sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sorocaba tem a primeira mulher a chefiar delegacia da Polícia Federal

Erika Tatiana Nogueira Coppini é 4ª geração de policiais na família - EMIDIO MARQUES



     Carolina Santana
carolina.santana@jcruzeiro.com.br

Quarta geração de policiais na família, Erika Tatiana Nogueira Coppini, é a primeira mulher a chefiar uma delegacia da Polícia Federal. Sob seu comando estão 57 municípios e uma equipe de 70 pessoas. Ser a primeira mulher em um cargo tradicionalmente ocupado por homens não é novidade para a delegada que está com 37 anos. Mãe de dois filhos, Coppini trabalha há 20 anos na área de segurança pública. Ela conta que ingressou na Polícia Militar aos 17 anos, fez a academia do Barro Branco em São Paulo e aos 21 anos assumiu a tropa mista da Polícia Rodoviária. Hoje, à frente da PF de Sorocaba, Coppini promete fechar o cerco contra o tráfico de drogas e pedofilia. "Temos muitas investigações sigilosas em andamento na região. A Polícia Federal não para, mas as investigações são procedimentos demorados", explica ela.

Em entrevista exclusiva ao Cruzeiro do Sul, a delegada contou como equilibra a vida pessoal e profissional. "Mulher está acostumada a se desdobrar, fazer mil coisas ao mesmo tempo", brinca. De riso fácil a delegada conta histórias da época em que ficou na PM e recorda que encontrou resistência por parte de alguns colegas, mas nada que a impedisse de exercer suas funções. Na Polícia Federal há dez anos, iniciou carreira em Foz do Iguaçu. Nesse período também passou por São Sebastião (SP) e São Paulo (Capital). Está em Sorocaba desde 2008 e na região ocupou a chefia dos setores de Operação e Inteligência antes de assumir a Delegacia da Polícia Federal em Sorocaba.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Como é ser mulher nesse cargo de chefia? Facilita ou atrapalha?

Eu acho que facilita. A gente tem mais jeito para dar ordem de uma forma mais carinhosa (risos). A mulher tem sensibilidade maior. Sabe administrar a casa, os filhos, está acostumada a se desdobrar. A gente arruma tempo para tudo, nos transformamos em mil e ainda dá tempo para fazer uma ginástica e ir ao salão fazer a unha.

Mas você tem um anjo que te ajuda em casa?

Tenho sim. Tenho dois, duas pessoas que me ajudam a dar conta de tudo.

A senhora está em Sorocaba desde 2008, tem alguma particularidade da região?

Eu gosto muito da área investigativa. A Polícia Federal não faz apenas investigação. Diferente das outras polícias, temos também um trabalho administrativo. Emitimos passaporte, controlamos a entrada e saída de estrangeiros do País, a gente controla as empresas de segurança privada, a produção de produtos químicos controlados que são utilizados na produção de entorpecentes também é de responsabilidade da Polícia Federal, o registro e o porte de arma... A Polícia Federal tem muitas atribuições além das investigações de crime, mas eu, particularmente, gosto da parte de investigação e tem alguns crimes que me incomodam mais.

Por exemplo?

Pedofilia, corrupção, narcotráfico. São crimes que eu considero extremamente graves e que precisam ser combatidos.

A região é rota do tráfico de drogas e contrabando. Existe alguma ação específica para o combate desses crimes?

A gente tem alguns trabalhos sigilosos em andamento. A Polícia Federal não para, mas todo trabalho de investigação é demorado e a gente atende 57 municípios. A delegacia tem uma área bastante grande para um efetivo reduzido. Com qualquer órgão público está longe do ideal de recursos humanos e físicos. Dentro do possível e até do impossível temos muitos policiais compromissados e que se desdobram para fazer um serviço bem bacana.

Qual a estrutura da Polícia Federal na região? Existem outras sedes na região?

Não. Temos apenas a sede física de Sorocaba. Quando temos investigações em outras cidades, vai uma equipe que fica hospedada na cidade. Às vezes contamos com o apoio de outras polícias se precisarmos de apoio.

Na região, qual o setor mais problemático?

Drogas, pois estamos na beira da rodovia que liga com o Paraguai e outros países produtores de entorpecentes. A região também é caminho para São Paulo, uma das maiores cidades do País, então a demanda é alta. O contrabando também passa por aqui.

A senhora falou também sobre a pedofilia. Temos muitos casos na região?

Temos muitas investigações aqui na delegacia de pedofilia. Hoje temos uma operação grande contra pedofilia sendo deflagrada. A gente está cumprindo um mandado de busca em Itu (dia da entrevista) e foi feito um flagrante. A gente sempre leva um perito para essas ações e foi detectado um CD que estava em poder do indivíduos que continha imagens de pedofilia. Um rapaz de 21 anos foi pego em flagrante. Este ano já fizemos outros flagrantes. É um tipo de crime revoltante. Principalmente para quem é mãe e pai; é inaceitável. A pedofilia se configura, na maioria dos casos, por troca de imagens. São mais difíceis de detectar os casos de abuso e de produção de imagens. Existe um tratado internacional de combate à pedofilia que determina que a Polícia Federal deve atuar em crimes que tenham repercussão interestaduais e internacional.

Nos conte alguma operação memorável que a senhora participou?

A última operação que prendeu policiais do Denarc envolvidos com o narcotráfico aqui na delegacia foi chefiada por mim. Eles são preparados para combater o narcotráfico e estavam se aliando a traficantes. A gente vê bastante tragédia. Não que a gente se conforme, mas a gente acostuma a conviver com ela, embora a competência da Polícia Federal seja mais para os conhecidos crimes do "colarinho branco". A gente fica chateado, mas faz parte da rotina.

Na Polícia Rodoviária a senhora assumiu o primeiro pelotão feminino. Como foi?

Foi em 1998. Primeiro eu comandava um pelotão feminino, depois eles viram que não tinha razão em separar mulher de homem, até porque o policiamento feminino em São Paulo também acabou. Aí misturaram e eu comecei a comandar a tropa mista. E eu tinha 21 anos na época. A Polícia Rodoviária é bem conceituada e tem um critério bem rigoroso para admitir policiais. Foi bem interessante, eles olhavam para mim e perguntavam: "O que essa menina está fazendo aqui? "Chama o pai dela" (risos). Porque eu tinha 21 anos e tinha que comandar pessoas com 21 anos de polícia.

A senhora chegou a sofrer algum preconceito por ser mulher?

Sofri um pouco principalmente na época das operações na Imigrantes. Tinha uma séria de procedimentos que tínhamos de adotar e nunca ninguém me explicava nada. Os colegas não me ajudavam por medo de uma mulher assumir o lugar deles. Eles sabem que as mulheres são mais rígidas. A mulher acaba sendo mais rápida e mais eficiente. Acho que ela perde em força física, mas em compensação, ganha em muitos outros pontos. A mulher tem intuição apurada.

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