domingo, 24 de fevereiro de 2013

Escola é mais propícia para a violência


 | PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA

Sorocaba

Os estudantes são, ao mesmo tempo, vítimas e algozes dos crimes em que se envolvem

Daniela Jacinto
daniela.jacinto@jcruzeiro.com.br

Para uma parcela dos sorocabanos, a escola é o local mais propício para a violência e, na opinião dessas pessoas, isso se deve ao sistema de proteção às crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e Adolescente - ECA e Conselhos Tutelares). Para os homens, os alunos são o grupo mais vulnerável do sistema educacional, já para as mulheres essa condição se aplica aos professores. Essa é uma das conclusões do primeiro resultado da pesquisa de opinião pública que teve início em Sorocaba no final do ano passado, através de parceria entre o Instituto São Paulo Contra a Violência (ISPCV) e a Universidade de Sorocaba (Uniso), por meio de seu curso de Relações Públicas.

O sistema de ensino recebeu muitas críticas. Para os entrevistados, o ECA e os Conselhos Tutelares dão muita liberdade para os estudantes desrespeitarem e ameaçarem os professores. Consequentemente, estabelece-se uma relação conflituosa entre mestres, diretores e Conselheiros Tutelares: os dois últimos pressionando e punindo os primeiros em casos de desavença com alunos. De acordo com os participantes do grupo dos homens, a responsabilidade de educar deve ser compartilhada entre a escola e a família, porém falta entrosamento entre mestres e pais, bem como uma melhor atuação do Conselho Tutelar. Os estudantes são ao mesmo tempo vítimas e promotores da violência: traficam entorpecentes livremente e são vitimados pelo bullying e pela pedofilia.

A pesquisa ainda revela que para esses sorocabanos a mídia é promotora da violência ao publicar notícias sensacionalistas, enfatizar e banalizar a criminalidade, incentivar o fumo e o consumo de bebidas alcoólicas e ao popularizar a imagem de que "bandido se dá bem". Na opinião dos homens, esse poder negativo da mídia afeta principalmente os jovens. Para as mulheres, deveria haver dois tipos de controle: um social (sobre o que se pode/deve veicular, que seria um tipo de censura) e outro individual (sobre aquilo que os filhos podem/devem assistir). Em outras palavras, na opinião das mulheres, tanto o Estado quanto a população têm responsabilidade sobre a questão da circulação da informação. Nos dois grupos, enfatizou-se a necessidade de haver mais veiculações positivas, ligadas à paz, tal como a continuidade das campanhas de paz, contra as drogas e as que despertam as pessoas para fazer o bem.

Tanto homens quanto mulheres destacaram que o crescimento desordenado e o boom imobiliário têm contribuído para o aumento da criminalidade em Sorocaba, cujo indicador é justamente a ampliação da segurança particular e dos condomínios fechados.

Os sorocabanos ainda destacaram a necessidade da participação da sociedade civil e do trabalho conjunto e articulado dos diversos setores (privado, público e não-governamental) para a prevenção e redução da violência e da criminalidade no município. Para homens e mulheres, a família e a educação são as bases essenciais para uma sociedade mais justa e pacífica.

Ainda na opinião dos participantes da pesquisa, falta atitude cidadã por parte do brasileiro. Para homens e mulheres, há uma insensibilidade das pessoas perante a violência que afeta o outro, como se a vida humana deixasse de ter valor.

Para as mulheres, violência é tudo aquilo que atinge a integridade de uma pessoa e, opinião unânime, esta começa dentro de casa. Também afirmaram que a violência verbal é tão danosa quanto a física - a primeira muitas vezes gerando a segunda. No grupo masculino, as causas da violência são definidas de maneira mais estreita, focalizada em dois grandes eixos. Primeiro, os fatores econômicos: violência como reflexo do crescimento da cidade. Segundo, questões político-institucionais tais como falência do sistema de segurança pública, impunidade, corrupção, permissividade e ineficiência das leis brasileiras, entre outros.

Conforme a professora Ana Cristina da Costa Piletti, coordenadora do curso de Relações Públicas da Uniso, responsável pela aplicação da pesquisa, quando perguntados sobre o medo que sentem no dia a dia, numa escala de 1 (nenhum medo) a 10 (medo extremo), na média das notas atribuídas por cada participante, homens e mulheres demonstraram ter o mesmo nível de medo (5,6 e 5,5, respectivamente). No grupo das mulheres, houve uma variação maior nas notas, com uma participante atribuindo a nota máxima, enquanto que entre os homens as notas foram mais homogêneas. Perguntados sobre quem tem mais medo (homens ou mulheres), na visão de ambos os grupos as mulheres tendem a ser mais vitimizadas e, portanto, a terem mais medo.


Como foi realizada a pesquisa


Os resultados divulgados nesta reportagem fazem parte da primeira etapa de uma pesquisa de opinião pública que fornecerá um mapa da percepção da violência e da criminalidade pela população de Sorocaba e subsidiará o desenvolvimento de projetos locais de segurança por parte do Instituto São Paulo Contra a Violência (ISPCV). Por meio da realização de dois grupos, um formado por 11 homens e outro por 11 mulheres, foi possível conhecer a percepção de homens e mulheres em relação à violência e à criminalidade na cidade. "Ainda que não se possam fazer generalizações, as narrativas fornecidas pelos participantes são termômetros para melhor entendermos as percepções e opiniões dos cidadãos em relação aos temas sugeridos", explica a professora Ana Cristina da Costa Piletti, coordenadora do curso de Relações Públicas da Uniso.

A próxima etapa do estudo é uma pesquisa quantitativa utilizando técnicas probabilísticas que vão verificar estatisticamente as informações obtidas nos grupos de discussão. A pesquisa será aplicada para uma amostra representativa da população de Sorocaba (400 pessoas) por meio de inquérito pessoal utilizando um questionário estruturado com perguntas fechadas, semifechadas e abertas. A aplicação dos questionários já está em andamento.

O Instituto São Paulo Contra a Violência (ISPCV) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) criada em novembro de 1997 responsável pela criação do Disque Denúncia 181 e vários eventos. A pesquisa em Sorocaba se desenvolve através da diretoria regional, criada para atuar na cidade. O responsável pela diretoria é o advogado Antonio Francisco Mascarenhas, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Centro e coordenador municipal da campanha São Paulo em Busca das Crianças e Adolescentes Desaparecidos. A ação tem como parceiros a Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), mantenedora do jornal Cruzeiro do Sul, e o curso de Relações Públicas da Universidade de Sorocaba (Uniso).
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

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