quinta-feira, 4 de julho de 2013

Protesto reúne 5 000 médicos na avenida Paulista

Manifestação contra a "importação" de médicos estrangeiros para o Brasil também pediu melhorias na estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)

Médicos do SUS realizam protesto na Avenida Paulista, contra o baixo investimento do governo brasileiro na saúde pública, em São Paulo
Médicos do SUS realizam protesto na Avenida Paulista contra o baixo investimento do governo brasileiro na saúde pública, em São Paulo - J. Duran Machfee/Futura Press
Cerca de 5 000 médicos - de acordo com a Polícia Militar - ocuparam parte da avenida Paulista nesta quarta-feira para protestar contra a "importação" de profissionais estrangeiros. O Ministério da Saúde planeja trazer médicos de vários países, principalmente de Cuba, Espanha e Portugal, para atuar em áreas carentes das metrópoles e no interior do país. Os médicos e os estudantes de medicina, vestindo seus jalecos, caminharam até o gabinete de representação da presidência da República, que fica na esquina da Paulista com a rua Augusta.
A manifestação estava organizada e chegou, em alguns momentos, a fechar os dois sentidos da Paulista. Diversas faixas e cartazes criticavam a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Entre os gritos, pedidos por mais estrutura para o Sistema Único de Saúde (SUS) e contra a vinda de médicos estrangeiros sem a revalidação do diploma, o chamado Revalida. 
"O ato é contra a falta de respeito do governo com as leis. É obrigatório a qualquer médico de outro país prestar exame para atender aqui", afirmou Maria Cristina Alcaide Rosa, médica do programa de saúde da família, que saiu de Guarulhos para protestar na avenida Paulista. "Precisamos de mais estrutura e que as verbas para a saúde sejam investidas na saúde, sem corrupção. Não queremos melhores salários para atender no interior, mas, sim, estrutura."
Troca de insultos — O protesto dos médicos se encontrou com duas outras manifestações. No vão do Museu de Arte de São Paulo (MASP) havia uma manifestação que reuniu 500 pessoas contra o ato médico - que define quais atividades são exclusividade dos médicos. O projeto de lei já foi aprovado pelo Senado e apenas aguarda a sanção da presidente Dilma. Segundo a organização, composta por profissionais da fisioterapia, farmácia, enfermagem e psicologia, o projeto subjuga as outras profissões da área da saúde aos médicos.
Outro protesto que juntava movimentos sociais veio pelo outro lado da avenida, pedindo mais investimentos do governo. No encontro entre os manifestantes, houve algumas trocas de ofensas, principalmente entre membros de movimentos sociais e grupos contra a corrupção que acompanhavam o protesto dos médicos. Parte dos membros dos movimentos sociais puxou o grito: "Na 'quebrada' não tem doutor" - referindo-se às áreas mais pobres e afastadas do centro que são carentes de atendimento médico. Do outro lado, os médicos responderam protestando contra Dilma e Lula. A tréplica dos movimentos sociais foram gritos a favor de Cuba - e, claro, da chegada de profissionais daquele país.
Interior de São Paulo — Pelo menos 400 médicos pararam o atendimento no Hospital das Clínicas de Botucatu, um dos maiores hospitais do interior de São Paulo, em adesão ao movimento nacional contra o projeto do governo de trazer profissionais do exterior. De manhã, os médicos deram as mãos para um abraço simbólico no hospital que atende pacientes de 70 cidades. De acordo com a direção do hospital, o atendimento de emergência foi mantido. As consultas marcadas para esta quarta-feira foram remarcadas. Os médicos querem também mais investimentos federais na saúde. Os manifestantes realizaram uma passeata pelas ruas da cidade.
Outros estados — Na manhã desta quarta-feira, médicos de Fortaleza, no Ceará, ocuparam as galerias da Assembleia Legislativa do Estado e depois seguiram para o Palácio da Abolição, sede do Governo do Estado. A expectativa do Sindicato dos Médicos do Ceará, que organizou a passeata, era reunir mais de 500 manifestantes. "O médico brasileiro que quiser trabalhar em outro país deve ser aprovado em rigorosos exames. Por que os médicos formados em Cuba devem ser dispensados do Revalida, em desrespeito às nossas normas?", questiona José Maria Pontes, presidente do sindicato.
No Rio de Janeiro, cerca de 200 médicos se concentraram na Cinelândia por volta das 10 horas da manhã. Depois, seguiram em passeata até o prédio da representação do Ministério da Saúde na capital fluminense, na rua México, e caminharam até a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Também foram realizadas manifestações dos médicos em outros estados, incluindo Alagoas, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.
No Acre e em Mato Grosso, houve o cancelamento das consultas do Sistema Público de Saúde (SUS), mas a suspensão não comprometeu os atendimentos de urgência e emergência. Segundo a presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso, a médica Dalva Neves, as principais queixas dos profissionais da rede pública de saúde no estado são a falta de estrutura e de segurança para trabalhar nas policlínicas e de insumos. Além de Cuiabá, o CRM registrou paralisações em outros municípios como Sorriso (418 quilômetros da capital).
Em Cuiabá, os médicos se concentraram a partir do meio-dia em frente ao prédio do CRM. Em seguida, ele saíram em passeata até a Secretaria de Estado de Saúde antes de seguir para o prédio da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). Além de médicos profissionais da rede pública, o movimento também conta com estudantes de medicina e dos médicos residentes.
Histórico — A estratégia de recrutar médicos formados no exterior para trabalhar no país vem sendo estudada pelo Ministério da Saúde desde o ano passado. A proposta, de acordo com Padilha, seria uma alternativa para resolver, a curto prazo, o problema de falta de médicos. Outras medidas incluem a criação de vagas para cursos de medicina e de especialização, mas com resultados esperados para médio prazo.
Para as entidades médicas, porém, as medidas anunciadas pelo governo são paliativas, e não oferecem soluções de longo prazo. A categoria alega que o principal problema da saúde pública no Brasil é o baixo investimento estatal e não a falta de profissionais.
(Com Estadão Conteúdo)
As informações são da Veja

Nenhum comentário:

Postar um comentário