sábado, 19 de outubro de 2013

Polícia Civil e Ministério Público procuram cães retirados de laboratório

Saúde dos animais e das pessoas envolvidas preocupa autoridades. BOs apuram maus-tratos e prática de furto
Na madrugada de ontem, ativistas invadiram o laboratório e retiraram quase 200 cães da raça beagle - Cortesia/São Roque Notícias


     César Santana
cesar.santana@jcruzeiro.com.br
     programa de estágio

A Polícia Civil e o Ministério Público (MP) trabalham na localização dos animais soltos de dentro do Instituto Royal por ativistas durante a madrugada de ontem, em São Roque. Para isso, serão solicitadas as imagens do circuito interno de câmeras do laboratório de onde quase 200 cães da raça beagle foram retirados após vários dias de protesto. No local, os animais eram submetidos a testes de produtos farmacêuticos e cosméticos. Os ativistas invadiram o prédio alegando que havia práticas de crueldade e maus-tratos com os bichos. O caso foi registrado na Delegacia de São Roque em dois boletins de ocorrência: um dando conta da averiguação de maus-tratos aos animais e o outro de furto, pela retirada deles do laboratório.

O MP investigava o caso desde o fim do ano passado e, de acordo com o promotor de Justiça Wilson Velasco Júnior, a prioridade neste momento é encontrar os cães, já que não são sabidos os riscos que eles correm ou mesmo que possam representar a outros animais ou seres humanos devido aos testes que eram feitos na sede do instituto. O promotor lamentou ainda a atitude dos ativistas, que segundo ele, comprometeu todo o trabalho do órgão. "As investigações estavam em andamento desde o fim do ano passado, mas agora todas as provas de eventuais irregularidades estão prejudicadas, pois os animais foram retirados e o local depredado", diz.

O promotor revela ainda que, durante reunião com membros do grupo de ativistas na última quarta-feira, 16, havia pedido para que nenhuma atitude contra o instituto fosse tomada. "Na ocasião, o grupo informou que apresentaria documentos que comprovariam as irregularidades, então pedi que tivessem paciência e informei sobre a investigação em andamento", diz Velasco Júnior. Ainda segundo ele, o MP tentará identificar e localizar os participantes da invasão ao laboratório. O promotor revelou ainda que a primeira denúncia, que deu origem às investigações do MP ainda no fim do ano passado, foi feita por um "ex-colaborador" do Instituto Royal.

Durante a retirada dos cães, nenhum funcionário da empresa estava no local. Alguns dos ativistas, além de retirar os animais do laboratório, depredaram algumas instalações. De acordo com o delegado de São Roque, Marcelo Sampaio Pontes, a Polícia Civil investiga tanto a denúncia de maus-tratos aos animais quanto o furto que aconteceu na sede da empresa. Segundo Pontes, a Polícia Científica teve acesso ao laboratório e fez um laudo no qual não é apontado nenhum indício de abusos ou crueldade contra os cães.

Funcionários do Instituto Royal receberam na manhã de ontem as primeiras equipes de imprensa a chegar à sede, localizada no bairro Mailasque, em São Roque, porém, muitas outras, dentre as quais a equipe do jornal Cruzeiro do Sul, foram impedidas de ter acesso ao local. A reportagem tentou contato com a empresa de várias formas durante o período da tarde, porém, não obteve êxito. Ainda ontem, a empresa cancelou compromissos que tinha com o Sindicato dos Pesquisadores em Ciência e Tecnologia (SINTPq).
 
Riscos 
Embora o MP mostre uma grande preocupação com os riscos que os beagles retirados do laboratório do Instituto Royal possam representar a outros animais e seres humanos, de acordo com a presidente da Comissão de Cooperação Internacional e docente da Universidade de São Paulo (USP), Denise Schwartz, é impossível saber se existe a possibilidade de transmissão de doenças sem ter ciência sobre quais testes os cães foram submetidos. "Se os animais são criados oficialmente, dentro dos padrões de saúde, eles devem ser vacinados. Não há como saber se eles receberam agentes infecciosos ou se podem eliminar resíduos com potencial tóxico sem saber o que receberam", diz.

Entretanto, segundo informou a uma emissora de televisão a gerente geral da empresa, Silvia Ortiz, os próprios cães retirados do Instituto Royal é que correm risco de morte. "São animais especiais que tinham cuidados e com certeza não conseguirão se adaptar sendo tratados como pets", disse. Ela garantiu ainda, na mesma entrevista à tv, que a empresa atende a todas as normas da Vigilância Sanitária e está com a documentação regularizada.
 
O caso 
O protesto teve início na madrugada do sábado passado, quando o primeiro grupo de ativistas se reuniu em frente ao laboratório do Instituto Royal para se manifestar contra as atividades da empresa. Desde então, alguns membros do grupo permaneceram no local até a madrugada de ontem, período em que os ativistas chegaram a se acorrentar aos portões do prédio e fazer greve de fome. Durante a semana, o assunto foi debatido entre o grupo, o instituto e instâncias do poder público, como o MP e a própria Prefeitura de São Roque, porém, não houve nenhum acordo entre as partes.

No final da tarde da última quinta-feira, o número de manifestantes cresceu quando vans começaram a deixar o laboratório. Manifestantes acreditavam que era uma tentativa de retirada dos animais de dentro do local e foi necessária a intervenção da Polícia Militar. Segundo testemunhas, no momento da invasão que culminou com a retirada dos animais, já na madrugada de ontem, mais de 100 pessoas se concentravam no local, o que impossibilitou um controle por parte da PM. (Colaboraram Carolina Santana e Giuliano Bonamim).(Supervisão: Armando Rucci Filho)

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