segunda-feira, 14 de outubro de 2013

PM do Rio terá de aprender a levar desaforo para casa

Comandante do recém-criado Batalhão de Grandes Eventos, que atua em manifestações, prepara treinamento para evitar que policiais reajam a provocações. "Os black blocs são covardes", afirma

Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Policiais acompanham protestos com as fardas identificadas
Policiais acompanham protestos com as fardas identificadas  (VEJA)
Criado mais na base do sufoco do que por planejamento, o recém-formado Batalhão de Grandes Eventos da Polícia Militar do Rio ocupa, no Estácio, o local que já pertenceu ao 1º BPM. Tudo é novo para os 400 militares recrutados para compor a nova tropa – escolhidos  principalmente pelo perfil psicológico –, como é novidade para o Brasil o fato de, a qualquer momento, eclodir em frente a um prédio público ou numa avenida de movimento um bloco de manifestantes, muitos deles mascarados. Os PMs estão, no momento, dedicados a uma lição inusitada: aprender a “levar desaforo para casa”, aceitar provocações e, principalmente, não reagir de forma impulsiva às intimidações que, como se vê, são inevitáveis em uma manifestação de rua, com ânimos exaltados.
“As provocações são armadilhas. Durante os protestos, os PMs são insultados, ofendidos. Na semana passada, um manifestante cuspiu em um policial. Não podemos cair nesse jogo. Nosso policial terá treinamento para ter tolerância”, resume o coronel Wagner Villares Oliveira, escolhido para comandar a nova unidade.
O problema é que, com uma agenda intensa e quase imprevisível de protestos, o treinamento acontece simultaneamente a operações diárias, como a da última segunda-feira, quando cerca de cem black blocs depredaram agências bancárias, atearam fogo em um ônibus e tentaram incendiar a Câmara de Vereadores, na Cinelândia. O grupo Black Bloc, obviamente, é o maior desafio para Villares e seus 400 escolhidos. “Os mascarados não têm uma proposta. Querem quebrar, destruir, causar pânico. São covardes e se misturam a pessoas que estão exercendo um direito democrático, de forma pacífica”, analisa o coronel.
Fazer o policial entender que deve manter o autocontrole, apesar de do outro lado haver covardia e provocação – inclusive com bombas caseiras, morteiros e muitas pedras – é um processo que não será obtido do dia para a noite. Em Berlim, na Alemanha, a formação de um batalhão reconhecido por ser preciso e eficiente na contenção de manifestações foi algo que durou quase quatro décadas. No Rio, estão desde já recrutados para o trabalho os psicólogos da PM, com profissionais também de fora da corporação.
Os policiais do Batalhão de Grandes Eventos não são exatamente crus. A maior parte deles veio do Grupamento de Policiamento de Proximidade de Multidões, também criado às pressas a partir de junho e diferenciado dos demais policiais pelo uso de letras e números grandes destacados na farda. Os “alfanuméricos”, como ficaram conhecidos, obtiveram sucesso em suas primeiras missões. Além da identificação visível à distância, o grupo, formado por iniciativa do coronel Robson Rodrigues da Silva e de outros oficiais, então subcomandante e chefe do Estado Maior Administrativo da PM, operava de forma diferente. Em vez de formar uma linha, uma barreira ou bloqueios de rua, os PMs atuavam entre os manifestantes, conversando e tentando convencer a massa a tomar este ou aquele rumo, evitando assim os confrontos. Deu certo – pelo menos por um tempo, enquanto era possível separar com mais clareza os black blocs dos manifestantes pacíficos.
A divisão e a diferença de propósitos das reuniões na rua ainda existem, mas os mascarados passaram a operar de maneira diferente, como explica Villares. “Nossa ação tem que ser cirúrgica porque os radicais se misturam aos manifestantes quando o ato já está acontecendo. No início dos protestos, eles chegavam durante a concentração. Agora, não sabemos quando vão aparecer, e geralmente usam os demais manifestantes como barreira”, diz o oficial.
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