domingo, 31 de março de 2013

'Terapia do Riso' transforma a vida dos acamados

 

O presidente Eduardo Stevanin e o vice-presidente Vinícius Gamito do grupo "Terapia do Riso" (Foto: Fernando Rezende)
 
 
É sexta-feira à noite e, após trabalhar durante toda a semana, um grupo de 12 voluntários reúne-se em um hospital da cidade. Eles entram nos banheiros e, logo, funcionários públicos, executivos, advogados, donas de casa e gerentes dão lugar a palhaços. Antes de sair distribuindo sorrisos e alegria pelos quartos, fazem uma oração. Após cerca de três horas animando os pacientes internados no hospital, os palhaços despedem-se e voltam para casa. Esta é a rotina dos integrantes do grupo “Terapia do Riso”, que há seis anos visita o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), asilos, orfanatos e hospitais psiquiátricos da cidade. 

A ideia de transformar momentos difíceis em alegres surgiu em 2006 quando o executivo Eduardo Stevanin, presidente do grupo, junto a 30 amigos, arrecadou 900 brinquedos, que foram doados a uma comunidade pobre da cidade. Ao final da ação intitulada “Natal Solidário”, todos se reuniram num jantar comemorativo. “Lá eu manifestei a vontade de fazer algo parecido ao ‘Doutores da Alegria’ e três amigos toparam de imediato. No início de 2007, demos início ao processo de autorização para visitar hospitais, mas até hoje realizamos a ação de Natal.”

PALHAÇOS – Todos os integrantes escolhem codinomes para suas personagens, como Stevanin, que vira o Dr. Minhoca e o advogado e vice-presidente do grupo, Vinícius Gamito, que se transforma no Dr. Abralhaço. Cada um tem uma especialidade, como contar histórias, ilusionismo, mímicas e músicas. Eles explicam que visitam cerca de 40 quartos de pacientes no pós-operatório no Hospital Regional, divididos em masculinos e femininos. “Eu entro antes para ver como está a situação e pedir autorização aos enfermeiros. Só depois entramos o grupo todo fazendo festa”, explica o presidente. 

No início, ele confessa que sentiu receio quanto ao que iria encontrar, afinal, os pacientes estão em recuperação e sentem dor, estão fragilizados e as ações do grupo dependem da recepção do público. “Trabalhamos bastante com improviso e espontaneidade. Nossa primeira apresentação foi numa entidade e na segunda fomos ao hospital, que foi espetacular!”. Ao longo desses anos, algumas situações marcaram a vida dos integrantes que lembram, por exemplo, os olhos azuis de uma senhora que, aos 74 anos, havia saído do coma na manhã de uma sexta-feira. Durante a visita, ela mexeu a cabeça afirmando que gostaria de ouvir uma música do Roberto Carlos. “Cantamos ‘Calhambeque’ e saímos do quarto. No dia seguinte, o filho dela nos ligou agradecendo, pois disse que o último sorriso da mãe foi conosco. Isso não tem preço”, declara Gamito. 

Outra situação foi quando entraram num quarto masculino e entre os pacientes havia um senhor usando uma touca com o símbolo do Corinthians e respirando com a ajuda de aparelhos. Durante a apresentação do grupo, um médico foi conversar com o filho do homem, informando que ele não havia resistido e precisava desligar o equipamento. “Quando observamos a situação, paramos com a música e começamos a sair”, conta Stevanin. A reação que não esperavam era de que o jovem pedisse que eles permanecessem no quarto e cantassem o hino do time de coração do senhor. “Havia apenas um corintiano entre nós, mas todos cantaram até o fim.” 

MOTIVAÇÃO – Mas o que leva o grupo a doar seu tempo a pessoas que não conhecem? Segundo eles, mesmo que o objetivo seja levar alegria e ver sorrisos estampados em rostos que antes podiam ter semblante de tristeza, quem ganha são os palhaços. “Vamos dispostos a doar energia e quando saímos da personagem, não temos nem força para andar direito. Ao final também oramos e quando saímos parece que estamos flutuando... Entro no carro e choro, sempre...”, relata Stevanin. 

A partir da segunda apresentação do Terapia, Gamito passou a integrar a equipe, convidado por um amigo que conhecia seu comportamento espontâneo e divertido. Na época, ele acabará de terminar um namoro e ainda estava abalado. Mesmo assim, resolveu arriscar na visita ao hospital. “Foi um choque a primeira vez, que eu travei. Depois comecei a me soltar e percebi que era uma bagunça organizada! Hoje é muito gratificante e descobri que vim ao mundo para fazer isso.” Após ouvir o relato entusiasmado do amigo, o presidente declarou que admira os jovens que integram a equipe, pois são responsáveis e têm um ideal. “Somos todos de universos diferentes e viramos amigos. Costumo dizer que são 12 guerreiros, anjos sem asas.” 

PARTICIPAR – O Terapia possui um espaço onde guarda brinquedos doados, roupas e fazem reuniões. Uma marca registrada é que sempre deixam um objeto com pacientes e pessoas que encontraram durante as visitas. Há algum tempo uma empresa doava bolinhas terapêuticas em formato de coração, o que, além de exercitar, também era uma lembrança. “Até hoje tem gente que nos encontra e fala que tem a bolinha”, afirma Stevanin. Atualmente recebem doação de pequenos palhaços feitos com material reciclável, mas gostariam de trabalhar simultaneamente com as bolinhas. Quem tiver interesse em participar das ações, pode entrar em contato pelo site www.grupoterapiadoriso.com.br ou página no Facebook, procurando por Grupo Terapia do Riso. 

As informações são do Jornal Diário de Sorocaba.

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