segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Troca de cocaína por combustível venezuelano irrita Colômbia

Entre 10 por cento e 15 por cento do combustível usado pelos motoristas colombianos são contrabandeados de países vizinhos

Matthew Bristow e Andrew Willis, da 
Getty Images
Carro sendo abastecido em posto de gasolina
Carro sendo abastecido em posto: gasolina custa cerca de US$ 0,06 o galão pela taxa oficial de câmbio em Caracas, o menor preço do mundo
Bogotá - Quadrilhas criminosas estão transportando o equivalente a 60 a 100 caminhões-tanque de combustível venezuelano subsidiado por dia para a Colômbia, em grande parte pagos com cocaína, segundo o governo colombiano.
Entre 10 por cento e 15 por cento do combustível usado pelos motoristas colombianos são contrabandeados de países vizinhos, disse Juan Ricardo Ortega, diretor da agência de impostos e alfândega do país, a DIAN, em entrevista em 28 de novembro, em Bogotá. Isso levou a uma queda nos impostos sobre combustíveis cobrados pelo governo e a um alerta para o complexo de carvão Cerrejón, das empresas BHP Billiton Ltd., Anglo American Plc. e Glencore Xstrata Plc., em relação à fonte de combustível para seus caminhões. A Cerrejón disse que está investigando a situação.
Os caminhões-tanque carregam gasolina ou óleo diesel adquirido próximo à fronteira, no estado de Zulia, na Venezuela, por cerca de um centavo o galão, e são levados para a Colômbia auxiliados por funcionários corruptos do governo e políticos locais, segundo Ortega. O estado colombiano tem “controle zero” da fronteira da província de La Guajira, no nordeste do país, que tem uma tradição secular de contrabando, disse Ortega.
“Claramente a DIAN, o governador do departamento, funcionários do departamento e a polícia são incrivelmente corruptos”, disse ele. “Na Venezuela, a polícia estadual está particularmente envolvida. Eles perderam todo o controle da polícia em Zulia”.
A assessoria de imprensa da força policial colombiana em Bogotá não respondeu dois e-mails e um telefonema da Bloomberg News com pedidos de comentários. A polícia do estado de Zulia, na Venezuela, não respondeu a um e-mail e a uma mensagem de voz em busca de comentários.
Revolta civil
Das cidades na fronteira colombiana, o combustível de contrabando é distribuído para cidades ao longo da costa do Caribe e para Bogotá, a cerca de 800 quilômetros, frequentemente misturado com combustível legal, disse Ortega. O combustível contrabandeado é trazido também por outras partes da fronteira de cerca de 2.100 quilômetros, transportado em carros e caminhões e carregado em mulas.
Ortega, 46, economista formado em Yale cujo pai foi presidente do Banco Central da Colômbia, disse que seus esforços para fechar as rotas de contrabando de La Guajira foram frustrados pela revolta da população local, porque boa parte ganha a vida com comida, bebida e combustível contrabandeado.
“Nós tentamos fechar a fronteira três vezes e isso não é difícil -- você coloca barreiras e os caminhões não podem passar”, disse ele. “Mas as pessoas na fronteira começam a se rebelar. Elas queimam delegacias de polícia, elas colocam bombas, elas queimam armazéns da alfândega”.
‘Criado’
O governador de La Guajira, Juan Francisco Gómez, foi preso em outubro e acusado de conspiração para cometer crimes e envolvimento em três homicídios. Alfredo Montenegro, advogado de Gómez, diz que seu cliente se declarou inocente.
“A imprensa diz que ele está ligado ao crime organizado, uma espécie de Pablo Escobar”, disse Montenegro em entrevista por telefone, em 29 de novembro, citando o chefe do tráfico colombiano assassinado em 1993.
A gasolina custa cerca de US$ 0,06 o galão pela taxa oficial de câmbio em Caracas, o menor preço do mundo, e cerca de US$ 0,01 por galão pela taxa de câmbio do mercado negro. Isso contrasta com o preço de US$ 4,30 por galão em Bogotá. Entre 70 por cento e 80 por cento dos cerca de um milhão de galões de gasolina contrabandeados para a Colômbia todos os dias vêm da Venezuela e a maior parte do resto vem do Equador, segundo Ortega.
“As quadrilhas estão se tornando mais fortes”, disse o Ministro das Minas e Energia da Colômbia, Amylkar Acosta, que é de La Guajira, em uma entrevista em 18 de novembro, em Bogotá. “O contrabando, assim com o tráfico de drogas, se tornou o combustível dessas gangues. Enquanto a diferença entre os preços lá e cá for tão grande, haverá um incentivo ao contrabando”.

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