sexta-feira, 1 de março de 2013

2012, o ano em que o PIB do Brasil não aconteceu


Desempenho da economia no ano passado relembra o período pós-crise, de contração do PIB, em 2009. Analistas, contudo, estão longe de prever um 2013 de crescimento robusto, como foi em 2010, quando o país cresceu 7,5%

Ligia Tuon
Dilma Rousseff durante a cerimônia de assinatura do Compromisso Nacional para Melhoria das Condições de Trabalho na Indústria da Construção no Palácio do Planalto, em Brasília
Dilma Rousseff: Brasil cresceu em média 1,8% durante o governo da presidente (Ueslei Marcelino/Reuters )
O governo da presidente Dilma Rousseff pode ser estigmatizado por inúmeros acontecimentos políticos e econômicos que ocorreram nos últimos dois anos, como a faxina ministerial, o silêncio sobre o mensalão, a inflação alta, o intervencionismo e a truculência. Mas, talvez, nenhum desses feitos fique mais latente na memória da população do que o Produto Interno Bruto (PIB) quase estagnado – o famoso ‘pibinho’. O crescimento econômico médio da gestão Dilma até 2012 deve ficar em 1,8% - o pior resultado desde o governo Collor e o crescimento mais baixo desde a era Vargas, segundo dados da consultoria MB Associados.
Poucos cidadãos, inteirados ou não sobre economia, conhecem a fundo os detalhes das Contas Nacionais, que serão anunciadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dentro de algumas horas. Mas todos, certamente, engolirão a seco a sensação frustrante de viver em um país cujo PIB, nos últimos dois anos, insiste em não crescer – justamente no momento em que a crise mundial dá sinais de melhora.
A oferta em baixa, os investimentos no campo negativo e as dificuldades enfrentadas pela indústria devem fazer com que o Brasil apresente, em 2012, um dos piores resultados anuais do PIB desde 2009, quando o país ainda sofria os impactos imediatos da crise econômica mundial – que foi difundida a partir da crise imobiliária nos Estados Unidos. Apesar de as estimativas mais otimistas para o crescimento econômico no quarto trimestre de 2012 levarem a um resultado anual de 1%, ainda fica abaixo do que especialistas projetavam no começo do ano - algo em torno de 3% - muito aquém dos 4,5% esperados pelo governo à época.
Leia tambén: Dilma promove festa Trash na economiaCredibilidade da política fiscal brasileira está na UTI
Com reformas de Dilma, Brasil não é mais porto seguro


Sem investimentos - Um fator importante que explica a desaceleração da economia no ano passado é a taxa de investimento em queda. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador do IBGE que mede o nível de investimentos na atividade, recuou 4,2% no período, segundo estimativas - a primeira queda desde 2009, quando a taxa ficou negativa em 6,7%. “A partir do momento em que há uma estimativa de crescimento menor para a economia e nenhum sinal evidente de avanço na competitividade, as empresas acabam pisando no freio para desenvolver projetos”, analisa Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Entre os fatores que espantaram a ânsia de investimentos dos empresários no ano passado estão as medidas intervencionistas do governo, o protecionismo, os altos custos salariais – apesar de importantes desonerações estarem em curso -, e a falta de infraestrutura. O ‘Custo Brasil’ ainda não foi combatido e continua tirando a competitividade da indústria brasileira. “São muitos os fatores que justificam o fato de uma empresa pensar duas vezes antes de investir no Brasil”, diz Vale.

Indústria segue na berlinda – O setor industrial já teve anos melhores. A estimativa de especialistas é que, por trás de um PIB anual com alta de 1%, haja uma queda de 0,7% no resultado da indústria - o primeiro recuo também desde 2009, quando o desempenho ficou negativo em 5,6%. O excesso de estoques remanescentes de 2011 também são responsáveis, segundo especialistas, pelo desempenho industrial ruim de 2012. “Estimamos que a questão dos estoques deve ter roubado quase 1% do PIB de 2012”, afirma Bráulio Lima Borges, economista-chefe da área de macroeconomia da LCA. “Além de o consumidor colocar o pé no freio, o empresário comprou menos máquinas e o resto do mundo consumiu menos produtos brasileiros”, explica.
O PIB agropecuário tampouco ajudou na melhora econômica do ano passado. A estiagem que atingiu o Brasil, a Argentina e os Estados Unidos ao longo do ano dizimou plantações de soja, milho e trigo. Com isso, a estimativa é que o resultado do setor tenha retraído 1,5% em 2012. “Quando o PIB agropecuário cai, arrasta uma parte da indústria (especificamente a agroindústria - que esmaga e processa a soja), o que também tem impacto no consumo e nos investimentos”, explica Borges.

2013 pode ser diferente - Com o ano novo, as expectativas são renovadas – e, pela primeira vez no governo Dilma, o Palácio do Planalto prevê um crescimento relativamente em linha com o mercado – em torno de 3%. “Não é um salto grande, mas já podemos começar a falar em recuperação”, diz Vale, da MB Associados. As desonerações anunciadas, a redução da conta de luz das empresas e a retomada das privatizações devem trazer algum alento ao marasmo econômico. “Um bom termômetro para isso são as consultas que os empresários fazem ao BNDES para pegar empréstimos”, explica Borges, da LCA. Em 2010, o montante de consultas totalizava 255,9 bilhões de reais. Em 2011, o volume caiu para 195,2 bilhões de reais. Mas, em 2012, elas fecharam o ano em 312,3 bilhões de reais.

Devido ao desempenho ruim dos investimentos no ano passado, o governo começou a tentar estimular o setor de infraestrutura - que é um dos grandes motores do crescimento - apenas na segunda metade do ano, com a retomada das concessões, redução drástica do valor energia elétrica e desoneração de folha de pagamentos. A expectativa é que essas medidas tenham impacto positivo no PIB de 2013. “Considerando que, entre a consulta e o desembolso, há um prazo médio que vai de 6 a 9 meses, podemos esperar um aumento de 8% nos investimentos este ano”, prevê Borges.
Contudo, nem se a economia crescer os 3% esperados, a presidente perderá o título de "autora" do segundo pior resultado econômico dos últimos 60 anos entre os governos brasileiros. Dilma ocupa a posição com certa folga e terá de fazer mágica até 2014 - ano eleitoral - para conseguir reverter esse resultado. A corrida já começou.

Com Dilma, PIB tem segundo pior resultado dos últimos 60 anos

Desde os dois primeiros anos do segundo governo Vargas, em 1951, o único presidente que levou o PIB a patamares mais baixos do que Dilma foi Fernando Collor.
Obs. Os números são de crescimento do PIB e se referem à soma das porcentagens de crescimento dos dois primeiros anos de cada governo.

PIB em %Getúlio Jusceli... Médici Geisel Figueir... Sarney Collor  FHC Lula Dilma
Fonte: Ipeadata Elaboração e projeção: MB Associados
Fonte: Veja

Nenhum comentário:

Postar um comentário