sexta-feira, 22 de março de 2013

Estrutura da Policlínica é incompatível com demanda


Sobrecarregada, unidade de saúde expõe problemas no atendimento ao público

Ana Paula Yabiku Gonçalves
ana.goncalves@jcruzeiro.com.br
programa de estágio

As reclamações de filas extensas, demora no atendimento e agendamento de consultas ou exames e ausência de profissionais já se tornaram constantes na Policlínica Municipal de Especialidades de Sorocaba "Dr. Edward Maluf". Estes e outros problemas, no entanto, são reflexo da reduzida estrutura física da unidade, que está cada dia mais sobrecarregada. O posto, segundo o seu diretor clínico, Oslan Teobaldo Ferreira, foi criado há 14 anos, quando Sorocaba contava com número de habitantes bem menor do que apresenta hoje. "A cidade cresceu e os problemas cresceram na mesma proporção. Por isso, a estrutura está insuportável", explica.

Hoje, a Policlínica atende aproximadamente mil pessoas por dia em 33 especialidades, além de desenvolver programas especiais, como para pacientes com asma, tuberculose, hanseníase, pré-natal de risco e planejamento familiar. Além disto, lembra Oslan, é preciso que haja contribuição da população. Muitos pacientes, conta ele, agendam consultas e não comparecem, enquanto outros preferem ir à Policlínica Municipal sempre que surge um problema a ser atendido nas UBS, apesar de serem mais próximas de suas residências. "O sorocabano quer permanecer aqui (na Policlínica). É um sistema errado e, muitas vezes, falho. Eu lamento, mas não temos como resolver a situação. Estamos fazendo o possível todos os dias, mas é um problema de gestão e investimentos", admite o diretor clínico.

Mesmo habituado às filas da Policlínica Municipal, um paciente idoso, que preferiu não ser identificado, não imaginava que a situação ficaria ainda pior no início desta semana. Enquanto aguardava pela consulta agendada com um médico urologista, foi surpreendido - o banco em que estava sentado se rompeu. Com a queda, ele acabou batendo a cabeça e precisou ser levado, com o auxílio de uma cadeira de rodas, para um consultório médico. Em seguida, foi examinado pelo urologista e por um neurologista. Apesar do idoso não ter sofrido nenhuma lesão grave, o acidente reflete os problemas, que motivam as constantes reclamações da população referentes à saúde pública da cidade.

Na fila de espera por um atendimento odontológico, a dona de casa Helena de Araújo, de 58 anos, também foi atingida pelo banco que veio ao chão nas primeiras horas de ontem. "Bateu na minha perna. Está doendo até agora", conta a sorocabana, mais de uma hora depois do ocorrido. Helena foi atendida por um ortopedista, que eliminou qualquer hipótese de lesão. "Mas eles não pediram nem um raio-x", reclama.

A situação também é desgastante para a diarista Mara Cristina Leite de Almeida, de 50 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) no dia 1º de janeiro deste ano. Na ocasião, Mara foi examinada por um médico, mas só conseguiu agendar uma nova consulta para o mês de agosto. "Enquanto isso ela está acamada em casa, com metade do corpo paralisado", conta o marido. Ele lembra, inclusive, que o auxílio-doença da esposa, garantido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), vencerá em maio e, em seguida, ela terá que voltar ao trabalho.
 
Descaso 
A situação foi flagrada pelos vereadores Izídio de Brito (PT), Pastor Apolo (PSB) e Fernando Dini (PMDB), membros da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Sorocaba, no momento em que realizavam uma vistoria ao local, sem aviso prévio. Lá conversaram com as pessoas que esperavam por atendimento médico ou pela realização de exames, ouvindo suas queixas e apresentando soluções à diretora técnica da Policlínica, Cristiane Andréa Rosa de Lima, que os acompanhou durante o percurso.

O episódio do banco que se quebrou é, segundo Izídio, reflexo do descaso, abandono e da falta de vontade dos funcionários. "Se eles viram que o banco estava quebrado ou balançando, era só ter a boa vontade de tomar alguma providência", acredita. O vereador aproveita para ressaltar que a situação só foi agilizada perante a presença da comissão e da imprensa sorocabana. "Encontramos muitas pessoas chorando e reclamando, mas só a nossa presença já os tranquilizou", complementa.

Também chamou a atenção da comissão tanto a demora nos atendimentos (urgentes ou não) quanto no agendamento de consultas. A solução, segundo Dini, seria criar uma maneira de gerenciar os atendimentos e regularizar o serviço público, para que houvesse uma ligação entre todas as unidades de saúde do município. "Assim eles saberiam aonde tem e aonde não há vaga para os doentes, pois encontramos lugares vazios e outros cheios durante as visitas", conta. Os vereadores já vistoriaram o Hospital Evangélico, a Santa Casa de Misericórdia, o Hospital Santa Lucinda, o Hospital Regional e as Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade. "Está havendo um descaso com relação à saúde em Sorocaba. Está um caos. É preciso haver mais humanização", continua.

A ausência de profissionais para suprir a demanda crescente na cidade é mais um dos problemas apontados por Apolo. "Para resolver o problema é preciso haver uma reorganização geral em toda a cidade", acredita. "Nós sabemos que existe profissional de qualidade e gente que quer trabalhar, mas falta estrutura", completa Dini. Estas e outras situações vivenciadas pela Comissão de Saúde durante as visitas ao serviço público de saúde serão repassadas ao prefeito de Sorocaba, Antônio Carlos Pannunzio (PSDB), por meio de um relatório, para que as medidas necessárias sejam adotadas o quanto antes. (Supervisão: Amilton Lourenço)
Todas as informações são do Jornal Cruzeiro do Sul.

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