolina subsidiada, o governo devastou o segmento que produz combustível limpo e 100% nacional

Ana Luiza Daltro
FUTURO INCERTO - Usina desativada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo
FUTURO INCERTO - Usina desativada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo  (Edson Silva/Folhapress)
Há cinco anos, nenhum empresário se arrisca a investir dinheiro para construir uma usina de etanol no Brasil. A venda do álcool nas bombas vem caindo, e 41 unidades de produção deixaram de funcionar desde 2008. A crise do combustível verde já levou à demissão de 45 000 trabalhadores. A quebradeira nas usinas faria supor que a Petrobras estaria acumulando lucros crescentes, vendendo mais gasolina e diesel. Nada mais errado. Forçada pelo governo a postergar reajustes, a estatal tem amargado prejuízo mensal de 1 bilhão de reais com a comercialização dos combustíveis. Desde 2011, a perda alcança 38 bilhões de reais, um montante equivalente a um terço dos 120 bilhões de reais obtidos com a venda de ações em 2010. Quanto mais a Petrobras vende, mais ela perde dinheiro. Incapaz de atender ao aumento do consumo, a empresa, aquela mesma que há poucos anos festejava a autossuficiência, precisa importar volumes crescentes de combustíveis e os distribui no mercado interno a um preço subsidiado.
O Brasil sonhou se tornar a Arábia Saudita da energia verde ao ser o primeiro país a utilizar em larga escala um combustível renovável. Depois, com a descoberta das reservas do pré-sal, imaginou ser um grande exportador de petróleo. A política de preços dos combustíveis, entretanto, obteve o mérito duplo (e duvidoso) de ter arruinado as perspectivas de investimentos no etanol ao mesmo tempo em que retardou a exploração do petróleo. Espera-se que o governo autorize, nos próximos dias, uma alta em torno de 5% para a gasolina e o diesel. A defasagem, contudo, está hoje em 30%. Tamanha alta teria impacto de 1 ponto porcentual na inflação, que subiria para além do teto da meta de 6,5% ao ano. O governo, em vez de controlar a inflação com medidas duras mas perenes, como o aumento mais rápido na taxa de juros e um corte profundo nas despesas públicas, optou pelo atalho canhestro da manipulação de preços. Resultado: quebradeira em série de usinas e queima de recursos que a Petrobras deveria usar na exploração do pré-sal.
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