sábado, 9 de novembro de 2013

Crescimento de energia eólica no Brasil gera empregos e impulsiona indústrias em Sorocaba

A capacidade instalada brasileira atual é de 2,8 megawatts (MW), com 119 parques eólicos
- Aldo V. Silva


Marcelo Roma 
marcelo.roma@jcruzeiro.com.br 

A produção de energia eólica no Brasil vem crescendo, com a instalação de parques em Estados da regiões Nordeste e Sul, onde há maior incidência de ventos, e a expectativa é de que tenha um desenvolvimento acelerado nos próximos anos, como alternativa às hidrelétricas. A capacidade instalada atual é de 2,8 megawatts (MW), com 119 parques eólicos, o que corresponde a 2% da matriz energética brasileira, conforme a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). 

Em Sorocaba, estão instaladas duas grandes empresas do setor, a Tecsis e a Wobben Windpower, que produzem equipamentos para energia eólica. A Tecsis fabrica pás e emprega 8 mil funcionários em 11 plantas industriais (nove em Sorocaba e duas em Itu). A Wobben fabrica pás e a nacele (gerador e parte central do rotor) e também tem unidades em Pecém, no Ceará, e em Parazinho, Rio Grande do Norte. Em Sorocaba, emprega 500 trabalhadores. Na unidade de Pecém também há produção de pás e em Parazinho das torres de concreto. 

A Tecsis, que produz somente pás, havia aberto 2.500 vagas em julho, devido aos novos contratos. A empresa irá instalar uma unidade em Camaçari, na Bahia, onde deverá criar 1.500 empregos. As duas empresas são exportadoras mas, nos últimos sete ou oito anos, voltaram sua produção para o mercado nacional. Políticas de desenvolvimento de energias renováveis incentivaram a instalação de parques eólicos, cuja energia produzida é comprada para distribuição no sistema elétrico brasileiro. 

Até setembro, havia 119 parques eólicos instalados no País, conforme a ABEEólica. Para se ter ideia do crescimento, no final do ano passado eram 108. O Estado com maior quantidade de parques é o Rio Grande do Norte, com 25; Bahia tem 24; Ceará, 20; Rio Grande do Sul, 15; Santa Catarina e Paraíba, 13 cada um; Pernambuco, 5; e Paraná, Piauí, Rio de Janeiro e Sergipe, com um em cada. Há 47 em construção, segundo a ABEEólica. 

A Tecsis e a Wobben começaram a funcionar em Sorocaba no mesmo ano, em 1995. A localização geográfica, o acesso a profissionais qualificados e uma cadeia de fornecedores na região explicam a escolha do município. O diretor de vendas da Wobben, Eduardo Leonetti Lopes, e o CEO da Tecsis, Ventura Pobre, acreditam que a geração de energia eólica tem muito a crescer no Brasil, que dispõe de regiões com bons ventos o ano inteiro e, por isso, grande potencial. 

Conforme Ventura, no ano passado, a Tecis produziu cerca de 5 mil pás. Para 2014, a previsão e que entre 30% e 40% da produção irá para o mercado nacional. A maior parte, portanto, é exportada, via Porto de Santos, por navio. Segundo ele, com os contratos firmados se fez necessária a contratação no meio do ano. Os novos funcionários passam por treinamento técnico antes de começarem a trabalhar. Proporcionalmente a outros setores industriais, a produção de pás utiliza bastante mão de obra porque não é possível um sistema automatizado, explica Ventura. 

Na Tecsis e na Wobben, as pás são fabricadas de material composto, basicamente, por resina epóxi, fibra de carbono ou de vidro. O tamanho, entre 24 e 60 metros, dificulta o transporte. As pás são levadas de caminhão, em comboios, para o local de montagem, no Brasil ou, então, por navio (cabotagem), dependendo da distância. Para exportação, vão de caminhão até o Porto de Santos e, depois, de navio até o país de destino. 

A extensão das pás, que ultrapassa o comprimento das carretas, exige que o transporte rodoviário seja feito à noite ou de madrugada. Para Ventura, o tamanho das pás pode aumentar ainda mais, a fim de aproveitar melhor a força dos ventos. Entre os motivos da escolha de Camaçari, no litoral da Bahia para a nova unidade da Tecsis estão a localização da fábrica da Alstom (que produz geradores) e por estar perto dos novos parques. A região do semiárido da Bahia tem grande potencial ainda a ser explorado, segundo o CEO da Tecsis. 

Desenvolvimento 


O diretor de vendas da Wobben explica que o desenvolvimento da energia eólica no País pode ser explicado em três fases. As primeiras experiências ocorreram na década de 90. A partir da instalação da empresa em Sorocaba, subsidiária do Grupo Enercon, em 1995, a produção era totalmente para exportação. A fonte alternativa já era utilizada em outros países, como Alemanha, sede do Grupo Enercon. Nos dez anos seguintes, pouco se avançou em energia eólica no Brasil, segundo Eduardo Lopes. Não havia políticas nem programas do governo para investimentos nesse setor. 

A situação começou a mudar a partir de 2006, com o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que contemplou não só a energia eólica, do governo federal. Com isso, a energia de fontes alternativas à de usinas termo e hidrelétricas passaram a ser compradas e consumidas dentro do sistema elétrico brasileiro. Em 2009, os leilões de energia voltados exclusivamente para fonte eólica impulsionam a construção de parques, principalmente no Nordeste. Os leilões são feitos com a fixação de um teto e as concessionárias interessadas oferecem preços menores para construção e operação dos parques, explica Lopes. 

A crise financeira mundial de 2008/2009 e o desenvolvimento de novas tecnologias ajudaram a consolidar e tornar competitivo comercialmente o sistema de energia eólica no Brasil, conforme o diretor de vendas da Wobben. As exportações se reduziram e as concessionárias e distribuidoras passaram a confiar mais no potencial dos ventos. A participação contratada no setor energético tem sido em torno de 2 gigawatts (GW) ao ano. A perspectiva para 2017 é de 8,7 GW, conforme a ABEEólica. 

Os parques eólicos mudam a paisagem de partes do litoral nordestino, principalmente no Rio Grande do Norte. O conjunto de aerogeradores tem altura de 100 metros e pode ser visto a quilômetros. Não é só próximo ao mar que estão sendo instalados, diz Ventura. Os parques no semiárido da Bahia ficam a cerca de 800 quilômetros do litoral. A rápida expansão traz alguns problemas. Segundo o CEO da Tecsis, em algumas regiões, há falta de linhas de transmissão para ligar os parques à rede de energia.

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