sábado, 25 de maio de 2013

Sorocaba - Jovem que teve o braço decepado em São Paulo testa prótese

Equipamento que substituirá membro amputado tem custo de R$ 200 mil

César Santana
cesar.santana@jcruzeiro.com.br
       programa de estágio

Mais de dois meses após o acidente que chocou o País no qual o jovem David Santos de Souza, de 21 anos, perdeu o braço direito ao ser atropelado por um motorista embriagado na Capital, no dia 10 de março, o rapaz nunca esteve tão próximo de retomar sua rotina por completo. Ele está prestes a receber a doação de uma prótese biônica que substituirá o membro doada pelo empresário sorocabano Nelson Nolé, e para isso, esteve na cidade ontem para dar sequência ao processo que envolve a implantação do dispositivo. David concluiu recentemente a etapa de fisioterapia, que realizou no hospital da Universidade de São Paulo (USP) e deverá receber o molde definitivo da peça já na próxima semana. A previsão é de que dentro de 15 ou 20 dias, a prótese esteja completamente pronta e de fato passe a integrar o corpo do rapaz.

A projeção feita por Nelson Nolé e a equipe que trabalha na implantação da prótese é de que o resultado seja extremamente positivo. "Prevemos um ótimo resultado, pois o David possui um QI muito elevado, e isso contribui para a adaptação", revela o empresário que administra a clínica Conforpés, onde é feito todo o processo no qual o dispositivo é colocado. De acordo com Nolé, a construção da peça, que pesa aproximadamente 1,3 kg, já está em andamento e depois de implantada, a adaptação é praticamente imediata. "Já foram captados todos os sinais cerebrais dele (David) e o próximo passo é colocar o molde, o que deve acontecer daqui a cerca de uma semana. Depois de totalmente pronta, levará somente uma semana de treinamento até ele estar apto aos movimentos comuns. Já o restante do progresso, como o aprendizado de novas atividades, dependerá exclusivamente dele", diz.

Além da doação da prótese, que tem um custo aproximado de R$ 200 mil se levado em conta todo o processo de implantação e custo das peças, David está recebendo também todo o auxílio e acompanhamento por parte da equipe de Nelson Nolé. Eles são os responsáveis pelo transporte do jovem, que mora na região do distrito de Pedreira na zona sul de São Paulo, próximo à divisa com Diadema, o que acontecerá novamente nas próximas semanas para que seja dada continuidade a etapa de implantação e adaptação à prótese.
 
Uma vida normal 
O que para muitos poderia significar uma tragédia sem perspectivas de dias melhores, para David foi apenas mais um obstáculo a ser superado na vida. Atropelado por um jovem embriagado na madrugada do dia 10 de março enquanto ia para o trabalho de bicicleta pela avenida Paulista, uma das vias mais movimentadas da Capital, o destino dele poderia ser diferente se o condutor do veículo, Alex Siwek, de 22 anos, ao notar que o braço de David fora decepado, não tivesse atirado o membro em um córrego na avenida Dr. Ricardo Jafet, longe dali, rechaçando totalmente a possibilidade de uma recuperação.

David conta que apesar da fatalidade, desde o momento em que se encontrou hospitalizado, suas forças foram concentradas em dar a volta por cima. "Meu único pensamento foi de me recuperar e mostrar em especial para a minha mãe que aquilo não iria afetar a minha vida", conta. E de fato não afetou. Apesar da alegria pela doação da prótese que substituirá o braço perdido, o jovem não perdeu tempo e retomou nesse período de pouco mais de dois meses, algumas das atividades que costumava praticar normalmente. 

"Estive praticando dança e voltei a estudar (ele cursa o 3º ano do ensino médio, que concluirá ao fim deste semestre). Também faço academia e voltei a andar de bicicleta", conta. Aliás, essa é justamente a atividade preferida de David, que foi contemplado inclusive com uma nova bicicleta. "É algo que me deixa mais ágil no trânsito". Questionado sobre o perigo de conduzir a bike com apenas uma mão, ele não mostra grande preocupação. "É claro que agora eu não pego mais tanta velocidade, mas consigo andar sem problemas", diz.

Para o futuro, David projeta dar sequência aos estudos ciente de que logo voltará a trabalhar também. "Vou concluir os cursos que iria fazer, e mais pra frente quero cursar engenharia civil", revela. Ele está prestes a iniciar o curso de instrutor de primeiros socorros do Corpo de Bombeiros, e logo depois pretende trabalhar como instrutor de brigadas de incêndio, antes de ingressar no ensino superior. Com a prótese, ele espera agora poder retomar ainda mais o seu dia a dia comum. "Vai mudar novamente o meu estilo de vida. Vou voltar a fazer tudo o que eu podia fazer antes", comemora.

Sobre o rapaz que cometeu o atropelamento no hoje distante 10 de março de 2013, David pouco fala. Diz que nunca teve nenhum contato com ele e por isso não mantém qualquer tipo de ligação. Entretanto, reforça também o perdão concedido ainda na época do fato. "Quando perdoamos uma pessoa, então é porque não guardamos nada em relação a ela. Então, é algo que tirei da minha mente", conta. Ele espera que com a repercussão que ganhou o caso, mais pessoas se deem conta sobre o perigo que envolve álcool e direção. "Muita gente ainda não tinha se conscientizado sobre essa questão. Mas com isso, espero que sirva para que alguns vejam e se comovam sobre o assunto".

Hoje, alegre e descontraído, ele faz questão também de agradecer a Nelson Nolé e toda a sua equipe. "O sentimento é de muita gratidão. Não tem outra palavra. O que estão me fornecendo eu nunca teria na vida", diz. E revela também que teve de se acostumar ao assédio, tanto da imprensa, quanto da população em geral, tanto que teve de encontrar um jeito de "driblar" as tietagens. "Nas ruas é bem pior (que o assédio da imprensa). Muita gente reconhece e vem conversar. Tanto que até comprei um fone de ouvido bem grande para disfarçar. Já teve vez até de chegar atrasado na escola porque fui cercado por um monte de gente", relembra com bom humor. (Supervisão: Admir Machado)
As informações são do Jornal Cruzeiro do Sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário