sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Conselho de Saúde diz que setor vive caos em Sorocaba


Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul



Hospital psiquiátrico também enfrenta problemas e até sugere intervenção do município, como ocorreu no Vera Cruz


Carlos Araújo 
carlos.araujo@jcruzeiro.com.br
 


Os conselheiros do Conselho Municipal de Saúde (CMS), órgão que tem poder deliberativo, traçaram um desenho de caos na saúde pública de Sorocaba. As manifestações foram feitas na noite de anteontem, no auditório do hospital do Gpaci, em reunião do CMS presidida pelo secretário municipal da Saúde, Armando Raggio. Os alvos das críticas foram as condições de atendimento na rede municipal de saúde, nos hospitais psiquiátricos, no Pronto Socorro da Santa Casa e no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), o maior hospital estadual da região. Entre os adjetivos usados pelos conselheiros na exposição dos problemas estavam as palavras "grave", "vergonha", "sucateado". Um deles sugeriu a necessidade de um "Plano B" para a saúde do município. Mais de 40 pessoas compareceram na reunião, todas representantes de hospitais públicos, particulares e das redes estadual e municipal de saúde. 

Quem recomendou um "Plano B" para a saúde foi o conselheiro representante dos usuários no CMS, Francisco Valério de Assis, o Gilson, que também é presidente da Associação de Amigos de Bairro do Jardim Hollyngsworth, Iporanga II e Adjacências. "Precisamos estruturar nosso centro de saúde", apelou Gilson, referindo-se à unidade básica de saúde do bairro de Aparecidinha. Segundo ele, pacientes procuram a unidade e demoram três meses para marcar uma consulta. Há mais de 600 fichas de consultas de oftalmologia e mais de 500 de endoscopia na fila de espera. "É ficha para todo lado, está difícil de resolver essa situação. Precisa de um Plano B para atender a população dignamente", protestou. "Pelo amor de Deus, onde nós chegamos? Nós estamos no fundo do poço e não sabemos ainda. Que melhore essa situação." Gilson também considerou "impossível" a necessidade de pacientes que procuram a Santa Casa terem que tirar ultrassom em outra unidade de saúde e depois precisarem voltar à Santa Casa para a continuidade do atendimento médico. 

Gilson deu voto de confiança para Raggio, mas disse que quando ele puder melhorar a situação da saúde terão se passado mais seis meses: "E o povo precisa de atendimento médico para ontem, para o ano passado. Já está tudo caótico a situação. Todo dia tem reclamação. Essa é minha indignação, minha tristeza. Eu sei que isso é um problema nacional, mas nós estamos falando de Sorocaba, que é aqui que nós vivemos." 

Hospital psiquiátrico 

Foi quando o diretor administrativo financeiro do Hospital Mental, David Haddad, pegou o microfone para anunciar: "Estou entregando o Hospital Mental para a Prefeitura também". No ano passado, a Prefeitura teve que assumir o controle de outro hospital psiquiátrico, o Vera Cruz. "Eu não estou suportando mais, vou ter que entregar o Mental. Segundo ele, o valor de remuneração de um paciente no Hospital Mental é de R$ 38,00 por mês, enquanto que no Vera Cruz, depois que a unidade passou a ser administrada pela Prefeitura, é de R$ 150,00. "Injusto", ele comparou. A efetivação da decisão de entregar o hospital vai depender de reunião que o diretor terá com Raggio na próxima terça-feira. 

O também conselheiro e presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde, Milton Carlos Sanches, foi quem pediu inversão de pauta da reunião para o debate sobre essas questões. Ele alertou para a perspectiva de outras notícias a curto prazo sobre complicações em outros hospitais psiquiátricos: "Quando a bomba estourar e nós não tivermos mais onde pôr os nossos pacientes em crise, vocês vão entender a nossa preocupação." 

CHS e alerta para crise
O presidente do Sindicato dos Médicos, Antonio Sérgio Ismael, apresentou um diagnóstico da rede municipal e do CHS: "E nós não temos leitos na cidade. Quem está na rede pública hoje, como eu, que trabalho na UPH, você não tem onde internar paciente. A Santa Casa está com a capacidade estourada, não tem mais jeito de ampliar." Ele afirmou que a situação do CHS "é muito grave": "Hoje tem menos médicos, menos leitos, menos equipamento funcionando do que quando fizeram aquela malfadada Operação Hipócrates: na verdade uma operação de hipócrita porque não chegaram a conclusão nenhuma, desmontaram o aparelho do Conjunto Hospitalar e hoje ele está uma sucata."

"E quando se fala nisso, a Secretaria (da Saúde do Estado) sempre vem com a história: não, nós vamos ter um novo hospital", continuou Ismael. "Quem tem, cuida. Se o governo não cuida do que é dele, vai construir outro (hospital) pra quê? "O Conjunto Hospitalar está com boa parte da sua capacidade sucateada. "A situação do conjunto é vergonhosa. Hoje é muito pior. E se houver uma crise, o que a gente faz?"

O aumento da ampliação da assistência médica nas unidades básicas de saúde, por conta do surto de dengue vivido pelo município, segundo Ismael, é outro motivo de preocupação: "Precisamos ampliar a assistência porque o surto de dengue está aumentando. Só que a gente não tem gente. Abrindo novas unidades, mas não tem médicos nas unidades básicas, nós vamos ampliar o horário com quem? Nós não temos enfermeira, não temos médicos nas UPHs hoje, não tem nem técnico de enfermagem em quantidade suficiente. Os laboratórios estão precaríssimos." Segundo ele, os laboratórios têm reclamado atraso de pagamento de serviços de raio X, laboratório e limpeza.

Ismael lembrou que Raggio vai apresentar um plano para estruturação da assistência médica no município, mas alertou: "Só que a curto prazo, para emergência da dengue, a gente corre o risco de ter um desastre de grande proporção na cidade. Porque nós não temos leitos nem para uso normal. Imagine para um surto epidêmico, que pode aumentar. Não temos médicos e profissionais, trabalhadores da saúde, em quantidade suficiente na rede municipal e muito menos na rede do Estado."

Uma conselheira perguntou: "Não pode o governo federal intervir no Regional (CHS)?" "Só se mandar a Força Nacional", disse Ismael.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde foi acionada às 18h de ontem para dar um posicionamento da Pasta sobre a situação do CHS, mas informou que não teria tempo para responder aos questionamentos de imediato.

Para secretário, saída é otimizar recursos

O secretário municipal da Saúde, Armando Raggio, disse ontem que a saúde em Sorocaba vai melhorar: "Vai, a gente tem que ter esperança, pode melhorar muito otimizando os recursos que a gente já gasta, mas também fazendo investimentos estratégicos." Como exemplo, disse que a Santa Casa sofre uma grande pressão da comunidade da zona leste porque não há uma Unidade Pré-Hospitalar (UPH) que seja capaz de conter a demanda de pacientes. Por isso, ele disse que a primeira iniciativa de obra do governo municipal na saúde será a construção da UPH da Zona Leste. Ele também disse que há forte expectativa da recuperação do CHS e aguarda visita ao hospital para conhecer os seus projetos.

Raggio disse que a rede municipal tem 600 médicos para duas UPHs, três Pronto Atendimentos e 31 unidades básicas de saúde. O que ocorre, segundo ele, é que uma parte dos médicos faz uma jornada mínima de 15 horas por semana. Mas podem fazer opção de 20, 25, 30 e 40 horas por semana. Para optarem por mais horas, têm expectativa de ganhar mais do que a hora médica de trabalho que ganham. Por esse motivo, segundo Raggio, a apreensão de Antonio Sérgio Ismael tem procedência porque muitos médicos não querem fazer jornada maior. Eles têm outras opções de trabalho e podem ganhar mais nos seus consultórios ou em outros estabelecimentos de saúde.

A curto prazo, segundo Raggio, o que se pode fazer é remunerar as horas a mais, além das jornada mínima, em horas extras. Para a situação crítica do surto da dengue, o médico que já faz as 15 horas e vai trabalhar três horas a mais numa unidade básica que teve o horário ampliado das 19h às 22h, vai ganhar as três horas adicionais como hora extra. Há recursos no orçamento do município, explicou Raggio.

O secretário disse que todos os conselheiros "se reportaram à realidade imanente, se não acontecendo no mesmo tempo, elas estão acontecendo no território obviamente de Sorocaba e da região". Ele afirmou que um Conselho Municipal de Saúde é exatamente órgão que deve repercutir as preocupações dos profissionais de saúde, dos trabalhadores, dos usuários e dos gestores.

Segundo Raggio, os hospitais psiquiátricos refletem uma situação provocada pelo Termo de Ajuste de Conduta (TAC) negociado entre órgãos de governo do município, do Estado e da União. São 7 hospitais psiquiátrico de Sorocaba, Salto de Pirapora e Piedade, que representam 2.500 pacientes que devem ser objeto de política de desospitalização. Raggio disse que as dificuldades desses hospitais são verdadeiras: "Eles têm uma limitação de remuneração dos serviços que presta, por valores que eles acusam aquém do que é necessário." Todos esses hospitais estão submetidos ao TAC, que prioriza a desospitalização e não sinaliza reajuste.

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