Câmara de Vereadores foi alvo de vandalismo e focos de incêndio foram espalhados por várias ruas do Centro, onde se reuniram milhares de pessoas
Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Manifestantes se juntaram ao protesto dos professores, que exigem melhores condições de trabalho e contra a violência da polícia no centro do Rio de Janeiro (Marcelo Sayão/EFE)
Mais uma vez, o protesto no Centro do Rio começou de forma exemplar. Por cerca de duas horas os milhares de manifestantes que seguiram da Candelária à Cinelândia conseguiram manter o ato pacífico - o sindicato dos professores diz que reuniu 50.000 pessoas, a PM fala em 10.000. Mas por volta das 20h, as mesmas cenas lamentáveis de depredação e violência voltaram a se repetir. Com o policiamento muito mais fraco do que o costume, a região virou terra de ninguém - ou melhor, dos mascarados que espalharam vandalismo.
A Câmara de Vereadores foi o principal alvo do movimento em apoio aos professores grevistas - que pedem principalmente o cancelamento do Plano de Cargos e Salários aprovado na semana passada. Um grupo tentou invadir o local, forçando a entrada lateral com chutes e jogando pedras. Fogos de artifício foram lançados insistentemente e houve mais de um princípio de incêndio no prédio. Os vândalos ainda atearam fogo em lixos e objetos por várias ruas do Centro, formando espécie de barricadas.
Tudo acontecia na Rua Evaristo da Veiga, a poucos metros do Quartel General da Polícia Militar, que demorou meia hora para se aproximar da região após o início do tumulto. Pela primeira vez, não havia agentes ao longo de todo o percurso da passeata nem em frente à Câmara ou ao Theatro Municipal, onde eles costumavam formar cordões de isolamento. Parte do movimento conseguiu se manter à distância até a chegada do Batalhão de Choque, que lançou muitas bombas de gás lacrimogêneo, dissipando a multidão.
Os que resistiam protagonizavam mais cenas de destruição pelo Centro, e a PM revidava com ainda mais bombas de efeito moral. Inúmeras agências bancárias foram depredadas, algumas com o uso de marretas. Tapumes colocados para a proteção de fachadas foram arrancados. Na Avenida Rio Branco, um ônibus foi incendiado. O Corpo de Bombeiros precisou ser acionado para apagar as chamas. Outro coletivo também foi incendiado na Lapa, para onde migrou parte dos mascarados, por volta das 21h30.
Professores - O black blocs chegaram quase na hora do início da caminhada, por volta das 18h, e tomaram a frente da manifestação. "Uh, é black profes", gritavam todos, deixando clara a união dos dois grupos. Um carro de som dava força às palavras de ordem contra o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e a Polícia Militar. "Fora Cabral. Vá com Paes", repetiam. A presidente também não foi poupada: "E aquela Dilma, que ia mudar o mundo, agora assiste tudo em cima do muro", dizia um dos cartazes.
Enquanto a manifestação ainda ocorria, o prefeito anunciou uma reunião com conselhos de pais de alunos, professores, funcionários e diretores das escolas da rede municipal de ensino no Palácio da Cidade, em Botafogo, Zona Sul do Rio. O encontro, marcado para as 10h desta terça-feira, tem o objetivo de "aprofundar o diálogo com todos os setores impactados pela greve dos professores", disse a prefeitura em nota.
Justiça - No fim da tarde desta segunda, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) negou o recurso ajuizado pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe/RJ) que pedia a extinção da liminar que obrigou os professores a voltar ao trabalho. O não cumprimento da determinação implica em multa diária de 200.000 reais.
"A conduta da categoria, ao manter o estado de paralisação, gera inúmeros prejuízos e afeta mais de 600.000 alunos da rede pública de ensino, restando configurado o abuso do direito", justificou o relator Antônio Eduardo Ferreira Duarte. Ele também autoriza o município a aplicar o corte do ponto dos grevistas desde o dia 3 de setembro. A greve dos educadores já dura dois meses.
Rio de Janeiro - Manifestantes mascarados que se infiltraram no protesto pacífico dos professores, lançam pedras e coquetéis molotov no Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa - (07/10/2013) - Christophe Simon/AFP
Quando o policiamento é ostensivo, eles buscam confronto, quando não é, eles também buscam confrontos, isso não é democracia, isso é terrorismo!
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