quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Luzes no fim do túnel

Sorocaba tem assistido, nos últimos meses, a um aumento significativo da população de rua e ao surgimento de minicracolândias na periferia

Duas notícias publicadas por este jornal nos últimos dias acenderam a esperança de que o problema do crack e outras drogas pesadas -- assim como o alcoolismo, geralmente subestimado em seu poder de destruição -- possa um dia ser revertido em nossa cidade com um trabalho eficiente, bem direcionado e sobretudo humano, capaz, a um só tempo, de oferecer uma chance de recuperação a quem já sofre de dependência química e de conscientizar os que não são usuários para que nunca venham a ser. 

Uma das notícias -- por enquanto, ainda uma promessa -- relaciona-se ao anúncio feito na segunda-feira pelo secretário de Saúde de Sorocaba, Armando Raggio, de que em 2014 serão implantados mais oito Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e oito residências terapêuticas na cidade. De acordo com o secretário, já foram liberados pelo Ministério da Saúde os primeiros repasses para a implantação de dois Caps Álcool e Outras Drogas 24 horas (Caps AD III), considerados prioritários. 

Se a promessa se concretizar, Sorocaba avançará de maneira notável numa frente de atuação que, hoje, por força de lei, é o esteio das políticas públicas antidrogas -- o atendimento a dependentes químicos em nível ambulatorial por profissionais especializados, buscando-se a participação da família no tratamento e evitando-se ao máximo a internação --, e que, a despeito de sua importância, ainda não caminha com a necessária agilidade. Somente em outubro último, Sorocaba passou a contar com um Caps AD III, primeira unidade local a oferecer atendimento ininterrupto nos termos preconizados desde 2002 pelo Ministério da Saúde para cidades com mais de 200 mil habitantes. 

A outra notícia, publicada na sexta-feira (29), refere-se à contratação de uma entidade sem fins lucrativos (ainda não definida) para atuar na formação e articulação de uma rede de serviços intersetoriais de apoio aos dependentes químicos e suas famílias (Prefeitura contratará entidade para ação de combate às drogas, 29/11, pág. A10). Com foco em sete regiões da cidade consideradas mais problemáticas (entre elas, o Centro), o trabalho tentará diminuir as situações de vulnerabilidade, com uma atenção maior para crianças e adolescentes vítimas de exclusão social, pobreza e em situação de rua, além de usuários de álcool e outras drogas. Outra frente de trabalho será a capacitação de todos os envolvidos na Política Municipal sobre Drogas, sejam eles ligados ao poder público ou integrantes de ONGs que atuam no setor. 

As medidas anunciadas chegam em boa hora. A despeito das iniciativas já implementadas, Sorocaba tem assistido, nos últimos meses, a um aumento significativo da população de rua -- da qual os dependentes químicos representam cerca de 70%, conforme apurou a comissão da Câmara de Vereadores que acompanha a aplicação de políticas públicas para esse setor -- e ao surgimento de minicracolândias na periferia. Em outubro, o vereador Rodrigo Manga (PP) identificou dez desses pontos de consumo de drogas, frequentados durante todo o dia por jovens usuários (Consumo de drogas - Usuários movimentam dez "minicracolândias" na cidade, 15/10, pág. A6). Segundo Manga, que já atuava na recuperação de dependentes químicos antes de ser eleito vereador, há garotas que se prostituem por R$ 3, para poder comprar uma pedra de crack. 

A recuperação de usuários de drogas e álcool é tarefa complexa, difícil e delicada, que exige a especialização dos agentes e uma boa estrutura de apoio, não só para os dependentes químicos, mas para seus familiares -- geralmente, tão ou mais fragilizados quanto o viciado. Felizmente, Sorocaba se mostra consciente da importância desse tema, e busca os meios necessários para conferir às políticas públicas um mínimo de resolubilidade.

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